Dezenas de acadêmicos de cursos da área de saúde da Faculdade Fasipe CPA estão denunciando a determinação de que façam estágio, em unidades de saúde da Prefeitura de Cuiabá, mesmo sob o risco de contaminação do novo coronavírus Covid-19. Antes individuais, as reclamações chegaram às redes sociais, em tom de denúncia, por causa da postura inflexível dos diretores Deivison Benedito Pinto, presidente do Grupo Fasipe, e Dalvinethe Matilde Campos Pinto, diretora da Fasipe CPA.

A instituição publicou o Plano de Contingência – Informativo 0001/2020 – dando conta da retomada das aulas presenciais no último dia 17 deste mês, para os Cursos de Psicologia, Biomedicina, Enfermagem, Fisioterapia, Nutrição e Odontologia. Todos são cursos vinculados à área de saúde. Para alguns, também houve ainda a retomada do estágio, notadamente em instituições de saúde da Prefeitura de Cuiabá.

Muitos alunos estão em pânico, em serem obrigados a estagiar, em áreas de amplo risco de contaminação pelo Covid-19.  No Informativo 001, os diretores asseguram que estão apenas cumprindo os decretos 7.890/2020  e 7.956/2020, baixado pelo prefeito  Emanuel Pinheiro (MDB), de Cuiabá.

Claramente em tom de desespero, um aluno que trabalha numa empresa de saúde diz que a Fasipe está colocando-os em risco.

“Quero pedir pelo amor de Deus para que a direção da faculdade ouça esses áudios. Não cabe à professora Juliana [D. R. Caobianco], que está se desdobrando para nos dar o melhor. Eu queria que alguém chegasse ao dono da faculdade para dizer: a gente está se arriscando! Eu trabalho na Help Vida e, de cada 100 atendimentos, pelo menos 90 é Covid-19. A Fasipe não   pode ignorar o medo dos alunos. Estou com receio de pegar em pessoas; receio de pegar pacientes! E a Fasipe está voltando à aula [presencial]  no pico da pandemia. Nenhuma instituição está abrindo: porque a Fsipe tem que abrir? Nós, como alunos, não podemos ser ignorados”, reclamou um dos alunos, em áudio que a reportagem do portal de notícias Cuiabano News teve acesso, com exclusividade.

Funcionária do Pronto Socorro de Cuiabá, referência no tratamento de Covid-19, a aluna tem opinião idêntica.  “A minha opinião é de que, neste exato momento, não era hora certa de voltar às aulas [presenciais]. Tantas coisas que estamos vendo… Trabalho num hospital referência e estou vendo a realidade. Estou trabalhando com pacientes graves, com medicações específicas. Temos até um colega, fisioterapeuta que está internado, entubado – pedimos a Deus que melhore! Eu penso que a gente sabe que cada um tem a sua vida. A vida não para e tem que continuar. Vamos ter que voltar com a faculdade e nos adaptar. Nessa hora; nesse momento não é hora de estar na sala de aula ou estar atendendo pessoas [em estágio]. Eu estou trabalhando dentro do hospital, somente porque é o meu ganha-pão”, observou uma acadêmica, em desabafo.

“Se eu tivesse a opção de não estar lá, eu não estaria. Não é fácil. Somente os profissionais que estão na labuta sabem o que estamos passando. Eu não tenho como virar as costas e dizer que não vou atender, no hospital de referência da Covid-19. Praticamente chegamos em nossas férias [escolares do meio do ano]. O que já foi perdido; se perdeu. Nós não somos obrigados a isso: atender pacientes agora. Nenhuma instituição está voltando. Prometeram repor em outro momento. Todo o mundo tem filhos ou mãe idosa, então, não tem necessidade ou desespero de voltar agora [ao estágio e aulas presenciais]. O semestre já foi perdido. A Fasipe é a única instituição que vai voltar. Eu não quero adoecer. Qualquer coisa que eu sinto já fico alarmada, pois a gente fica com isso na cabeça. Nós temos medo! E o exame não é barato. Custa 300 reais particular! E o SUS não oferece nem para mim, que estou trabalhando”, ponderou a mesma aluna.

Um outro acadêmico, em áudio, aponta que espaço físico destinado para o estágio dos acadêmicos da área de saúde da Fasipe CPA é bastante acanhado e não permite o distanciamento mínimo necessário. “Gente… A clínica onde faz o estágio é um espaço pequeno. Imaginem sete alunos, mais o professor e pacientes, num espaço reduzido. Não tem como ter o distanciamento social necessário”, reclamou outro acadêmico, que já está fazendo o estágio.

Os professores  Deivison Benedito Pinto, presidente do Grupo Fasipe, e Dalvinethe Matilde Campos Pinto não atenderam nem retornaram às ligações da reportagem do Cuiabano News.  Uma secretária, que não se  identificou, mandou o autor da reportagem a “ler com calma e atenção” tudo o que foi publicado no Informativo 001/2020 da Fasipe. Antes da produção da reportagem, tal medida já havia sido adotada pelos editores.

Clique aqui e leia a  íntegra do Informativo 001/2020.

Agora, abaixo ouça os áudios de alguns alunos: