Uma equipe de cientistas russos anunciou esta semana uma descoberta impressionante no extremo norte do planeta: um grande cemitério composto por restos de baleias, escondido sob uma geleira antiga. O achado ocorreu por acaso, enquanto se investigava o rápido derretimento de gelo na Ilha Wilczek, que faz parte do arquipélago da Terra de Francisco José, na Rússia ártica.

A expedição científica APU-2025, conduzida a bordo do navio de pesquisa “Professor Molchanov”, é coordenada pelo Instituto de Pesquisa do Ártico e Antártico (AARI). Seu principal objetivo era estudar o permafrost e a dinâmica da criolitozona em regiões de alta latitude. No entanto, ao desembarcarem na região, os especialistas se depararam com sinais de um fenômeno geológico alarmante.

Vislumbre do passado

“Em menos de 20 anos, a calota de gelo da ilha parece ter se dividido em duas partes, expondo uma vasta área de vários quilômetros quadrados que antes estava coberta por gelo”, indica Nikita Demidov, engenheiro-chefe do AARI, em comunicado. “Foi nesse terraço marinho, emergido com o recuo da geleira, que encontramos um grande número de ossos de baleias, alguns deles bem preservados”.

Os esqueletos que estavam mais próximos da geleira apresentam melhor estado de conservação, pois foram mais recentemente expostos ao ar livre. Já os restos encontrados mais perto da costa sofreram maiores efeitos da erosão e do degelo ao longo do tempo. Veja imagens publicadas pelos especialistas:

Segundo os cientistas responsáveis, a descoberta aponta para um episódio de mudança extremamente rápida do nível do mar que teria ocorrido nos últimos milhares de anos, afetando profundamente a configuração do Ártico euroasiático. A presença de tantos restos de baleias em uma mesma área indica que o local pode ter sido uma zona de encalhe ou habitat marinho antes de ser coberto por gelo.

Como lembra a agência de notícias estatal russa TASS, a expedição, iniciada no dia 9 de julho, deve se estender até o início de agosto, com previsão de realizar diversos estudos geológicos e climáticos ao longo do seu percurso. Dessa forma, espera-se que mais detalhes do achado sejam identificados pela equipe no futuro próximo.

(Por Arthur Almeida)

Restos de baleias foram descobertos sob a área derretida de uma geleira na Rússia ártica — Foto: AARI