Um nome comum que facilmente passaria despercebido: Cláudio de Souza. Mas com apelidos que ficaram conhecidos em todo o Brasil por aterrorizar e mudar a rotina de uma cidade inteira.

O “Maníaco da Lanterna”, “Monstro da Lanterna”, “Tarado da Lanterna” ou “Peninha” foi responsável por 15 assassinatos na região de Alta Floresta (800 km ao norte de Cuiabá). Suas vítimas, na grande maioria, mulheres. Cláudio andava armado. Se escondia pelo mato e usava uma lanterna para iluminar a escuridão.

Pelos crimes, as condenações somam mais de 198 anos de prisão, atualmente sendo cumpridos na Penitenciária Dr. Osvaldo Florentino Leite Ferreira, conhecida como “Ferrugem”, no município de Sinop (500 km ao norte). A ala evangélica hoje é o “endereço” do maníaco, que exerce o papel de líder religioso na unidade prisional.

Antes de chegar a esse posto de líder, na justificativa dos crimes, todos confessados em depoimento, Peninha alegava que ouvia vozes e, por isso, matava. “Que o motivo pelo qual tem praticado estes homicídios não sabe explicar direito, tendo a impressão que é coisa do demônio, coisas para fazer o mal”, diz trecho do inquérito de 361 páginas.

Gianmarco Pacolla, delegado à época responsável pela prisão de Cláudio, descreveu o homem como frio. Da série de assassinatos que chocou a cidade, a identificação do serial killer, fuga da cadeia, novos crimes, até a segunda prisão, a Polícia Civil precisou trilhar um verdadeiro “enredo de filme”.

“Até a primeira prisão não tínhamos a identidade dele. Em depoimento, ele contou que vivia no mato, comendo broto de planta e raiz. Quando a polícia procurava ele na mata, ele se enterrava em meio às folhas. Contou que, quando enterrado, um delegado chegou a ficar a dois metros dele. Ele estava com uma espingarda. Só não matou o delegado para não ser preso”.

As investigações apontavam que Cláudio sempre usava chapéu, boné ou capuz, e também costumava usar roupas camufladas. Segundo o delegado, mais de mil objetos do maníaco foram apreendidos ao longo dos anos e subsidiaram as investigações. As vítimas, na maioria, eram mortas com tiros próximos aos órgãos sexuais.

“Era uma pessoa séria, de poucas palavras, mas que contava os crimes com riquezas de detalhes. Contava que quando as vítimas demoravam a morrer, matava a pauladas”.

Vítimas

A primeira vítima do “Maníaco da Lanterna” foi Regina Maria Pereira, em 21 de abril de 2001. A mulher estava com o namorado José Carlos Santos, dentro de um carro, em uma estrada. O maníaco assistiu o casal manter relação sexual e, armado, atacou os dois. Ele estuprou Regina e cortou a orelha dela, membro que nunca foi encontrado.

Cláudio atirou contra José, que conseguiu escapar. Ao lado do corpo de Regina foi encontrado um bilhete com os seguintes dizeres: “toma traidora”. O maníaco ainda tomou a chave do carro da mulher, para impedir fuga, e o objeto foi encontrado tempos depois.

No dia 6 de julho do mesmo ano, foram encontrados os corpos de Antônio Batista de Souza Filho e Liania de Souza Alves. Em 19 de julho, matou Luiz Carlos Cavalcanti e Rosimeire Zanco. O corpo de Rosimeire até hoje está desaparecido.

A partir desse momento, as forças de segurança sabiam que estavam lidando com criminoso em série, que atacava casais. Mas, a identidade, ainda era desconhecida.

No dia 1º de novembro de 2001 houve um novo registro de duplo assassinato. Celso Ferreira dos Santos e Vanda Ribeiro de Souza. No início de dezembro, o casal Carlos Andrade de Lima e Veronice Carvalho de Oliveira se deparou com Cláudio, mas Carlos entrou em luta corporal com o maníaco. O criminoso deixou para trás diversos objetos, entre eles uma espingarda.

No dia 8 de dezembro de 2001, Peninha mudou o “modus operandi” e cometeu o primeiro latrocínio. Armandio da Silveira foi morto pelo maníaco durante um roubo à Madeireira Spiller. A vítima foi executada a pauladas, enquanto dormia. Do estabelecimento, Cláudio roubou um revólver calibre 38.

A próxima vítima foi uma mulher, em 25 de janeiro de 2002, Maria de Fátima dos Santos foi arrastada e morta a pauladas no bairro Cidade Alta.

Os crimes passaram a deixar rastros e as características do maníaco começaram a ser conhecidas. Em 16 de abril de 2002, Cláudio de Souza foi preso durante uma abordagem de rotina e com o revólver calibre 38. Após a detenção, outras duas vítimas que sobreviveram aos ataques registraram queixa: Edimar Rodrigues Chalés e Edileuza Rodrigues do Nascimento. Eles foram atacados em 13 de agosto de 2000 e, mesmo feridos, conseguiram escapar.

Cláudio foi preso, confessou os crimes e foi levado para a Delegacia Municipal de Alta Floresta, de onde fugiu oito meses depois com outros nove detentos, durante uma rebelião. A fuga do serial killer voltou a impor temor na cidade.

Em 2003, foram mortas Sirlene Ferreira de Souza, em julho, Janaína Rocha Barros, em novembro, Sandra Batista de Araújo, em dezembro. Geyle Cristina da Silva foi morta em dezembro de 2004, Maria Célia da Silva Santos em fevereiro de 2005.

Depois de uma verdadeira “caçada” e do caso ser divulgado em rede nacional, no Programa Linha Direta, Peninha foi recapturado em abril de 2008 e, desde então, permanece preso. Fonte: Gazeta Digital