Semanalmente nesta editoria o blog postará a biografia não autorizada de figuras mato-grossenses. O primeiro é Júlio Campos, cujo conteúdo será dividido em duas postagens sendo uma agora, e outra daqui a sete dias com o título Júlio Campos – Biografia não autorizada e Júlio Campos – Biografia não autorizada II.
A partir de maio, em razão das eleições municipais, serão postados perfis dos pré-candidatos a prefeito, vice-prefeito e vereador nos principais municípios. O objetivo é acrescentar informações ao internauta sobre os mesmos, uma vez que tradicionalmente o noticiário os apresenta somente por ângulos que os agradem.
Antes da primeira eleição
Mais que um convite, uma intimação. Júlio Campos desligou-se do projeto de colonização no Alto Rio Branco executado no município de Cáceres pela Companhia de Desenvolvimento de Mato Grosso (Codemat) no qual chefiava o setor de Colonização e Operações, e foi para Várzea Grande.
O trabalho na Codemat permitiu que Júlio Campos participasse da consolidação das vilas que seriam emancipadas para a criação dos municípios de Salto do Céu, Rio Branco, Lambari D’Oeste e Reserva do Cabaçal.
A intimação era do grupo político da Arena oriundo do PSD e liderado pelo pai de Júlio Campos, o empresário Júlio Domingos de Campos, o seo Fiote. Em 1972, solteiro, aos 24 anos, idade em que a maioria quer somente viver a vida, Júlio Campos recebeu a intimação para disputar e vencer a eleição para prefeito.
“Fiquei feliz. No meu subconsciente era aquilo que queria e isso sem falar que em minhas veias corre sangue político. Meu pai foi vereador e por duas vezes prefeito de Várzea Grande”, revelou-me certa vez numa entrevista.
Antes da intimação e logo após o mandato de presidente da Casa do Estudante de Mato Grosso, em Goiânia; e de sua formatura no curso de Engenharia Agronômica, em 1969, e da sua especialização em Cooperativismo, Economia Rural e Zootecnia, Júlio Campos foi secretário de Viação e Obras Públicas de Várzea Grande.
Com a criação da Universidade Federal (UFMT) pelo presidente Médici e o ministro da Educação, Jarbas Passarinho, em 10 de dezembro de 1970, Júlio Campos participou da turma de professores pioneiros do seu Centro de Ciências Agrárias; também ministrou aulas de Cooperativismo.
A eleição de Júlio Campos daria continuidade ao trabalho de seu pai e alegraria dona Amália Curvo de Campos, a matriarca, e seus irmãos Doralice, Circe Bernadete, Juracy Maria, Jayme, João Francisco, Ivete Maria, Benedito Paulo, Marilene Auxiliadora e Márcia Auxiliadora.
Júlio Campos filiou-se na Arena num ato que reuniu lideranças de Várzea Grande e Cuiabá. Disse que honraria seu pai e que não decepcionaria seus concidadãos. Destacou que o município, com 19 mil habitantes, precisava tornar-se uma metrópole. Júlio Campos sempre defendeu direitos iguais para mulheres e homens. Tanto que escolheu a Dra. Josefina da Cruz Coelho, advogada e bancária do Banco da Amazônia para sua vice.
Nas pegadas do pai
Ao lado de Josefina e nos braços do povo Júlio Campos a prefeitura. Era visível que Mato Grosso cresceria e que Cuiabá seria uma grande metrópole que contribuiria para o desenvolvimento de Várzea Grande. Por isso o prefeito preparou a cidade para a industrialização.
“Havia infraestrutura mínima e inclusive a distribuição de água estava em operação desde 1952, quando a administração de meu pai a construiu. Mesmo com pequena população nas duas margens do rio Cuiabá, o trânsito era intenso entre Várzea Grande e a capital. Junto ao governo federal consegui os recursos para a duplicar a avenida da FEB. Pavimentei ruas, investi na saúde, habitação e educação”, revelou na entrevista concedida em 2018.
O aumento populacional era vertiginoso, com famílias procedentes de outros municípios em busca de emprego no parque industrial que a cada dia se fortalecia e se diversificava. Os novos moradores procediam de Acorizal, Nossa Senhora do Livramento, Rosário Oeste, Nobres, Alto Paraguai, Nortelândia, Arenápolis, Nova Marilândia, Denise, Barra do Bugres, Porto Estrela, Chapada dos Guimarães, Jaciara, Barão de Melgaço, Santo Antônio de Leverger, Jangada e outros lugares, todos em busca de educação e emprego.
A administração de Júlio Campos buscava investidores para Várzea Grande e paralelamente a isso criava infraestrutura para o aumento da demanda por serviços públicos com a instalação das indústrias. A aposta do prefeito era a de que a industrialização mudaria o perfil várzea-grandense. Para difundir essa crença, na prefeitura ele popularizou o slogan de ‘Cidade Industrial’, que surgiu em 1966 quando da instalação da indústria de óleos vegetais Matoveg”.
