Minutos depois da apresentação de Carlo Ancelotti à seleção brasileira, o treinador concedeu sua primeira entrevista exclusiva no Brasil, exibida no Jornal Nacional nesta segunda-feira. Em um papo que abordou a personalidade tranquila do italiano e a sua carreira no futebol, Ancelotti elegeu Ronaldo como o mais talentoso brasileiro que treinou e disse que sonha comandar a Seleção no Maracanã.

Dois dos quatro últimos compromissos nas eliminatórias sul-americanas da Copa do Mundo de 2026 serão no Brasil. Se o primeiro será na Neo Química Arena, no dia 10 de junho, contra o Paraguai, o jogo contra o Chile, no início de setembro, ainda não tem local definido. Mas Ancelotti tem preferência para o estádio escolhido.

— Eu gostaria de jogar no Maracanã, obviamente. Também nunca fui ao Maracanã. Seria bonito. Creio que a Seleção do Brasil tem o carinho de todo o país. Isso é importante, que a Seleção possa jogar em lugares distintos, para se aproximar do povo — revelou Ancelotti.

Treinar jogadores brasileiros não será novidade para o técnico italiano. Ao longo de sua carreira vitoriosa, Ancelotti comandou 34 jogadores nascidos no Brasil. O técnico disse que só teve problema com um brasileiro, mas não revelou qual, e elegeu Ronaldo Fenômeno o melhor entre todos eles.

— O brasileiro tem um bom caráter na minha opinião. O jogador brasileiro, em geral, tem um nível técnico maior do que os outros. Do aspecto pessoal, é uma pessoa que tem um caráter tranquilo, humilde, a maioria. Treinei 34. Se penso em um problema com alguém, creio que não. Tive com um, mas não te digo (com quem) — riu Ancelotti, que completou:

— Ronaldo (foi o melhor tecnicamente). Era a pessoa mais divertida do mundo. O mais profissional foi Cafu. Mais divertido, são muitos… Militão, Vini. O Vini é muito humilde. Com todos tenho muito boa relação. Muitos me ligaram para parabenizar, desejar sorte. Tenho uma boa conexão com eles.

Além da experiência com jogadores brasileiros, Ancelotti acredita que o destino o uniu à seleção brasileira. A última partida da carreira do italiano como jogador foi em um amistoso contra o Brasil, quando defendia a camisa do Milan. A experiência em seleções, como assistente técnico da Itália em 1994, também teve participação marcante do Brasil, no ano do tetracampeonato.

— Eu creio nisso, no destino. Minha última partida foi contra o Brasil. Uma homenagem a mim. Voltamos a nos encontrar, uma lua de mel. Fui assistente técnico em 94, e perdemos para o Brasil. Foi uma experiencia fantástica. É um trabalho distinto, obviamente. É um sonho treinar esta Seleção. É o sonho de todos os treinadores.

O treinador, que ama cinema e literatura, já escreveu três livros sobre a carreira no futebol. Ele disse que mais um está a caminho.

— Escrevi três livros. “Eu prefiro a Copa”, que é autobiográfico, “Minha árvore de Natal”, que explico como o futebol mudou nos últimos 20 anos em relação à metodologia de trabalho e às questões táticas, e o “Liderança Tranquila”. Agora sairá um quarto, sobre as finais de Liga dos Campeões.

Ao ser perguntado se uma conquista da Copa do Mundo com a Seleção renderia mais um livro, Ancelotti não teve dúvidas ao responder.

— Sim. Sem dúvidas. E será um best-seller.

Carlo Ancelotti em entrevista após a primeira convocação na seleção brasileira — Foto: André Durão

Carlo Ancelotti em entrevista após a primeira convocação na seleção brasileira — Foto: André Durão

Ancelotti estreará à frente da seleção brasileira no próximo dia 5, em Guayaquil, contra o Equador, pelas eliminatórias sul-americanas da Copa do Mundo, às 20h (de Brasília). Cinco dias depois, às 21h45, o Brasil encara o Paraguai na Neo Química Arena.

Veja a entrevista completa de Carlo Ancelotti com os canais Globo

Como podemos te chamar: Carlinhos? Carleto? Carlos? Ancelotti?
— Não sei. Todos nomes são carinhosos. Todos me agradam.

Primeira vez no Rio, segunda vez no Brasil. Já sentiu o calor brasileiro?
— Sim, muito calor. Calor humano. Ontem (domingo), sobretudo. Fui uma vez a Fortaleza, para ver uma partida do Brasil contra o México, para ver três jogadores: Dida, Serginho e Amoroso. Naquele tempo, eu trabalhava para a Juventus. Depois daquela partida, falei para contratarem os três, mas eles não contrataram. Depois de três meses, fui para o Milan e disse: “Contratem Dida, Serginho e Amoroso”. E fecharam com Dida e Serginho.

Quais são suas maiores referências do Brasil?
— Eu conheço muito os jogadores, desde cedo, conhecia Falcão, Toninho Cerezo. O que eu gosto dos brasileiros é a alegria. Depois, também gosto do enorme talento e da qualidade deles.

E o que você vai fazer no tempo livre?
— Obviamente, quero conhecer o Rio de Janeiro. Quero ir ao Corcovado, à praia. Depois conhecer São Paulo, Belo Horizonte, Porto Alegre. Cerezo me falava de Belo Horizonte, de São Paulo me falava Kaká. De Porto Alegre me falava Falcão. Terei tempo para fazer. Vou morar aqui. Quero estar aqui para trabalhar aqui, conhecer a estrutura do futebol brasileiro e aproveitar o país.

Quem é o Carlo Ancelotti fora de campo?
— Muito tranquilo. Eu gosto da vida tranquila. Gosto de cinema, gosto dos amigos, da família. Minha vida fora do futebol é a mais tranquila possível. Uma vida natural. Não gosto de festa, às vezes sim, mas não sempre.

O que é uma “Liderança Tranquila”, título do seu livro?
— Há duas maneiras para convencer as pessoas. A persuasão ou a percussão (força). Eu tento convencer uma pessoa a convencendo de que a minha ideia é a correta. Posso também convencer uma pessoa com a percussão. Não é a mesma maneira. Quem me dizia isso era um treinador.

Jogadores que enfrentou na Itália
— O Zico marcou um gol no meu time. Eu marcava o Zico na partida. Era jovem. Era desesperador. Marcou o gol e perdemos a partida. Nas primeiras partidas dele na Udinese, fez seis gols de falta. Incrível. (GE)