Uma nova pesquisa arquitetônica indica que o Túmulo de Anfípolis, considerado como o maior monumento funerário da Grécia Antiga, foi deliberadamente construído de forma a se alinhar com a posição do Sol para criar efeitos dramáticos de iluminação. A estrutura teve a sua construção ordenada há 2.300 anos por Alexandre, o Grande, com o objetivo de guardar os restos mortais de Heféstio Amíntoro, um general que muitos acreditam ter sido melhor amigo ou até mesmo amante do imperador.
Em publicação no dia 15 de maio no periódico Nexus Network Journal, o investigador independente Demetrius Savvides demonstra por meio de modelagem 3D e software de simulação astronômica que a luz solar entra e se move através da tumba de maneira planejada. Ele percebeu que o foco da iluminação mudava conforme as estações do ano, atingido o ponto exato do sarcófago de Heféstio no solstício de inverno.
O especialista registrou que, a partir de julho, a luz começou a tocar a entrada da estrutura. Na sequência, por todo o outono, os feixes de sol passaram a gradualmente a se mover para perto de duas esfinges no meio até iluminar completamente a câmara funerária no solstício de inverno, no final de dezembro. Na ocasião, é apontado que a iluminação no sarcófago perdura das 10h até as 16h. Veja:
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Fenômeno de luz
De acordo com a revista La Bruja Verde, a tumba foi originalmente descoberta em 2012 e, três anos depois, os pesquisadores finalmente confirmaram que ela havia sido encomendada por Alexandre, o Grande. Desde o começo, o seu interior chamou atenção pela presença de um magnífico mosaico representando o mito do rapto da deusa Perséfone por Hades e algumas estátuas. Confira a animação do espaço no vídeo a seguir:
Já se imaginava que o monumento pudesse esconder alinhamentos astronômicos, mas ninguém havia confirmado isso até os estudos recentes de Savvides. No artigo, o autor afirma, inclusive, que essa característica de construção foi pensada após o início das obras.
Provavelmente, a orientação do túmulo precisou ser alterada para permitir a interação solar. A nova proposta, aprovada pelo imperador macedônico, aproveitou a iluminação variante para fazer uma alegoria simbólica ao renascimento – a luz que começa na porta e vai se aprofundando na câmara até chegar a Heféstio, em um ciclo anual ininterrupto.
Estrutura pensada para teatralidade
Além das luzes, Savvides acredita que as sombras também têm um papel importante na performance teatral do monumento. Pontos de escuridão específicos formados pelas mãos estendidas das cariátides (estátuas esculpidas como colunas de suporte) podem ter sido utilizados para criar, por exemplo, uma espécie de coroa simbólica sobre o sarcófago do falecido.
O autor ainda sugere que pode ter existido uma estátua no interior de uma das câmaras do túmulo, que hoje parece estar perdida. Ele baseia essa hipótese na presença de um espaço vazio no mosaico de Perséfone e no posicionamento das cariátides no entorno dessa lacuna. Outros monumentos da época, como o Templo de Apolo, em Bassai, tinham estátuas para marcar eventos solares importantes.
Por fim, o estudo explora uma possível ligação entre o monumento e rituais ou cultos a Cibele e Perséfone, divindades associadas à fertilidade e renascimento. “É altamente provável que rituais fossem realizados dentro ou nas proximidades do Monumento Kastas”, afirma Savvides, ao Live Science. “Principalmente no solstício de inverno, coincidia com festivais gregos que celebravam o retorno da luz”.
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Relacionamento de Alexandre e Heféstio
Embora alguns historiadores acreditem que a relação do imperador com o seu braço-direito era puramente de amizade, o portal Aventuras na História lembra que, na Antiguidade Clássica, era muito comum que jovens mantivessem relações homoafetivas. Isso era ainda mais recorrente no âmbito acadêmico e militar.
Alexandre e Heféstio se conheceram justamente quando ambos eram alunos do famoso filósofo Aristóteles. As hipóteses sobre a relação defendem que eles teriam começado a se envolver romântica e sexualmente ainda na juventude, em uma relação que teria perdurado por toda a ascensão do imperador.
Na idade adulta, os registros indicam que Heféstio atuou como general do exército macedônico e um diplomata de destaque. Além disso, ele serviu como guarda-costas pessoal de Alexandre e um de seus confidentes mais próximos até morrer em batalha na Babilônia em 323 a.C.
O rei ficou bastante abalado com a morte de seu companheiro. Ele ordenou a realização de um funeral majestoso para Heféstio e declarou luto oficial, tendo ainda ficado dias sem conseguir comer ou beber nada.
(Por Arthur Almeida)