Cuiabá tem enfrentado um abril completamente atípico neste ano, sendo o mês mais chuvoso da série histórica registrada pelo Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), iniciada em 1961. Até o dia 25, a capital mato-grossense já acumulava 305,6 mm de chuva, quase três vezes a média histórica do mês, que é de 112,8 mm.

Para entender o fenômeno, a reportagem procurou o professor de Climatologia do Departamento de Geografia da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), Rodrigo Marques. Segundo ele, o cenário atual é resultado da atuação mais intensa dos sistemas que favorecem a formação de chuvas e do atraso na instalação da Alta Subtropical do Atlântico Sul, sistema atmosférico que costuma marcar o início da estação seca na região.

“Esse sistema, um anticiclone que atua nos níveis médios da atmosfera, não se instalou ainda por aqui. Ele é responsável pela nossa estação seca pois inibe a formação de chuva, e geralmente se instala em abril por aqui, e por isso o mês de abril geralmente começa chuvoso e termina seco, o que não ocorreu este ano “, explica o climatologista.

Apesar de abril normalmente iniciar com algumas chuvas e encerrar com tempo seco, esse comportamento não se repetiu em 2025. Embora meses de abril chuvosos não sejam inéditos em Cuiabá — com registros superiores a 200 mm em anos como 1975 (231,2 mm), 1988 (228,4 mm) e 1996 (213 mm) —, nenhum deles chegou aos atuais 305,6 mm.

A condição também pode estar relacionada ao fenômeno La Niña, que esteve presente no início deste ano. “Em anos de La Niña, é comum termos chuvas dentro da normalidade ou acima do esperado, pois ela potencializa os sistemas que causam chuva”, pontua Marques.

Esse excesso de água fora de época pode trazer impactos tanto para a cidade quanto para o campo. “Os maiores riscos são os temporais intensos, com muita chuva em curto período de tempo. Isso pode provocar alagamentos, deslizamentos e prejudicar lavouras em fases críticas de desenvolvimento”, alerta.

Outro ponto importante destacado pelo professor é o possível reflexo das mudanças climáticas globais. “Temos observado uma maior frequência de chuvas intensas. Em abril, tivemos pelo menos quatro episódios com volumes diários superiores a 27 mm, sendo o mais intenso registrado em 8 de abril, com 92,9 mm. Outro fator é que entre 2019 e 2024 enfrentamos anos muito secos, com chuvas bem abaixo da média histórica, então, embora estejamos com um mês de abril bem chuvoso, os demais meses tivemos chuva dentro da normalidade no verão 2024/2025”, afirma.

A forte tempestade registrada no dia 8 de abril em Cuiabá provocou cerca de 40 ocorrências relacionadas a inundações e quedas de árvores em diversos bairros da capital. Também foram registrados alagamentos e estragos em diversos bairros da capital, como no Shopping Popular, onde empresários voltaram a perder parte da mercadoria.

Apesar do cenário atual, a tendência é que o tempo comece a se estabilizar nos próximos meses. “A estação seca deve se instalar entre maio e junho, como de costume”, finaliza o climatologista.

 

fonte: Olhar Direito