Após quase dez anos de trabalhos de preservação no fundo do mar, pesquisadores recuperaram completamente o Mado 4, um navio cargueiro da era Joseon (1392–1910), de 600 anos, encontrado em Taean, na costa oeste da Coreia. A embarcação, datada do início do século 15 e considerada um dos achados mais importantes da história naval coreana, ajudará a entender como funcionava a complexa rede estatal de coleta e transporte de tributos há seis séculos.
Descoberto em 2015, o Mado 4 permaneceu submerso enquanto arqueólogos coletavam mais de 120 artefatos, entre eles etiquetas de madeira com informações de carregamento, recipientes de arroz e peças de porcelana destinadas ao governo. O conjunto confirma que o navio integrava o sistema de transporte oficial conhecido como joun, responsável por levar grãos e mercadorias de depósitos provinciais até Hanyang, a atual Seul.
Segundo o Instituto Nacional de Pesquisa do Patrimônio Marítimo, ao jornal The Korea Herald, anunciou a recuperação em outubro, a embarcação provavelmente afundou por volta de 1420, durante uma rota arriscada que partia de Naju, no sul do país. Correntes fortes e áreas rochosas da costa oeste podem ter contribuído para o naufrágio, preservando o casco sob camadas de areia por seis séculos.
Além do valor histórico, o navio traz revelações sobre a engenharia naval do período. O Mado 4 apresenta dois mastros, diferente dos modelos de mastro único predominantes até o momento e evidencia o primeiro uso conhecido de pregos de ferro em embarcações tradicionais coreanas, técnica antes considerada inexistente no país. Além de marcas dos reparos metálicos encontrados no casco, que indicam um avanço significativo na construção naval da era Joseon.
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Um mergulho no passado
A recuperação do Mado 4 veio acompanhada de outra descoberta promissora. Mergulhos e varreduras por sonar identificaram, nas proximidades do naufrágio, um segundo navio, desta vez acompanhado de peças de cerâmica celadon, datadas entre 1150 e 1175. Se confirmada, a embarcação será o naufrágio mais antigo já encontrado na Coreia, retrocedendo as evidências arqueológicas marítimas até o reino de Goryeo, que antecedeu a dinastia Joseon.
Fragmentos de celadon recuperados no local já foram apresentados ao público em Seul, e novas escavações estão previstas. O achado reforça a importância da região de Taean, que desde 2007, quando pescadores localizaram acidentalmente o naufrágio Mado 1, se tornou um dos maiores polos de pesquisa subaquática do Leste Asiático. Mais de dez embarcações foram identificadas na área, revelando um intenso corredor marítimo que, durante séculos, movimentou tributos, mercadorias e informações.
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Exposição e preservação
Enquanto passa por um longo processo de dessalinização e conservação, o Mado 4 já começa a ganhar o olhar do público. Uma exposição especial, O Navio da Nação que Navegou pelos Mares, está aberta no Museu Marítimo de Taean até fevereiro de 2026, reunindo os mais de 120 artefatos retirados do fundo do mar.
A iniciativa é liderada pelo Instituto Nacional de Pesquisa do Patrimônio Marítimo, ligado à Administração do Patrimônio Cultural da Coreia do Sul, que pretende transformar Taean em um centro de referência para o estudo da arqueologia marítima na Ásia.
(Por Carina Gonçalves)