Em 1975 a população de Várzea Grande saltou para 72 mil habitantes. Havia uma dualidade: enquanto no estado havia vazios demográficos, Várzea Grande crescia num ritmo alucinado. Com sua equipe e aliados o prefeito avaliou a metamorfose que aconteceria se a migração para a Amazônia e o Centro-Oeste incluísse Mato Grosso em seu roteiro e assim, pela primeira vez ele sonhou em ser governador.
O sábado 27 de dezembro de 1975 amanheceu chuvoso e com céu carrancudo. “Naquele dia não cumpri agenda administrativa. Meu pensamento estava no altar, ou melhor na noiva que escolhi para subirmos ao altar, onde dissemos ‘sim’, eu e ela, minha esposa Isabel Pinto Campos, professora universitária e que esteve ao meu lado até o triste sábado, 1º de dezembro de dezembro de 2012, quando perdeu para um câncer a luta pela vida”, recordou num pronunciamento que ouvi.
Júlio Campos e Isabel tiveram os filhos Laura Cristina, Consuelo Maria, Júlio Neto e Sílvia. Consuelo casou-se com Eduardo Vizotto e são pais de Eduardo Augusto e Luís Felipe. Júlio Neto é casado com Myrella e o casal tem quatro filhos: Júlio Campos Bisneto, José Davi, Salomão e Isabel Maria.
Em dezembro de 1976, quase ao término do mandato do prefeito, a população várzea-grandense era de 78 mil habitantes. Em 1977 Júlio Campos deixou a prefeitura e pegou a estrada em busca de mandato de deputado federal pela Arena, em 1978.
Divisão e a migração
A eleição para a Câmara em 1978 avaliou a administração de Júlio Campos na prefeitura. Com 39.814 votos ele foi o mais votado ao cargo naquele pleito, compondo a bancada governista na Câmara com Louremberg Nunes Rocha, Ladislau Cristino Cortes, Afro Stefanini, Milton Figueiredo e Bento Lobo (todos da Arena) e tendo Gilson de Barros e Carlos Bezerra na oposição (ambos do PMDB).
No ano de 1979, em Brasília, dois assuntos predominavam nos gabinetes, corredores e no cafezinho na Câmara: a migração sulista para a Amazônia e a divisão de Mato Grosso, que acabara de acontecer. A soma dessas duas situações preocupava Júlio Campos. “Acompanhando aquele cenário observei que a maioria dos sulistas que se mudava, tinha por destino o Norte de Goiás, Maranhão, Pará e Mato Grosso do Sul, com poucos optando por Mato Grosso”, narrou certa vez.
Júlio Campos procurava conversar com o presidente João Figueiredo, com ministros e com seus colegas parlamentares sulistas Nelson Marchezan, Alceu Collares, Esperidião Amin, Pedro Ivo Cândido e Euclides Scalco para entender melhor o que estava em curso.
Júlio Campos imaginava que não seria fácil deslocar parte da migração para Mato Grosso e isso despertava seu sentimento em defesa de nossa terra. O deputado federal compartilhava com sua companheira, amiga e esposa, a professora Isabel Campos, seus desejos, dúvidas e a vontade incontida de deslocar parte da migração para sua terra, o que fazia pulsar forte seu coração.
Mato Grosso tinha um governador honrado, honesto e competente: Frederico Campos. Tanto em Cuiabá quanto em Brasília Júlio Campos e ele conversavam sobre o amanhã. No governo do sucessor de Frederico Campos ou aconteceria o grande salto ou haveria o caos. Nesses diálogos, ampliados com outros companheiros, em 1981 o grupo governista decidiu que Júlio Campos deveria ser o candidato ao governo pelo PDS em 1982.
Em 1982 Mato Grosso sangrava com a divisão territorial e enquanto isso o Vale do Araguaia buscava sua emancipação. “Fui à Barra do Garças conversei com Wilmar Peres de Farias, ex-prefeito e de família pioneira no lugar. Voltei com Wilmar de vice na minha chapa. Essa dobradinha, a participação que dei a políticos daquela região no meu governo e as obras que ali realizei cristalizaram a territorialidade mato-grossense na Barra e seu polo de influência”, avaliou em recente pronunciamento na Assembleia ao apresentar um projeto de lei denominando de Centro de Convenções Governador Wilmar Peres, o centro de convenções em obra na cidade de Barra do Garças.
Uma encruzilhada para Mato Grosso
Em 1983 Mato Grosso foi empurrado para uma encruzilhada. Um dos caminhos levava ao continuísmo de sua estagnação. O outro apontava para além da linha do horizonte. Júlio Campos saiu da Câmara e entrou no Palácio Paiaguás onde encontrou os meios para abraçar a segunda opção.
Júlio Campos desenvolveu uma política de convencimento para atrair empresários e dotou Mato Grosso de boa infraestrutura. O convencimento não poderia ficar restrito ao discurso. Mato Grosso precisava de pavimentação, energia e até de cidades.
O governo de Júlio Campos ligou Cuiabá por asfalto com Canarana (via Barra do Garças), com Colíder (via Sinop e Sorriso), e com Cáceres e Comodoro; pavimentou de Rondonópolis a Primavera do Leste via Poxoréu e deu a esta rodovia o nome de Osvaldo Cândido Moreno; construiu milhares de casas, inclusive o CPA em Cuiabá; e abriu uma estrada ligando Tangará da Serra a Juína via Campo Novo do Parecis e Brasnorte.
