Os palmeirenses que foram ao Allianz Parque assistir à vitória de virada por 3 a 1 sobre o Liverpool, do Uruguai, sentem já ter um clima de despedida para Endrick, que em julho se apresenta no Real Madrid. Mas na noite de quinta viram mais uma joia começar a ganhar espaço: Estêvão.
Nome badalado na base alviverde desde que saiu do Cruzeiro para o Verdão aos 14 anos, ainda como Messinho, ele deixou o apelido de lado e impressionou internamente logo que chegou. Na partida da Libertadores, foi o destaque, fez seu primeiro gol como profissional e entrou para a história como o segundo mais jovem a marcar pelo clube na competição.
Um dos líderes da geração de R$ 1 bilhão dos garotos revelados pelo Palmeiras, junto de Endrick e Luis Guilherme, Estêvão é o mais novo dos três. E fez sua estreia na Libertadores logo como titular na última noite, aos 16 anos, 11 meses e 17 dias.
Desde que a escalação foi divulgada, com ele e Luis Guilherme entre os titulares, a curiosidade da torcida só cresceu, pois há o desejo de vê-los ganhar mais espaço no elenco de Abel Ferreira.
Minutos antes de a bola rolar, Estêvão se posicionou como ponta direita e ouviu Marcos Rocha e Raphael Veiga, que se aproximaram para dar orientações ao garoto.
– O Estêvão é novo, mas de capacidade incrível, um dos melhores meninos da base que já vi – relatou Veiga.
Junto do elogio, o camisa 23 fez a ressalva de se ter cuidado ao exaltar demais um jovem que está começando sua trajetória como profissional, pois ele também lidará com momentos ruins.
O trabalho dos mais experientes no vestiário tem sido de passar confiança aos jovens e que já são comentados até na Europa, como Estêvão.
– Ele merece este momento, é um bom menino e nós mais velhos só tentamos passar confiança, porque ele tem tudo, tem talento natural para ir melhorando dia a dia – reforçou Gustavo Gómez.
O gol marcado aos dois minutos pelo Liverpool criou um cenário adverso no Allianz Parque, e foram os jogadores mais rodados que mostraram mais dificuldade. Estêvão, por outro lado, não se escondeu.
Bem aberto pelo lado direito, o camisa 41 aliava jogadas de velocidade com dribles, sempre em busca do ataque. Quando o jogo do Palmeiras não encaixava, era ele quem mais arrancava aplausos dos 28 mil torcedores na arena alviverde.
Já na segunda etapa, com o Verdão à frente no placar, Estêvão emendou três jogadas de perigo em sequência. Isto fez a torcida no Gol Sul, onde o time da casa estava atacando, gritar o nome do garoto.
A festa se tornou do estádio inteiro no minuto seguinte, quando ele fez, de cabeça, o terceiro do Palmeiras aos 20 minutos de jogo e o seu primeiro gol como profissional. Saiu de braços abertos e largo sorriso em direção a Richard Ríos. Endrick ainda correu do banco para comemorar com o amigo.
Logo após o gol, Abel Ferreira decidiu substitui-lo por Mayke. Mais uma vez, o Allianz Parque inteiro aplaudiu o menino, que recebeu um abraço do treinador antes de ir para o banco.
Normalmente, o português não costuma se aproximar dos jogadores ao fazer as substituições, para respeitar o espaço deles. Mas fez questão de ir até Estêvão após a exibição de quarta.
– Quero agradecer. Abel falou antes do jogo para pensar como centroavante, entrei na área acreditei na bola e pude ser muito feliz – resumiu o jovem, escolhido para dar entrevista coletiva ao lado do treinador.
– Desde que cheguei ao profissional, sempre me aconselharam, Abel, a comissão, os jogadores, foi difícil no começo, pude me adaptar aos treinos, dar meu máximo e fui desenvolvendo meu futebol. Pude jogar como titular, agarrei a oportunidade, pude ser feliz no gol e só agradecer por ter saído com a vitória – completou.
Visto como um dos jogadores mais talentosos que já passaram pelas categorias de base do Palmeiras, Estêvão sabe o que um garoto pode atingir no clube ao dividir a trajetória com Endrick desde o sub-17.
E ele deu a primeira demonstração de que pode ser a próxima joia a brilhar com a ida do camisa 9 para a Espanha, no segundo semestre.
– O Palmeiras proporciona tudo para a gente que sobe da base, nos agrega bastante a crescer. Claro que ele (Endrick) vai fazer falta e a gente vai tentar recompor, o Palmeiras tem excelentes peças como o time inteiro e que a gente venha a crescer cada vez mais – completou.
Dias contados no Verdão?
Como faz com suas principais revelações, o Palmeiras assinou com Estêvão no dia em que ele completou 16 anos, em 24 de abril do ano passado. O vínculo tem duração de três anos, até abril de 2026, e multa rescisória de 45 milhões de euros (R$ 245,6 milhões).
Já monitorado por clubes da Europa e a imprensa europeia, também, o meia-atacante tem tudo para seguir futuro parecido com o de Endrick e se despedir ao completar 18 anos, idade mínima para mudar de país.
O Paris Saint-Germain, da França, e o Chelsea, da Inglaterra, já fizeram contatos com o Palmeiras em busca de um acordo, mas não conseguiram fechar a negociação.
Dono de 70% dos direitos econômicos de Estêvão, o Verdão entende que ainda não chegou uma proposta como foi a do Real Madrid por Endrick.
Abel Ferreira, por sua vez, aproveitou a vitória para pedir a permanência do garoto por mais do que o período até fazer 18 anos.
–Espero que não sejas vendido e fiques aqui conosco. Fico feliz que fizeste um bom jogo, mas do mesmo modo dizia em que dizia: “calma, que tudo acontece no tempo de Deus”. Fico feliz porque merece, fruto do trabalho dele também – disse.
– Parabéns aos pais dele, que certamente são bons pais, porque é um bom moleque. Luis (Guilherme), Estêvão, Endrick, são meninos de bom coração. Eu como treinador e formador e vocês como jornalistas acredito que em cinco, seis anos as coisas podem ser muito boas, não para mim, para o Brasil – concluiu. (GE)