Charles Darwin, biólogo conhecido como “pai” da Teoria da Evolução, era casado com sua própria prima de primeiro grau, Emma. O naturalista sabia que a relação genética com sua companheira poderia impactar no desenvolvimento dos seus filhos. E eram vários filhos, diga-se: ao todo, o casal gerou 10 descendentes, mas 3 morreram antes de completarem 11 anos de idade.
A questão da endogamia (casamento entre pessoas da mesma família) intrigava Darwin. Por isso, ele utilizava os filhos como instrumentos de pesquisa.
O projeto “Manuscritos de Darwin”, da biblioteca da Universidade de Cambridge, descreve como o evolucionista estimulamos seus filhos desde quando eram bebês, começando com seu primeiro filho, William Erasmus Darwin. Alison Pearn, pesquisador de Cambridge, revela que Darwin tinha o hábito de cutucar seus filhos, como se eles fossem macacos. Durante a produção do livro “A Origem das Espécies”, Darwin comparou o desenvolvimento dos seus filhos com o dos orangotangos, contribuindo com ideias para escrever sua outra obra “A descendência do Homem”.
Conforme cresciam, os filhos de Darwin se tornaram assistentes e aprendizes do próprio pai. “É realmente uma vida familiar invejável”, Pearn conta à BBC. “A ciência estava em todo lugar. Darwin simplesmente usava qualquer coisa que estivesse à mão, desde seus filhos até qualquer coisa em sua casa, as plantas na horta.”
O acervo do projeto “Manuscritos de Darwin” conta com desenhos feitos pelos filhos de Darwin. Vários rabiscos foram feitos, inclusive, nos cadernos do pai. O diretor do Projeto, David Kohn, afirma que não sabe ao certo quais filhos produziram as obras de arte.
No entanto, ele acredita que três descendentes provavelmente deixaram sua marca. “Francis, que se tornou botânico; George, que se tornou astrônomo e matemático; e Horace, que se tornou engenheiro”. Kohn afirma que as figuras são lúdicas, mostrando animais antropomórficos, representações militares e até mesmo uma “Batalha de Frutas e Vegetais”.
Você pode ver os desenhos dos filhos de Darwin na galeria de fotos abaixo:
Desenhos dos filhos de Charles Darwin
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Com imaginação fértil, as crianças produziram contos como “As Fadas da Montanha”, que retrata a história de Plytax e Short Shanks, em que as asas foram cortadas por serem consideradas ‘fadas travessas’. Segundo Kohn, os filhos de Darwin eram usados como voluntários em experimentos, “para coletar borboletas, insetos e mariposas, e para fazer observações sobre plantas nos campos ao redor da cidade”.
Desde cedo, os pequenos começaram a ter funções e assim, a filha de Darwin chamada Henrietta ocupava o cargo de editora, e ele confiava nela para ter “críticas profundas” e “correções de estilo”. Isso é que podemos chamar de “revisão por pares”.
O projeto de “Manuscritos de Darwin” pretende digitalizar e deixar acessível ao público cerca de 90 mil páginas da coleção do naturalista na Biblioteca da Universidade de Cambridge. “O escopo do que chamamos de biologia evolutiva, é definido nesses artigos. Ele tem o pé no século 20”, afirma Kohn. Se Darwin chegou onde chegou, certamente foi porque teve ajuda de mãos (bem) pequenas.
(Por Tainá Rodrigues)