Em Mato Grosso havia um vazio demográfico e poucas cidades. Junto com a bancada que o apoiava na Assembleia Júlio Campos planejou a emancipação de vários municípios para reforçar nossa fronteira e divisas, e assim criou Paranaíta, Guarantã do Norte, Peixoto de Azevedo, Vila Rica, Cocalinho, Araguaiana, Alto Taquari, Porto Esperidião e Comodoro; e geograficamente bem distribuídos nas regiões, emancipou Vera, Campinápolis, Porto Alegre do Norte, Sorriso, Figueirópolis D’Oeste, Itaúba, Indiavaí, Marcelândia, Nova Canaã do Norte, Nova Olímpia, Primavera do Leste, Novo Horizonte do Norte, Novo São Joaquim e Terra Nova do Norte.
À época a receita do Estado era pequena e não havia os fundos que ora irrigam os cofres públicos. Mesmo assim, o governo de Júlio Campos implantou linhões de energia; iniciou a construção do Hospital Central de Cuiabá e inaugurou o Hospital Universitário Júlio Müller.
Júlio Campos realizou um governo municipalista. Idealizou e doou o terreno para a construção da sede da Associação Mato-grossense dos Municípios (AMM). As prefeituras enfrentavam dificuldades ainda maiores. Atendendo pedido do prefeito Germano Zandoná, seu governo pavimentou a primeira avenida em Água Boa. Não havia uma comarca sequer no Nortão. O prefeito de Porto dos Gaúchos, Jair Duarte, solicitou e seu governo construiu o fórum e criou a infraestrutura para a instalação da primeira comarca naquela região.
Governador municipalista
Prefeitos e vereadores se juntaram ao governo pelo desenvolvimento mato-grossense e aquela união foi benéfica para todos, independentemente da questão partidária. Seu gabinete estava sempre aberto e transcorridos 40 anos preserva amizades com todos eles. Júlio Campos compartilhou obras com os prefeitos Jayme Campos, seu irmão (Várzea Grande), José Belmiro Simões (Ponte Branca), Juarez Santos (Dom Aquino), José Leite de Barros – Zezinho (Nortelândia), Nelson Orlato (Pedra Preta), Germano Luiz Zandoná (Água Boa), Carlos Gomes Bezerra (Rondonópolis), Severino Botelho de Melo (Alto Araguaia), Roberto Ferreira da Silva (Itiquira), Ana Maria Costa e Faria – Nana (Cáceres), Darcy Capistrano (Diamantino), João Guedes (Colíder), Edson Santos (Alta Floresta), Anildo Lima Barros (Cuiabá), Geraldo Verniano (Jaciara), Joemil José Balduíno Araújo (Rosário Oeste), José Barbosa de Moura – Dedé (Paranatinga), Luiz Gonzaga Nogueira Barbosa (Nobres), Silvino Moreira da Silva (Chapada dos Guimarães), José Geraldo Riva (Juara), José Pontim (São Félix do Araguaia), Lindberg Ribeiro Nunes Rocha (Poxoréu), Laudelina Rocha de Aquino (General Carneiro), Nelson de Souza Silva (Guiratinga), Cezalpino Mendes Teixeira Júnior – Pitucha (Alto Garças), José Idalberto Cunha (Aripuanã), Jair Pereira Duarte (Porto dos Gaúchos), Leandro Alves Feitosa (Tesouro), Antônio Porfírio de Brito (Tangará da Serra), Tito Profeta (Vila Bela da Santíssima Trindade), Ataíde Pereira Leite (Mirassol D’Oeste), Alinor Luiz da Silva (Arenápolis), Justino Vicente Falcão da Silva (Poconé), José Gonçalves Filho – Zinho (Jauru), Nereu Botelho de Campos (Nossa Senhora do Livramento), Eduardo Gomes da Silva (Alto Paraguai), Orlando Pereira (Juína), Delci Garcia dos Santos (Araputanga), David José de Souza (Araguainha), Durvalino Peruchi (São José dos Quaro Marcos), Geraldino dal Maso (Sinop), Dionir de Freitas Queiroz (Pontes e Lacerda), Antônio Tadeu Martin Escame (Santa Terezinha), Lincoln Saggin (Torixoréu), Edson Gonçalves (Santo Antônio de Leverger)¸ José Frederico Fernandes (Nova Xavantina), Francisco de Assis dos Santos (Canarana), Natalino Piovezan (Acorizal), Carolino Gomes dos Santos (Barra do Garças), Ataídes Barbosa da Silveira (Salto do Céu), Agostinho Sansão (Barra do Bugres), José Liton Luz (Luciara), Carlos Breno Pereira Hellebrandt(Rio Branco), Antônio de Lima (Nova Brasilândia), João Elizeu de Lima (Denise) e Francisco de Borja Santos (Barão de Melgaço)
PS – Aguardem o segundo e último capítulo da biografia não autorizada de Júlio Campos
(Eduardo Gomes /@andradeeduardogomes)