Um novo estudo publicado na revista Geodiversitas na última quinta-feira (6) revelou a descoberta de cinco espécies de moluscos de água doce inéditas, que viveram no Pleistoceno Inferior – um período da era Quaternária. Um dos exemplares analisados no estudo foi encontrado no interior da concha da própria mãe. Quem assina a descoberta, que aconteceu em um sítio arqueológico no norte de Taiwan, é uma equipe de pesquisadores da Universidade Nacional de Taiwan e da Academia Sinica, instituição de pesquisa do mesmo país.
A espécie de molusco que carrega uma concha juvenil preservada dentro da concha de sua mãe foi batizada Sinotaia quadrata. Trata-se da segunda evidência fóssil do tipo descoberta até hoje, segundo os pesquisadores.
A descoberta rara serve de base para estudos sobre a vida animal e sobre o passado geológico dessa região asiática. A presença do fóssil em Taiwan implica que existiu uma troca faunística – em terra – entre localidades da Ásia Oriental muito tempo antes do que registros antigos acreditavam. Esse achado também demonstra que algumas linhagens de caracóis de água doce se estabeleceram na região há mais de um milhão de anos.
De acordo com Chien-Hsiang Lin, pesquisador da Academia Sinica, tratam-se dos organismos fósseis de água doce mais antigos conhecidos em Taiwan. Outro fator positivo da descoberta dos fósseis é que ela traz à luz comportamentos dos vivíparos, do cuidado parental das espécies de moluscos pré-históricos e explicita antigas estratégias de reprodução.
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Devagar como uma lesma
Além das descobertas relacionadas à fauna e à arqueologia, os pesquisadores compararam os conjuntos fósseis encontrados em Taiwan com os registros de toda a Ásia Oriental e Japão. Neste processo, foi confirmado o papel crucial que o estreito de Taiwan teve como ponte terrestre durante os períodos de eras glaciais.
A ponte atuou como um corredor migratório para espécies de água doce. A sua função geográfica foi o que permitiu a dispersão e a evolução de diferentes espécies pelo continente asiático.
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Os fósseis fornecem uma base comparativa com os ecossistemas modernos de água doce, fortemente ameaçados pela destruição humana e pela presença de espécies invasoras. Para que isso fosse possível, as equipes reconstruíram a paleoecologia do norte de Taiwan com recursos de controle estratigráfico, análises morfológicas detalhadas e técnicas de taxonomia comparativa.
Em comunicado, Chia-Hsin Hsu, do Departamento de Geologia do Museu Nacional de Ciências Naturais de Taiwan, destacou a exclusividade da pesquisa. “Este estudo representa um avanço significativo na compreensão da paleontologia de água doce de Taiwan. Enquanto mais de 99% do registro fóssil de moluscos da ilha é marinho, nós documentamos o primeiro conjunto de água doce do Pleistoceno Inferior”.
Mesmo com a interligação entre áreas de estudo, o trabalho vai além das questões e discussões referentes à taxonomia e aborda os processos evolutivos e ambientais das espécies de moluscos de água doce de maneira ampla. A descoberta é uma contribuição que preenche lacunas referentes aos registros históricos do Quaternário em Taiwan e aprofunda a compreensão sobre como a biodiversidade se desenvolveu no Pacífico Ociental.
(Por Júlia Sardinha)

