Este artigo é uma versão atualizada de outro que escrevi anteriormente sobre a sofrência da população cuiabana à espera do VLT que nunca chegou. A razão da sofrência agora mudou de nome e se chama BRT.
“Esperando Godot”, de Samuel Beckett, é uma das obras teatrais mais belas e conhecidas mundialmente. Tornou-se uma referência mundial de inovação da narrativa teatral, a ponto de criar uma nominação própria na dramaturgia, o chamado Teatro do Absurdo.
O enredo é relativamente simples: dois andarilhos aguardam indefinidamente, numa estação de trem, a chegada de um tal “Senhor Godot” que nunca aparece. Passam toda a duração da peça falando sobre Godot. A peça termina e o senhor Godot não chega.
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O VLT (Veículo Leve sobre Trilho), uma espécie de metrô de superfície, é o investimento público mais aguardado em Cuiabá desde 2009, quando a cidade foi escolhida para ser uma das sedes da Copa do Mundo de Futebol – FIFA 2014. A previsão era que entraria em operação no primeiro semestre de 2014.
O jornal A Gazeta está publicando uma série de excelentes e esclaredoras reportagens sobre a trajetória do BRT, que virou VLT em 2012 e voltou a ser BRT em 2022.
A narrativa do VLT é bem parecida com a do Senhor Godot, da peça de Beckett. A cidade espera, espera, se mobiliza, discute exaustivamente o tipo de transporte, mas este nunca chega.
O governo estadual , responsável pelo empreendimento, anunciou em 2022 que abandonaria o modal VLT, ignorando os gastos de mais de R$ 1 bilhão já desembolsados na empreitada. Em seu lugar vai construir o BRT ( Bus Rapid Transit ). Uma modalidade de transporte urbano que utiliza ônibus que trafegam em corredor exclusivo.
Em valores atualizados e considerados os custos financeiros do empréstimo tomado para execução do empreendimento, já foram gastos quase R$ 2 bilhões em obras civis, trilhos, aquisição dos vagões, locomotivas e outros componentes. Do empréstimo contratado pelo governo estadual, uma parte foi devolvida à Caixa Econômica Federal, devidamente acrescidos de juros e atualizações monetárias. A administração estadual afirma que os R$ 500 milhões necessários para implantação do BRT serão pagos com recursos próprios do tesouro estadual.
À época, para conclusão e funcionamento do VLT, uma das alternativas levantadas por especialistas em logística e modbilidade urbana, seria o estado passar à iniciativa privada, por meio de concessão onerosa, a conclusão das obras e sua operação por um período de 25 anos, renováveis por igual período. O processo seguiria a mesma modelagem dos leilões de concessões de rodovias, aeroportos, por meio da Bolsa de Valores de São Paulo ( B3 ), de forma transparente e atrairia empresas nacionais e internacionais especializadas na operação desse tipo de transporte de massas. Feitas as devidas adaptações, a solução poderia ser aplicada para conclusão e operação do BRT.
Assim, o estado concluiria o projeto sem a necessidade de aportar novos recursos públicos e entregaria às populações cuiabana e várzea-grandense um transporte público de boa qualidade. Para equalização das futuras tarifas às atuais, a administração estadual deveria ofertar benefícios fiscais no ICMS e os municípios de Cuiabá e Várzea Grande ofereceriam incentivo tributário do ISS cobrado sobre os serviços de transporte coletivo.
As reduções tributárias permitiriam à população trabalhadora usufruir da nova modalidade de transporte sem desembolsar mais do que já paga atualmente.
O que os cidadãos-contribuintes de Cuiabá e Várzea Grande mais desejam, a esta altura, é que o BRT não se torne uma história repaginada do VLT e continuem, como os dois ansiosos andarilhos da peça de Beckett, esperando o “Senhor Godot” que nunca chega.