A quetamina, medicação usada como tranquilizante para cavalos e anestésico cirúrgico em humanos, passou a ser investigada por seu papel no tratamento de depressão e ansiedade. Isso porque ela pode causar alterações a longo prazo em um circuito cerebral envolvido na desistência.
Um estudo científico publicado na revista Neuron deu quetamina para larvas de peixes-zebra e descobriu que uma dose da substância pode proporcionar semanas de alívio contra a depressão severa.
Os pequenos peixes são transparentes e permitem o monitoramento de toda a atividade cerebral. Em experimentos, eles foram submetidos a estímulos visuais que simulavam a falta de progresso ao nadar, o que provocava neles uma reação inicial de esforço, seguida pela desistência.
Após receberem quetamina, os peixes-zebra persistiram por mais tempo diante da adversidade.
Os resultados sugerem que o efeito da quetamina está relacionado aos astrócitos, células cerebrais em forma de estrela que desempenham um papel central no circuito de desistência.
“Algo acontece dentro dessas células que muda a resposta delas ao estresse”, explicou Misha Ahrens, pesquisador do Janelia Research Campus e autor do estudo, à rede de rádio NPR.
A quetamina inicialmente aumenta a atividade dos astrócitos por menos de uma hora. Porém, após esse pico, as células retornam a um estado normal e permanecem menos reativas ao estresse, mesmo quando os peixes são desafiados novamente.
A descoberta, que também foi observada em cérebros de camundongos, pode ajudar a desenvolver versões mais eficazes da quetamina e de outros antidepressivos.
“Se você entende como funciona, é muito mais fácil criar variantes mais eficazes do medicamento”, disse Ahrens.
Os pesquisadores ainda destacam o potencial do peixe-zebra como modelo para estudar a interação de fármacos psiquiátricos com o cérebro e avançar na busca por tratamentos menos invasivos e mais precisos.
(Por Redação Galileu)