Da famosa “Moreninha do CPA” até a ida à “Guia comer cabeça de boi”. Canções conhecidas da cultura mato-grossense exaltam belezas, culária, locais e costumes da capital mais calorosa do Brasil, Cuiabá, que completa 305 anos nesta segunda-feira (8). Em sua grande maioria, entoadas no gênero musical mato-grossense rasqueado, as músicas retratam vivências de um povo hospitaleiro que acolhe os “paus-rodados” de todo o país e do mundo. O HNT trouxe um pedacinho de várias delas para destacar o amor de seus compositores e sua gente pela cidade.

O tradicional rasqueado cuiabano tem como principais referências os artistas Henrique e Claudinho, João Eloy, Pescuma, Edmilson Maciel, Roberto Lucialdo, para citar aqueles que mais popularizaram as músicas.

Uma canção marcante é a “Moreninha do CPA”, interpretada por Henrique e Claudinho. A música conta a história de um rapaz apaixonado por uma “morena” que mora na avenida Historiador Rubens de Mendonça, conhecida popularmente como avenida do CPA. Trecho da música diz “foi dançando siriri, que comecei a namorar uma morena faceira bonita igual não há. Com os cabelos cor da noite e os olhos cor do mar, ela mora na avenida mais bonita de Cuiabá.  Ai, ai, ai, moreninha do CPA. Ela é a mais querida, seu sorriso igual não há. Ai, ai, ai, moreninha do CPA. É a garota mais bonita que existe em Cuiabá”.

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Outra canção intitulada “Cabeça de boi”, do cantor e também apresentador Pescuma, fala das belezas da “Cidade Verde” e da culinária cuiabana sobre o hábito de comer pacu assado e cabeça de boi assada no Distrito da Guia, que fica às margens da MT-010. Além disso, cita o costume de tomar guaraná. Trecho da música diz “Cuiabá, cidade verde, ai ai ai. Vou comer pacu assado. Tomar pó de guaraná… Ai meu amor brigou comigo. Eu não sei para onde ela foi. Só sei que vou lá para Guia comer cabeça de boi…”. Cabe destacar que, comer cabeça de boi é um costume das pessoas que vivem na região do Pantanal.

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Obviamente, o calor de Cuiabá não ficaria de fora das composições musicais. Outra canção também de Pescuma “O sol tá quente pra daná” fala do calor da capital mato-grossense e do banho no rio Cuiabá para se refrescar. Parte dela fala “o solta tá quente pra daná, mas o calor tá de matar. Para refrescar vou me banhar nas águas do Cuiabá”. A música é cantada no linguajar cuiabano, conhecido como “cuiabanês”.

Além disso, também há uma canção de rasqueado que canta o amor dos “paus-rodados” por Cuiabá. A expressão remete a pessoas de outros estados ou países que escolhem a cidade para morar. Trecho da música cantada pela dupla Henrique e Claudinho, juntamente com Pescuma, diz “não aguento mais ser chamado de pau-rodado. Já tomo licor de pequi, já danço siriri, como bagre ensopado, sou devoto de São Benedito. Até já danço rasqueado. Ea, ea, ea, ea, só não nasci em Cuiabá. Quando eu cresci meu Bom Jesus mandou buscar”.

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O RASQUEADO CUIABANO

O rasqueado surgiu através da mistura dos ritmos siriri, mato e polca paraguaia, por volta do ano de 1870. O ritmo surgiu com o fim da Guerra do Paraguai, como uma forma de exaltação da volta à vida depois do maior conflito armado da América Latina. A viola-de-cocho é o principal instrumento utilizado para tocar o ritmo.

Por ser uma música de origem humilde, foi bastante discriminada até por volta da Proclamação da República, em 1889, quando começou ganhar notoriedade e espaço no cenário musical mato-grossense. Atualmente, o rasqueado é reconhecido como Patrimônio Cultural Imaterial de Mato Grosso.

HNT conversou com o especialista Valdelicio Garcia, integrante da histórica banda Real Som, que contou um pouco sobre a importância do ritmo e suas características.

Segundo Valdelicio, existem dois tipos de rasqueado: o “pedal de um” e “pedal de três”. O pedal de um, termo técnico usado entre os músicos do rasqueado, significa pisar apenas uma vez no pedal da bateria (instrumento musical) durante a reprodução das melodias. Este tipo é tocado principalmente pelas atuais bandas de lambadão que “inovaram” o rasqueado para um gênero mais “jovem” e atual.

Já pedal de três significa pisar por três vezes seguidas no pedal da bateria. Este é o considerado o rasqueado tradicional cuiabano e é tocado e cantado pelos músicos que exaltam as belezas de Cuiabá.

“Tem o rasqueado cuiabano, que é o pedal de três, que é o rasqueado que o pessoal toca, como Henrique e Claudinho, Pescuma, Roberto e Lucialdo, essa galera (sic)”, explicou Valdelicio.

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Cabe destacar também que, do rasqueado, surgiu o lambadão. Trata-se de um popular ritmo mato-grossense e de destaque em toda a Baixada Cuiabana atualmente.

Confira abaixo alguns outros rasqueados para ouvir e comemorar os 305 anos de Cuiabá.

1 – É bem Mato Grosso. 

2 – Engenho novo / boi do pantanal 

3 – Rasqueado do paurodado / moreninha do CPA /  Rebuça e Techuça / Cachimbocó

4 – Cuiabá muito prazer.

(HNT)