Esqueletos SK 5 e SK 7 no poço SU 233/234 durante sua escavação — Foto: M. Novak et al.

Um antigo poço de água no leste da Croácia revelou um dos capítulos mais sombrios da história romana. Durante escavações arqueológicas em Osijek, onde outrora estava a cidade de Mursa, pesquisadores encontraram sete esqueletos de homens adultos, jogados sem cerimônia a cerca de três metros de profundidade. Análises do material indicam que eles eram soldados romanos mortos em combate.

Técnicas de arqueologia, antropologia física, análise isotópica, genética e estudo de traumas ósseos possibilitaram associar os achados à Batalha de Mursa, travada em 260 d.C., quando o Império Romano enfrentava um dos períodos mais turbulentos de sua existência. As observações renderam a publicação de um artigo na revista PLOS ONE nessa quarta-feira (15).

Esses esqueletos estavam completos, mas foram depositados em posições irregulares. Alguns encontravam-se de cabeça para baixo, outros sobrepostos, por exemplo. Era quase como se eles tivessem sido atirados às pressas logo após a morte. Veja galeria de fotos:

Ferimentos brutais e sinais de vida militar

A datação por radiocarbono e uma moeda encontrada entre os ossos — cunhada em 251 d.C. — situam o evento na segunda metade do século III, coincidindo com a Crise do Terceiro Século (235–284 d.C.). O período foi marcado por guerras civis, fragmentação política e invasões bárbaras que quase destruíram o Império Romano.

A análise antropológica revelou que todos os indivíduos eram homens adultos. Quatro deles jovens, entre 18 e 35 anos, e três de meia-idade, com 36 a 50 anos. Os esqueletos mostravam uma robustez física incomum, além de marcas de esforço repetitivo em membros e coluna, típicas de pessoas submetidas a intenso treinamento físico, como soldados.

Três dos sete apresentavam traumas evidentes. Um deles (identificado como SK 4) tinha um ferimento perfurante no esterno, possivelmente causado por uma lança ou flecha, além de um corte profundo no úmero e uma fratura dentária. Outro (SK 5) mostrava uma perfuração no quadril, compatível com um ataque pelas costas.

Essas lesões perimortem (isso é, infligidas pouco antes da morte) indicam combate corpo a corpo e violência deliberada. Além das feridas, todos exibiam sinais de infecção pulmonar ativa no momento da morte, identificados por camadas de novo osso formadas nas costelas. Segundo os pesquisadores, tais evidências apontam para possíveis quadros de doenças respiratórias, condições relativamente comuns em soldados que viviam sob condições severas de campanha.

Um exército multicultural

A análise genética trouxe uma revelação surpreendente: os indivíduos não tinham ligação com a população local da Idade do Ferro. Pelo contrário, exibiam origens diversas. Um tinha raízes do norte da Europa, outro da região do Mar Negro, um com traços do Mediterrâneo oriental e outro de ascendência centro-europeia.

Essa diversidade genética reflete a composição heterogênea dos exércitos romanos tardios, que incorporavam povos sármatas, gauleses, saxões e outros grupos estrangeiros. A revista La Brújula Verde destaca que essa multiplicidade é coerente com o recrutamento massivo e multicultural do Império, que dependia de soldados de fronteiras distantes para manter sua máquina militar em funcionamento.

Tanto a localização da vala comum quanto a cronologia dos achados coincidem com a Batalha de Mursa, travada entre o imperador Galiano e o general Ingênuo, um usurpador que tentou tomar o trono. Fontes antigas relatam que, após vencer o confronto, Galiano ordenou execuções sumárias contra os sobreviventes do exército rebelde. Dessa forma, os pesquisadores acreditam que os sete homens do poço de Osijek podem ter sido seguidores de Ingênuo, mortos e descartados após a derrota.

(Por Arthur Almeida)