Jogadores do Mirassol comemoram gol contra o Vasco — Foto: Pedro Zacchi/Agência Mirassol

O time da pacata cidade de Mirassol, de 65 mil habitantes, chegou na Série A cercado de desconfiança. Virtual rebaixado na visão de muitos videntes da bola, o Leão caipira foi o estreante do Brasileirão 2025 com o lema “vivendo o sonho”. O sonho de disputar a elite? De não ser rebaixado?   A análise é de Arcílio Neto. Confira:

O dia 2 de dezembro de 2025 vai ficar marcado como o último grande passo de uma caminhada que nasceu para ser eterna. É, sem dúvidas, a história mais surpreendente da história dos pontos corridos.

O Mirassol garantiu a vaga direta na fase de grupos da Libertadores nessa terça-feira, após vencer o Vasco por 2 a 0, em São Januário. O feito foi conquistado com uma rodada de antecedência.

Este não era o sonho inicial, porque certamente pareceria um devaneio. Mas a surpresa virou realidade ao longo do campeonato. O técnico Rafael Guanaes costuma dizer à imprensa que viu, logo no início, que esse clube poderia ir além da simples permanência na divisão. Mas se imaginava que poderia vir uma Sul-Americana, no melhor dos cenários realistas para um caçula na elite.

Não são apenas os 66 pontos e a quarta posição que definem o tamanho do feito do time amarelo e verde. O Leão é uma das raras equipes do país que nunca oscilou. Jamais chegou a ficar mais de três jogos sem ganhar, e a performance foi a mesma em quase todas as partidas. Mesmo na derrota por 3 a 0 contra o Corinthians, ganhou elogios pelo volume de jogo.

O Mirassol é, sim, um clube com muita estrutura e com um centro de treinamento bastante moderno. Mas outros no país também têm isso, mas a maioria não consegue chegar perto do lugar que a equipe amarela alcançou.

O time do interior é um case a ser estudado e copiado. Mas, muito além da estrutura, o Mirassol é feito de homens que fizeram os trabalhos de suas vidas. O principal deles é Juninho Antunes, mentor e chefão de tudo. Ele é o arquiteto deste edifício que ainda não está terminado e que fica cada vez maior.

O vice-presidente e gestor se cercou de muita gente boa, que preza por um vestiário leve, unido e por jogadores com fome de bola. Desde veteranos a jovens promissores, o elenco deu liga sob o comando do melhor técnico do Brasileirão: Rafael Guanaes ficou famoso no país todo e virou quase uma unanimidade.

A coragem é ancorada por estratégias minuciosas e por um super cuidado com a mente, para nunca deixar a peteca cair. E ela não caiu em nenhuma das 37 rodadas.

Walter pensava em se aposentar no começo do ano. Deve terminar 2025 como o melhor goleiro do Brasileirão. Reinaldo é o quinto maior goleador do campeonato e vive, no auge dos seus 36 anos, a temporada mais artilheira da carreira, com 14 gols.

Lucas Ramon, Jemmes, João Victor, Danielzinho, Negueba e Alesson eram pouco conhecidos nacionalmente e, agora, se projetaram a terrenos, até então, inexplorados.

O banco de reservas também funcionou com jogadores como Daniel Borges, Gabriel Knesowitsch, José Aldo, Carlos Eduardo e Cristian.

É claro que o desafio para 2026 será ainda maior com um calendário mais apertado, com quatro competições (Paulistão, Copa do Brasil, Libertadores e Brasileirão). A expectativa gerada também cresceu, e o Mirassol não será mais tratado como surpresa.

O desafio é grande, mas o Leão caipira já provou que não se acanha em terrenos desconhecidos. O time amarelo e verde promete continuar espalhando sua coragem Brasil – e América – afora. Se o DNA do clube continuar perdurando, a colheita não vai secar. (GE)

Por Maciel Jr