Em El Salvador, país da América Central, foram encontrados cinco bonecos de cerâmica no topo de uma pirâmide datados de 2.400 anos atrás. Arqueólogos acreditam que os artefatos eram usados em rituais. O estudo feito sobre os objetos foi publicado nesta quarta-feira (5) no periódico especializado Antiquity.
Os bonecos representam a figura de quatro mulheres e um homem. Inicialmente, especialistas acreditavam que os artefatos eram usados em situações funerárias. Entretanto, essa teoria foi desclassificada, pois no local não foram encontrados restos humanos. Devido à localização das figuras no alto da pirâmide, acredita-se que os bonecos eram usados, na verdade, em rituais públicos.
Três das figuras são maiores e medem 30 centímetros de altura. A figura mediana tem 18 centímetros e a menor, 10 centímetros. Segundo os pesquisadores, os artefatos mais altos estão nus, não possuem cabelo e nem joias, porém, os dois menores foram representados com cabelos na testa e orelha.
Os artefatos maiores realmente parecem bonecas, pois possuem cabeças articuladas e bocas abertas — levantando à teoria de que seu uso era destinado a transmitir histórias em cenas de teatro ou mensagens em eventos místicos. No entanto, arqueólogos não sabem se as figuras representavam pessoas da vida real.
Expressões marcantes
“Uma das características mais marcantes dos bonecos é sua expressão facial dramática, que muda dependendo do ângulo de onde olhamos para eles”, disse Jan Szymański, autor principal do estudo da Universidade de Varsóvia, na Polônia, ao site Live Science.
Quando os bonecos são olhados por cima, parece que estão sorrindo, mas a expressão muda quando são vistos por baixo e parece que estão assustados. Já quando são olhados de frente, ao encontro dos olhos, as figuras parecem bravas. “Este é um design consciente, talvez destinado a aumentar a gama de performances rituais em que os bonecos poderiam ter sido usados”, afirma Szymański.
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No sítio arqueológico, também foram encontrados fragmentos de outras figuras, inclusive uma parte dessas estatuetas se encaixava no torso oco de um dos cinco bonecos. A equipe acredita que esses elementos juntos poderiam retratar e simbolizar a constituição de um nascimento.
Anteriormente, pesquisadores encontraram na Guatemala seis estatuetas quebradas que representavam mulheres, datadas de 350 a 100 a.C. No entanto, é a primeira vez que os arqueólogos encontram figuras que representam a figura masculina.
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Conforme os arqueólogos, as figuras encontradas remetem aos períodos Pré-Clássico (2000 a.C. a 200 d.C.) e Clássico (200 a 900 d.C.). Como os bonecos possuem o mesmo material e estilo dos artefatos encontrados na Guatemala, eles acreditam que as figuras representam uma conexão e tradição cultural entre as elites da América Central.
Muitas evidências arqueológicas foram perdidas devido à erupção do vulcão Ilopango, em El Salvador, por volta de 400 a 500 d.C. Com a destruição do local, “muito pouco se sabe sobre as identidades e afiliações etnolinguísticas dos criadores de assentamentos antigos que antecedem a chegada dos europeus no início do século 16”, relata Szymańsk.
Porém, a descoberta atual confirma a ligação cultural e comercial entre El Salvador com outras regiões da América Central. “Esta descoberta contradiz a noção predominante sobre o atraso cultural ou isolamento de El Salvador nos tempos antigos. Ela revela a existência de comunidades vibrantes e de longo alcance, capazes de trocar ideias com lugares notavelmente distantes”, finaliza o especialista.
(Por Tainá Rodrigues)