: Diego Felipe Rodrigues, cataloga as espécies de Coleópteros, doutorando em entomologia da UFGD (MS), sob orientação do professor Fernado Vaz na UFMT. - Foto por: Widson Ovando/Fapemat

Com um investimento de R$ 10 milhões, foi aprovado o Instituto Nacional de Coleoptera (INCol), projeto voltado à pesquisa científica sobre besouros, grupo que representa cerca de 40% das espécies de insetos e 25% das espécies de animais conhecidas no planeta. Essa iniciativa é financiada pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), e terá participação direta de pesquisadores e infraestrutura em Mato Grosso.

Estruturas de pesquisas desenvolvidas articuladamente, como  essa  entre o INCol, o CNPq e as Fundações de Amparo à  Pesquisa   reforçam   o modelo dos Institutos Nacionais de Ciência e Tecnologia (INCTs), que são estruturas de pesquisa em rede, com caráter inter e transdisciplinar, voltadas à solução de problemas nacionais por meio de metas claras e mensuráveis. Essa colaboração fortalece a capacidade científica regional, qualifica a formação de pesquisadores e amplia o uso estratégico da biodiversidade brasileira.

O principal objetivo do INCol é consolidar a geração de conhecimento sobre as espécies de besouros em três principais eixos, taxonomia, ecologia e conservação, e importância econômica. Esse último é especialmente relevante para o estado, que é líder nacional na produção de grãos e pecuária, setores diretamente afetados por diversas espécies de besouros.

“O investimento contínuo do Governo de Mato Grosso, por meio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Mato Grosso (Fapemat), no fomento às pesquisas desde o ensino fundamental, graduação, mestrado e doutorado tem gerado resultados concretos, como a participação de pesquisadores locais em um projeto internacional de grande porte. Para o presidente da fundação, Marcos de Sá Fernandes da Silva, a participação desses pesquisadores no INCol reforça a maturidade da ciência produzida no estado e destaca a importância da pesquisa em biodiversidade diante dos desafios econômicos e ambientais”.

“Em um estado que se destaca para culturas como soja, milho, algodão e a pecuária extensiva, ter conhecimento aprofundado sobre essas espécies de besouro é essencial para a sustentabilidade desses setores. Esses insetos atuam tanto como pragas, quando podem causar prejuízos expressivos às lavouras, quanto como agentes benéficos desempenhando funções ecológicas como controle natural de pragas, polinização, decomposição de matéria orgânica e manutenção da qualidade do solo. Hoje temos no Brasil mais de 30 mil espécies já catalogadas” ressalta o coordenador do projeto, professor doutor Fernando Z. Vaz-de-Mello, do Instituto de Biociências da UFMT, câmpus Cuiabá.

“O principal gargalo da agricultura tropical é a identificação precisa das espécies que afetam ou beneficiam as lavouras. Em muitos casos, o manejo é baseado em protocolos genéricos criados em outras regiões, com realidades ecológicas diferentes. Isso leva ao uso indiscriminado de insumos e ao enfraquecimento de processos naturais de controle”, afirmou Fernando. Ele cita como exemplo os besouros rola-bosta, que contribuem para a descompactação do solo e controle de parasitas em áreas de pastagem. O uso contínuo de antiparasitários, segundo ele, vem comprometendo essas funções ecológicas, com impactos diretos na produtividade.

O Instituto funcionará como uma rede especializada, com base técnica, curadoria de coleções científicas e servidores de dados integrados à Rede Nacional de Pesquisa (RNP), conectada ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI).

Além de Fernando, a equipe de coordenação do INCol conta com especialistas como Marcela Monné (Museu Nacional/UFRJ – vice-coordenação), Lúcia Massutti de Almeida (UFPR – taxonomia), Letícia Vieira (UFLA – ecologia e conservação) e Marina Frizzas (UnB – importância econômica). Ao todo, participam do projeto 78 pesquisadores de 50 instituições, incluindo universidades e centros de pesquisa de 17 estados brasileiros e de países como Alemanha, Austrália, Estados Unidos e Reino Unido, incluindo UFMT, IFMT, UNEMAT e UFR no estado de Mato Grosso.

Mato Grosso possui três tipos distintos de fronteira agrícola, a internacional (com a Bolívia), a de conversão de áreas naturais, e a de mosaicos fragmentados em pelo menos três biomas diferentes, o que impõe desafios adicionais à agricultura e amplia a necessidade de conhecimento local sobre a fauna associada aos cultivos. Segundo Fernando, o desconhecimento das espécies locais dificulta o desenvolvimento de estratégias de manejo sustentáveis e adequadas à realidade agroecológica do estado.

Embora o foco principal das pesquisas esteja voltado às espécies nativas da América do Sul e dos ecossistemas tropicais, a Coleção Entomológica de Mato Grosso Eurides Furtado, da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) reúne exemplares de besouros e borboletas provenientes de todo mundo. Essa abrangência global é resultado de colaborações científicas com museus e instituições de pesquisa internacionais, o que possibilita a troca de informações, a padronização de dados e o compartilhamento de espécimes de referência.

Em contextos de risco, como perda de acervos, desastres naturais ou descontinuidades de políticas institucionais, essa descentralização garante a preservação do conhecimento sobre espécies descritas e facilita o acesso de pesquisadores em diferentes países, evitando deslocamentos onerosos. A prática de dividir séries-tipo entre coleções internacionais assegura a continuidade dos estudos taxonômicos e amplia a acessibilidade científica, fortalecendo o papel do Brasil e de Mato Grosso como referência global na pesquisa sobre a biodiversidade dos coleópteros.

O INCol também prevê a criação de ferramentas tecnológicas aplicadas à agricultura, como uso de inteligência artificial para análise de grandes volumes de dados e desenvolvimento de novos grupos bioindicadores ambientais. Os dados e resultados gerados serão de acesso público, respeitando diretrizes éticas de autoria e compartilhamento.

Nos próximos meses, o instituto inicia sua fase operacional com editais internos e definição das diretrizes de atuação. O objetivo é transformar o conhecimento sobre coleópteros em soluções práticas para a sustentabilidade da agropecuária brasileira, com destaque para os três biomas presentes em Mato Grosso.

“É o governo de Mato Grosso investindo no aumento da eficiência agrícola para reduzir custos com pragas, promover a sustentabilidade e abrir novas oportunidades econômicas ligadas à biodiversidade e biotecnologia. Isso alinha-se tanto aos interesses do agronegócio quanto à conservação ambiental, dois pilares da economia mato-grossense”, acrescentou o Secretário de Estado de Ciência, Tecnologia e Inovação (Seciteci), professor doutor Allan Kardec.

“A UFMT se orgulha da aprovação do INCol e parabeniza o professor Fernando Zagury Vaz de Mello pela liderança da proposta. Ao se dedicar ao estudo dos besouros, que são fundamentais para a compreensão dos nossos ecossistemas, principalmente em um estado com as características de Mato Grosso, o INCol reúne todas as condições para se consolidar como um centro de referência internacional na área a partir do nosso estado. Com essa conquista, a UFMT reafirma seu protagonismo científico e seu compromisso com a ciência de excelência e com o desenvolvimento de Mato Grosso e do Brasil. Agradecemos à FAPEMAT pela parceria estratégica em torno deste projeto e pelo incentivo à participação dos nossos grupos de pesquisa em chamadas como as de criação de INCTs. Trabalharemos juntos para apoiar essa e outras propostas estratégicas para o avanço de Mato Grosso”, destacou Bruno Araújo, Pró-reitor de Pesquisa da UFMT