Para a cuiabana Raika Coutinho, muito mais do que roupas bonitas, penteados impecáveis e acenos graciosos, o concurso de Miss Universo é sinônimo de representatividade. No auge dos seus 36 anos, ela viu o sonho de entrar em uma nova disputa ganhar forma e, hoje, ela concorre ao título pelo Canadá.

“Sempre sonhei, mas achei que meu sonho tinha acabado. Me inscrevi pela experiência, mas hoje, por causa da força que o Brasil tem me dado, que me deu coragem e confiança, acho que posso mesmo ganhar. Já me considero a vencedora”, comemora.

Entrar na disputa só foi possível pela mudança nas regras do concurso que, historicamente, requeria que as concorrentes fossem solteiras e tivessem entre 18 e 28 anos. A partir de 2024, mulheres casadas, mães, divorciadas e sem limite de idade puderam começar a competir.

“Foi uma mostra de avanço, com certeza. Antes a gente representava uma menina e hoje a gente representa mulheres. E mulheres vêm em todas as fases, formas e idades”, diz.

“É revolucionário, representativo e inclusivo. Antes não era. Hoje você vê várias mulheres negras ganhando o concurso, teve uma com síndrome de Down que ganhou nos Estados Unidos. Isso é lindo! Como miss não quero representar apenas uma fase, quero representar e ser a voz de todas”, afirma.

Raika hoje concilia a rotinha de preparação para o concurso com a vida de empresária, a frente de uma empresa de marketing que está no mercado desde 2011. Com uma rotina puxada de treinos, aulas e reuniões, o dia dela começa às 4h30.

“Está sendo um pouco mais difícil nessa fase porque estou me doando 100% ao concurso. Mas tenho uma equipe que trabalha comigo”.

Raika diz que a preparação conta com aulas de caminhada, oratória, maquiagem, moda… “Vemos um pouquinho de tudo”. No entanto, segundo ela, muito do que vê hoje já aprendeu nos concursos do Brasil. “O Brasil é um patamar mais elevado quando falamos em misses”.

De Cuiabá para o mundo

Raika nasceu na Capital mato-grossense e passou apenas os primeiros meses de vida aqui. Filha de pais evangélicos, a família veio para Cuiabá a serviço da igreja e depois se mudou para Minas Gerais, onde ela cresceu.

“Eu cresci numa cidade bem pequenininha, em Resplendor, e quando tinha os meus 20 anos resolvi sair de lá. A cidade era muito pequena para mim”, relembra.

Ela partiu rumo a Belo Horizonte, onde deu início à carreira da miss. “Fui introduzida a uma agência de modelos pelo esposo de uma prima”. O convite, para ela repentino, de participar do seu primeiro concurso veio logo de cara, assim que foi vista na agência.

O sonho de criança antes muito distante, de ser como as estonteantes mulheres das capas de revistas, estava diante de seus olhos. “Eu era quase que um menininho na época, andava de cavalo o dia inteiro, de skate, não sabia como andar, como me vestir”.

Raika aceitou o desafio e começou a ter aulas para o concurso. “Foi assim que começou o mundo Miss para mim e eu me encantei. Ali aprendi tudo, me ensinaram a andar, tive aulas de etiqueta”.

Ela começou a participar dos concursos em Minas Gerais e no Rio de Janeiro, a partir de 2011. “Depois do concurso no Rio, onde representei Copacabana, pensei que tudo tinha acabado. Comecei a trabalhar como modelo, me mudei para o Canadá, me casei”, recorda.

Assim que a notícias da mudança no regulamento veio à tona, a antiga equipe de Raika, que trabalhou com ela no Rio, a convidou a voltar e participar do concurso no Brasil.

“Mas pensei: eu moro aqui há dez anos, se eu tiver que realizar esse sonho vou fazer isso aqui no Canadá”.

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Raika Coutinho

Raika Coutinho tem rotina de preparação que começas às 4h30

Hoje Raika conta com o apoio, além de uma equipe do Miss Universo no Canadá, da equipe que trabalhou com ela no Rio. “Eles ainda acreditam no meu potencial, isso me dá forças, me dá orgulho de ser brasileira”.

“Fazem parte da minha equipe no Brasil o estilista Marcelo Ferraz , o coach internacional de passarela Matheus Alencar, a miss Rio 2017 Isabel Corrêa, o missologo e cabeleleiro Alexandre Gloria e o maquiador e também cabeleireiro Willam Xavier”.

Guinada de vida

A empresária se mudou para o Canadá em novembro de 2013, após viajar com visto de turista para estudar por três meses e aprender inglês. Ela se encantou com a gentileza dos canadenses e a qualidade de vida oferecida no País. “Me senti em casa”, recorda.

O desejo de aprender o novo idioma veio após conhecer um canadense que morava no Rio. “Namoramos por três anos e ele sempre falando em inglês. Eu quis aprender”. A sugestão para a viagem veio do parceiro.

“Hoje muita coisa mudou no Brasil, mas no Canadá as coisas já eram avançadas e inclusivas há anos. Eu ligava a TV e via afegãos donos de bancos, mulheres negras em cargos importantes na Política. Me apaixonei”, afirma.

Apesar da gentileza dos canadenses, Raika diz que o “calor humano” do Brasil é difícil de achar em outro lugar. “Eu morro de saudades e, há uns três anos, fiquei quase 12 meses no Rio, queria voltar a morar aí e cheguei a pegar a minha carteira de corretora”.

Mas foi justamente a qualidade de vida que quer para si que a fez reconsiderar da decisão.

“Pensei em ficar. Eu amo o Brasil, mas depois de quase um ano você ainda vê a diferença na qualidade de vida. No Rio eu tinha medo de sair de noite, coisa aqui fora a gente não tem. Eu saio a hora que eu quiser, com a bolsa e joias que eu quiser”.

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Raika Coutinho

Raika mora no Canadá há mais de 10 anos

Suas bandeiras

Entre as principais bandeiras de Raika está a saúde mental e casos de crianças que nascem com a fissura labiopalatina.

“A saúde mental é um tema muito importante pra mim. No Brasil, pouco antes de me mudar para o Canadá perdi a minha melhor amiga. Ela era modelo e tinha depressão; se jogou do 13° andar”.

“E também apoio uma ONG que trabalha com crianças que nascem com a fissura labiopalatina. No Brasil, a cada 750 crianças, uma nasce com essa fissura”.

Raika conta que um de seus sonhos é viajar o mundo e “ser a voz para outras pessoas”. Segundo ela, foi assim que a sua agência começou. “Entendi que no boca a boca você pode movimentar uma comunidade, mas no online você movimenta o mundo”.

Raika enfrenta outras 59 candidatas ao título de Miss Universo Canadá. O final da competição acontece no dia 27 de julho, no The Capital Theatre, que fica em Ontário. (Midianews)