Embora a Grande Mancha Vermelha seja uma característica constante, observada há séculos em Júpiter, astrônomos da Universidade da Califórnia (UC), nos Estados Unidos, descobriram duas manchas temporárias igualmente grandes nos polos norte e sul do planeta. Curiosamente, esses tornados, que possuem o tamanho da Terra, parecem se manifestar e sumir ao acaso.
De acordo com a equipe responsável, o fenômeno é visível apenas em comprimentos de onda ultravioleta, e costuma se manifestar logo abaixo das zonas aurorais brilhantes em cada polo – semelhantemente às auroras boreais e austrais da Terra. O achado foi descrito em um artigo publicado na terça-feira (26) na revista científica Nature Astronomy.
Uma vez que as manchas absorvem mais raios UV do que o resto da área ao seu redor, isso faz com que elas fiquem mais escuras em imagens capturadas pelo Telescópio Espacial Hubble da Nasa. A partir dessa diferenciação, os investigadores verificaram que, na comparação de fotografias de 1994 e 2022, a oval no polo sul tende a apresentar uma frequência de ocorrência de 48% a 53% — de quatro a seis vezes mais do que sua contraparte ao norte.
Estudo dos ovais
Os ovais UV escuros foram detectados pela primeira vez pelo Hubble no final da década de 1990 nos polos norte e sul e, posteriormente, no polo norte pela sonda Cassini, que voou por Júpiter em 2000. Mas, eles haviam atraído pouca atenção — até serem finalmente investigadas por um estudante de graduação da UC Berkeley, Troy Tsubota.
Com o apoio do Laboratório de Ciências Espaciais da universidade, Tsubota identificou que a causa para a formação dessas áreas de névoa densa poderia ser um vórtice criado quando as linhas do campo magnético do planeta sofrem atrito. Esse efeito ocorreria em dois locais muito distantes: na ionosfera, onde outros astrônomos já detectaram um movimento giratório, e na camada de plasma quente e ionizada ao redor do planeta derramada pela lua vulcânica Io.
Esse vórtice giraria mais rápido na ionosfera, enfraquecendo progressivamente à medida que atinge cada camada mais profunda. Como um tornado tocando o solo empoeirado, a extensão mais profunda do vórtice agita a atmosfera nebulosa para criar os pontos densos observados.
Não está claro, porém, se a mistura captura mais névoa de baixo ou gera névoa adicional. “A névoa nos ovais escuros é 50 vezes mais espessa do que a concentração típica”, explica Xi Zhang, coautor do projeto, em comunicado.
“Isso sugere que ela provavelmente se forma devido à dinâmica do vórtice giratório em vez de reações químicas desencadeadas por partículas de alta energia da atmosfera superior”, acrescenta o especialista. “Nossas observações mostraram que o momento e a localização dessas partículas energéticas não se correlacionam com a aparência dos ovais escuros.”
Segundo os pesquisadores, estudar a conexões entre as diferentes camadas atmosféricas é um passo muito importante para a análise de qualquer planeta, pois evidencia os seus processos conectados, ajudando a entender o planeta como um todo.
(Por Arthur Almeida)