Uma expedição nas profundezas do Oceano Pacífico, utilizando um veículo ocupado por humanos (HOV – Human-Occupied Vehicle), descobriu uma vasta “metrópole” submarina que redefine nossa compreensão sobre as fontes hidrotermais e seus ecossistemas.
Com 11,1 km² — uma área mais de cem vezes maior que a da famosa Cidade Perdida do Atlântico —o recém-descoberto campo hidrotermal é uma região do fundo do mar onde água quente, rica em minerais e gases, emerge criando ecossistemas únicos.
O local impressiona por sua escala e complexidade.Batizado de Campo Hidrotermal Kunlun por pesquisadores do Laboratório Laoshan e da Academia Chinesa de Ciências (CAS), o sistema está localizado a nordeste de Papua Nova Guiné, aproximadamente 80 quilômetros a oeste da Fossa de Mussau, em uma região tectonicamente ativa da Placa Caroline.
Essa descoberta, publicada na revista Science Advances, em 8 de agosto, não só supera em escala a Cidade Perdida, descoberta em 2000, mas também oferece um ambiente ainda mais propício para estudar como a vida biológica surgiu de matéria inorgânica.
Segundo o Instituto de Oceanologia da Academia Chinesa de Ciências (IOCAS), sistemas hidrotermais que produzem hidrogênio no oceano profundo são raros, porém essenciais para compreender os processos internos da Terra.
A equipe liderada pelo professor Sun Weidong, da IOCAS, identificou um sistema excepcionalmente rico em hidrogênio. O local apresenta 20 grandes depressões no fundo do mar, algumas com mais de um quilômetro de diâmetro, dispostas em um padrão que lembra um enxame de tubos. Investigações utilizando o submersível tripulado Fendouzhe revelaram que essas estruturas abrigam abundantes fluidos ricos em hidrogênio e extensas formações carbonáticas.
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Enquanto a Cidade Perdida é marcada por torres finas e irregulares, a paisagem de Kunlun é dominada por crateras gigantescas que podem se estender por centenas de metros de diâmetro e atingir mais de 100 metros de profundidade. Sua formação é um processo geológico violento e cíclico: a água do mar infiltra-se no manto terrestre, onde a interação com a rocha, chamada deserpentinização, libera calor e grandes quantidades de hidrogênio.
A pressão do gás acumulado provavelmente causa grandes explosões, criando as crateras iniciais. Com o tempo, os canais são selados por sedimentos de carbonato, até que o hidrogênio se acumula novamente e causa novas explosões menores. Essa dinâmica cria um ambiente estável e duradouro, considerado potencialmente mais adequado para a evolução da vida primitiva.
Além disso, o sistema hidrotermal Kunlun abre novas possibilidades para identificar recursos de hidrogênio inexplorados abaixo do fundo do oceano. A descoberta fornece um laboratório natural para investigar a ligação entre as emissões de hidrogênio e o surgimento da vida primitiva, já que fluidos alcalinos e ricos em hidrogênio, como os de Kunlun, são considerados semelhantes ao ambiente químico da Terra primitiva.
O fluxo anual estimado de hidrogênio do campo Kunlun é de aproximadamente 4,8 × 10¹¹ mol/ano, representando pelo menos 5% do fluxo global de hidrogênio abiótico de todas as fontes submarinas — uma contribuição notavelmente alta de um único sistema.
“O que é particularmente fascinante é o potencial ecológico”, disse Weidong, em comunicado. “Observamos uma vida marinha profunda diversificada prosperando neste ambiente, incluindo camarões, lagostas, anêmonas e vermes tubulares, espécies que podem depender da quimiossíntese impulsionada pelo hidrogênio.”
Os vídeos a seguir mostram o sistema hidrotermal recém-descoberto. Veja:
(Por Carina Gonçalves)