Em um artigo publicado nesta quinta-feira (16) na revista Communications Earth & Environment, cientistas sugerem que o Homo erectus, uma das mais longevas espécies de hominídeo já conhecidas, conseguiu se adaptar a ambientes desérticos há pelo menos 1,2 milhão de anos.
Através de dados arqueológicos, os cientistas demonstraram como o H. erectus desenvolveu estratégias de sobrevivência, como retornar a fontes de água específicas e criar ferramentas adequadas para o ambiente.
Há um longo debate no campo da pesquisa sobre a capacidade dos hominídeos de desenvolverem habilidades adaptativas. Pesquisas anteriores atribuíram essa habilidade exclusivamente ao Homo sapiens, surgido há cerca de 300 mil anos, considerando-o o único capaz de se ajustar a ambientes com clima extremo e vegetação desafiadora, como o deserto.
Contudo, após a coleta de dados arqueológicos, geológicos e paleoclimáticos no sítio de Engaji Nanyori, na Tanzânia, cientistas conseguiram criar simulações do clima que existia na região entre 1,2 e 1 milhão de anos atrás.
As análises indicaram que o ambiente era predominantemente semidesértico, com vegetação típica desse tipo de clima. Com base nessas informações, aliadas às recentes descobertas arqueológicas, os pesquisadores sugerem que o Homo erectus também foi capaz de se adaptar a essas condições ao longo do tempo.
A investigação de ferramentas de pedra associadas ao H. erectus revelou a presença de raspadores e instrumentos denticulados, que, segundo os cientistas, provavelmente eram usados para aumentar a eficiência no corte e abate da carne. Além disso, foi observado que o Homo erectus sempre visitava áreas próximas a rios e córregos, utilizando fontes de água e outros pontos estratégicos ecologicamente.
“Agora extinto, o Homo erectus existiu por mais de 1,5 milhão de anos, o que o marca como um sucesso de sobrevivência da espécie na história da evolução humana, quando comparado com nossa própria existência estimada de cerca de 300 mil anos até o momento”, disse Michael Petraglia, diretor do Centro Australiano de Pesquisa para Evolução Humana, da Universidade Griffith, em comunicado.
O Homo erectus foi o primeiro hominídeo a deixar a África e os primeiros ancestrais a apresentar características físicas próximas às dos humanos. Agora, indica-se que eles também foram pioneiros na adaptação a ambientes extremos. Essa habilidade de se adaptar pode ter sido a chave para a expansão da espécie pela Ásia e sua sobrevivência ao longo de tantos milênios.
“Esse sucesso se deve à capacidade deles de sobreviver por um longo período marcado por muitas mudanças no ambiente e no clima”, observou Julio Mercader, professor da Universidade de Calgary, no Canadá, e autor principal do artigo.
(Por Redação Galileu)