A tragédia climática que assola o Rio Grande do Sul, com as enchentes e alagamentos, pode ter impactos no preço do arroz e esse aumento deve chegar em Mato Grosso em um curto prazo, segundo análise do economista Vivaldo Lopes. O especialista avalia que o alimento não deve faltar nas prateleiras, mas o atual cenário pode acender o alerta para que o Governo Federal volte a ter estoques reguladores de arroz e feijão, o que deixou de ser feito há mais de dez anos.
“Não deve faltar arroz, porque toda a safra do Rio Grande do Sul já foi colhida. O Estado produz 7,5 milhões de toneladas de arroz por ano e já colheu 6 milhões da safra. E o Governo [Federal] autorizou importar 1 milhão de toneladas. Então, o mercado deve ficar abastecido a médio prazo. Mas nesse momento, no curto prazo, deve ter um impacto, sim, no aumento do preço do arroz, porque mesmo a colheita já tendo sido feita no Sul, ela está em armazéns e não há estradas para que o produto chegue aos mercados. Há essa dificuldade logística de escoamento”, explica.
“No curto prazo, deve ter um impacto, sim, no aumento do preço do arroz, porque mesmo a colheita já tendo sido feita no Sul, ela está em armazéns e não há estradas para que o produto chegue aos mercados. Há essa dificuldade logística de escoamento”
Vivaldo Lopes
Nas últimas semanas, o estado gaúcho tem sido duramente afetado pelas chuvas, chegando ao ponto de colapso, com diversas cidades isoladas, mortes registradas, estradas, casas e escolas destruídas. Foram atingidos mais de 440 municípios. O Rio Grande do Sul é o maior produtor de arroz do país, sendo responsável por 70% da produção brasileira. Fora o problema de escoamento do que foi colhido, há lavouras que foram comprometidas e silos afetados com as cheias.
Esses impactos começaram a ser sentidos em Cuiabá, onde alguns mercados começaram a limitar a venda de arroz. Em uma rede atacadista, o máximo permitido é a compra de 30 kg por pessoa. Segundo a Associação de Supermercados de Mato Grosso (ASMAT), as limitações dependem da política interna das próprias empresas.
“Quando voltar a baixar a chuva e as rodovias passarem a ser a recuperadas, o mercado volta a ser abastecido. Ao mesmo tempo já vai chegar um milhão de toneladas que o Governo está importando”, pontua o economista.
O Procon Estadual, no entanto, salienta que não há motivo para alarde no momento e passou a monitorar os preços praticados pelos mercados, a fim de coibir aumentos injustificados de preços.
Importação de arroz
No último dia 10, o Governo Federal publicou uma medida provisória autorizando a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) a realizar a importação de até 1 milhão de toneladas de arroz, visando abastecer o estoque brasileiro e evitar oscilações no preço do alimento, que é um dos itens básicos e essencial na mesa do brasileiro. Para garantir que os preços não subam ainda mais, a ideia é subsidiar parte dessa compra.
No último sábado (11) foi autorizada a compra de 104 mil toneladas de arroz. Para isso, foram previstos R$ 416 mil.
“Quando o Governo importa, ele estoca justamente para não deixar faltar mercadoria e atuar como um equalizador de preço. Se o preço estiver subindo muito, ele solta mais arroz no mercado, justamente para evitar que o consumidor seja prejudicado”
Vivaldo Lopes
“O Governo está importando uma parte e autorizando a iniciativa privada a importar outra. O preço internacional do arroz não está afetado, pelo contrário, ele está com um preço baixo no mercado internacional. Então, essa importação não deve impactar no preço ao consumidor, até porque o Brasil consome 10,5 milhões de toneladas de arroz por ano e está importando apenas 1 milhão de toneladas, uma pequena parte em relação ao consumo total” afirma Vivaldo.
Segundo o economista, a variação do dólar e a desvalorização do real apenas impactaria se toda a aquisição do arroz ou sua maior parte fosse importada.
“Quando o Governo importa, ele estoca justamente para não deixar faltar mercadoria e atuar como um equalizador de preço. Se o preço estiver subindo muito, ele solta mais arroz no mercado, justamente para evitar que o consumidor seja prejudicado. Então, mesmo comprando em dólar, mesmo importando, isso não deve pressionar os preços do arroz na ponta final dos supermercados”, analisa.
A avaliação do especialista corrobora o que foi defendido pelo ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, que afirmou não existir risco de faltar arroz no Brasil e que a medida provisória visa evitar especulação de preços e recompor os estoques públicos do país. Inclusive, para segurar o preço do alimento, o grão importado será vendido no país por, no máximo, R$ 4 o quilo, segundo informado pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) na quarta (15).
O economista explica que a diferença da compra feita pelo Governo e pela iniciativa privada é justamente essa regulação.
“Quando o importador privado importa, ele quer vender rápido, então se o dólar estiver pressionado, ele vai entregar um preço maior mesmo. Já o Governo compra e guarda para atuar como um regulador de mercado. Mesmo se fosse depender, o dólar está estabilizado próximo dos R$ 5 há bastante tempo”, pontua Vivaldo.
Estoques reguladores
Conforme o especialista, o Governo Federal costumava a ter estoques reguladores na Conab, para situações como essas, como tragédias climáticas, enchentes, secas severas, quebra de safra severa e até geadas, como aconteciam anos atrás no Sul. No entanto, esses estoques reguladores deixaram de ser feitos há mais de uma década.
“O Governo já teve 2 milhões de toneladas de arroz guardadas e, ultimamente, não tem nada, estoque zero, por isso a necessidade de comprar. Provavelmente, o Governo vai comprar mais arroz e deixar estocado na Conab para deixar atuar em momentos como esses, em que há o aumento inesperado nos preços. O ideal é que o Governo tenha o estoque regulador de pelo menos quatro produtos que são muito importantes e vão direto para a mesa do consumidor: arroz, feijão, café e trigo”, pondera.
Vivaldo afirma que a situação enfrentada no Sul do país deve acender o alerta para que o Governo Federal entenda que é preciso retomar a política abandonada há mais de 10 anos e parar de deixar a solução nas mãos do mercado.
“Esse cenário acaba mostrando que o mercado não resolve tudo sozinho. Creio que essa tragédia vai alertar o Governo a voltar a ter esses estoques reguladores, que são muito importa.
(Rdnews)