Descoberta da borda de um hum ornamentado — Foto: Instituto de Arqueologia da Academia Russa de Ciências

Sob as águas profundas do lago Issyk-Kul, no Quirguistão, uma equipe internacional de arqueólogos identificou novos vestígios de um antigo assentamento medieval que afundou por volta do século 15. A pesquisa foi realizada ao longo deste ano, e contou com profissionais do Instituto de Arqueologia da Academia Russa de Ciências e do Instituto B. Dzhamgerchinov de História, Arqueologia e Etnologia.

A primeira fase da expedição ocorreu em julho, dentro das celebrações pelos 200 anos do explorador P. P. Semenov-Tyan-Shansky. Nessa etapa, a equipe avaliou a eficácia prática de um sistema robótico subaquático composto pelo veículo Trioniks-6M e pelo sistema de posicionamento hidroacústico RWLT no lago.

Esse conjunto tecnológico, guiado por boias de geoposicionamento, permitiu o monitoramento contínuo do robô em tempo real, eliminando pontos cegos e garantindo até quatro horas de operação diária. O levantamento cobriu cerca de 20 mil m² e possibilitou o mapeamento preciso dos restos de uma estrutura medieval de tijolos contendo uma pedra de moinho.

Operando um drone subaquático a partir de um barco — Foto: Instituto de Arqueologia da Academia Russa de Ciências
Operando um drone subaquático a partir de um barco — Foto: Instituto de Arqueologia da Academia Russa de Ciências

Nesse processo, bases de árvores submersas também foram localizadas, e pontos de coleta de amostras foram marcados para pesquisas posteriores. Enquanto isso, outra equipe trabalhou na digitalização dos petróglifos localizados perto da vila de Ornok, na margem norte do lago.

Os pesquisadores produziram então um ortofotomapa, modelos fotogramétricos e um Sistema de Informação Geográfica para reunir todos os dados coletados. Segundo comunicado publicado recentemente pelo Instituto de Arqueologia da Academia Russa de Ciências, esse sistema poderá servir como base para futuras ações de conservação e para criar a primeira cópia digital integral do monumento na região.

Complexo medieval submerso de Toru-Aygyr

Petróglifos de Ornok — Foto: Instituto de Arqueologia da Academia Russa de Ciências
Petróglifos de Ornok — Foto: Instituto de Arqueologia da Academia Russa de Ciências

Entre setembro e o início de outubro, a expedição concentrou-se no complexo submerso de Toru-Aygyr, situado na parte noroeste do Lago Issyk-Kul. Esse sítio reúne os restos de uma grande aglomeração medieval que prosperou entre os séculos 10 e 13 e afundou no século 15, possivelmente após eventos tectônicos, mudanças ambientais ou variações no nível do lago.

No primeiro dos quatro sítios explorados em Toru-Aygyr, onde se concentram edifícios de tijolos cozidos, a equipe ampliou o modelo fotogramétrico do chamado Sítio 9. Durante os trabalhos, foi recuperado um elemento arquitetônico em tijolo considerado único, que aponta para a existência de um edifício público de destaque, possivelmente adornado com elementos decorativos.

Levantamento fotogramétrico de um objeto subaquático. Fotografia tirada de um quadricóptero — Foto: Instituto de Arqueologia da Academia Russa de Ciências
Levantamento fotogramétrico de um objeto subaquático. Fotografia tirada de um quadricóptero — Foto: Instituto de Arqueologia da Academia Russa de Ciências

O segundo sítio revelou uma descoberta de grande sensibilidade: uma necrópole muçulmana dos séculos 13 e 14, hoje fortemente erodida pelas águas do lago. As sepulturas, algumas expostas até o nível dos esqueletos, ocupam uma área estimada em 300 × 200 metros.

A orientação dos corpos, voltados para a cidade de Meca, confirma o rito funerário islâmico. Para evitar a destruição completa dos restos mortais, a equipe trouxe à superfície duas sepulturas, uma masculina e outra feminina, para estudos antropológicos detalhados.

Artefato encontrado no Lago Issyk-Kul — Foto: Instituto de Arqueologia da Academia Russa de Ciências
Artefato encontrado no Lago Issyk-Kul — Foto: Instituto de Arqueologia da Academia Russa de Ciências

O terceiro sítio revelou indícios de que o antigo assentamento havia se expandido para o sul. Ali, foram encontradas três sepulturas que podem ter pertencido a um cemitério mais antigo, posteriormente recoberto por novas estruturas do povoado, indicando uma mudança no uso do espaço ao longo dos séculos.

Por fim, o quarto sítio explorado, na porção oeste de Toru-Aygyr, é caracterizado por águas rasas, que possivelmente ajudaram a manter bem preservadas várias estruturas retangulares no fundo do lago. Nesse local, os arqueólogos realizaram perfurações subaquáticas para obter uma coluna estratigráfica. Amostras das paredes de adobe e do solo foram coletadas e deverão ajudar a reconstruir etapas de ocupação e técnicas construtivas da antiga cidade.

Elemento arquitetônico in situ — Foto: Instituto de Arqueologia da Academia Russa de Ciências

Elemento arquitetônico in situ — Foto: Instituto de Arqueologia da Academia Russa de Ciências

De acordo com os pesquisadores, as descobertas de 2025 reforçam a relevância de Toru-Aygyr como um dos mais importantes complexos arqueológicos submersos da Ásia Central. Para eles, cada nova temporada de escavações traz à luz fragmentos adicionais de um passado medieval que, embora soterrado e submerso há séculos, começa a ser reconstituído com precisão graças a tecnologias inovadoras.

(Por Arthur Almeida)