O mês em que se comemora o Dia Internacional da Mulher também é marcado pela campanha Março Lilás, de conscientização sobre a prevenção do câncer de colo do útero.

Além de ser o terceiro tipo de tumor maligno mais frequente entre as mulheres no Brasil, o câncer de colo uterino é também a quarta causa de mortes do sexo feminino. Os dados são do Instituto Nacional de Câncer (Inca).

O médico ginecologista Álvaro Roberto de Assumpção afirma que a principal causa da doença é a infecção persistente por alguns tipos do Papiloma Vírus Humano (HPV), cuja transmissão acontece especialmente por meio da relação sexual.

“Por volta de 80% das mulheres sexualmente ativas adquirem o vírus em algum momento da vida, no entanto, na maioria das vezes não causa nenhum sintoma e é eliminado pelo organismo”, diz.

Conforme o Inca, atualmente, há mais de 150 tipos de HPV. Destes, 12 são identificados como de alto risco e podem provocar câncer.

“Em alguns casos, o vírus permanece no organismo e, após alguns anos, pode causar uma lesão pré-cancerígena, que, se não tratada, pode evoluir para um câncer”, acrescenta Álvaro Assumpção.

Para prevenir o contágio pelo HPV, o médico destaca a importância do uso de preservativo e alerta para a necessidade de realização anual do exame preventivo.

“É importante que toda mulher faça o exame preventivo (Papanicolau). Não dá para enxergar uma possível lesão apenas pelo exame clínico, porque é algo que acontece dentro da célula. É necessário colher material, fazer raspagem de células, enviar a lâmina para o laboratório e fazer o estudo. Por isso, o exame deve ser realizado de forma rotineira pelas mulheres. Uma vez ao ano é o suficiente para fazer o rastreamento, identificando alterações iniciais que podem evoluir futuramente para câncer”, explica.

O médico ginecologista e obstetra Álvaro Assumpção destaca a necessidade de conscientização das mulheres sobre a importância do exame de Papanicolau na detecção do HPV

Foto: ANGELO VARELA / Secretaria de Comunicação Social

Vacina – A vacinação também é outra forma de prevenir a infecção pelo HPV. No Brasil existem dois tipos de vacinas ofertadas pelo Sistema Única de Saúde (SUS): a quadrivalente recombinante, que confere proteção contra HPV tipos 6, 11, 16 e 18, e a vacina bivalente, que protege contra HPV tipos 16 e 18 – considerados de alto risco oncogênico e responsáveis por cerca de 70% dos casos de câncer do colo de útero em todo mundo.

O Ministério da Saúde estabeleceu como meta vacinar 80% da população elegível, no entanto, os números de vacinação contra o HPV no Brasil estão abaixo do esperado e têm caído nos últimos anos.

Em 2019, 87,08% das meninas brasileiras com idades entre 9 e 14 anos foram vacinadas com a primeira dose da vacina contra o HPV. No entanto, em 2022, essa cobertura vacinal reduziu para 75,81%.  Entre os meninos, a situação não é diferente, com a cobertura vacinal caindo de 61,55% em 2019 para 52,16% em 2022.

O Ministério aponta a desinformação e o preconceito como alguns dos motivos que explicam os baixos índices de vacinação.

Leis estaduais – No estado, há três leis em vigor com o objetivo de incentivar a prevenção da infecção pelo HPV.

A Lei 9.926/2013 institui a semana estadual para conscientização e prevenção ao HPV, a ser realizada, anualmente, na terceira semana do mês de outubro.

A Lei 10.757/2018 estabelece, nas escolas estaduais, o Programa Permanente de Conscientização e Esclarecimento sobre a importância da vacinação contra o vírus HPV.

Já a Lei 11.965/2022 cria a Política Estadual de Prevenção Ampliada ao HPV e estabelece ao Poder Executivo o dever de desenvolver ações visando à  promoção, em parceria com a Secretaria de Estado de Saúde, de campanha anual de vacinação nas unidades da rede estadual pública de ensino e unidades socioeducativas de internação; a produção de material educativo dirigido especialmente à população-alvo, informando e conscientizando sobre a importância e os benefícios da vacina e formas de prevenção; e a realização de convênios com instituições públicas para a organização de programas educativos, cursos e projetos de capacitação e controle de cobertura e aceitação da vacina.

Autoriza ainda o Poder Executivo a ampliar o oferecimento de vacinas que combatem o HPV para população de jovens e adultos, desde que haja saldo de vacinas disponíveis que não foram aplicadas durante as campanhas de vacinação.

Mais informações

Quem pode tomar

A vacina contra o HPV pode ser tomada das seguintes formas:

1. Pelo SUS

A vacina do HPV (Gardasil) está disponível gratuitamente nos postos de saúde, em 2 a 3 doses, para:

  • Meninas e meninas dos 9 aos 14 anos;
  • Crianças e adultos (mulheres e homens) dos 9 a 45 anos, que tenham HIV ou AIDS, ou que receberam transplante de órgãos, de medula óssea e pessoas em tratamento contra o câncer, desde que apresentada receita médica.

A vacina quadrivalente que é oferecida pelo SUS pode ser tomada, também, por meninos e meninas que já não são virgens, mas a sua eficácia pode estar diminuída, pois já podem ter estado em contato com o vírus.

Essa vacina não é indicada para o tratamento de infecção ativa pelo HPV, nem para tratamento do câncer do colo do útero, vulva ou vaginal. No entanto, adultos ou adolescentes que já tiveram infecção pelo HPV podem tomar a vacina, desde que com indicação médica, pois pode proteger contra outros tipos de vírus do HPV.

2. No particular

A vacina também pode ser tomada por pessoas com idades superiores, entretanto, são apenas disponibilizadas em clínicas de vacinação particulares. Ela está indicada para:

  • Crianças e adultos entre 9 e 45 anos de idade, se for a vacina quadrivalente (Gardasil), ou qualquer idade acima dos 9 anos, se for a vacina bivalente (Cervarix);
  • Crianças e adultos entre 9 e os 45 anos de idade, com a vacina nonavalente (Gardasil 9).

As vacinas podem ser tomadas mesmo por pessoas que fazem tratamento ou já tiveram infecção pelo HPV, pois pode proteger contra outros tipos de vírus HPV, e prevenir a formação de novas verrugas genitais e risco de câncer.

Principais tipos de vacinas do HPV

Os principais tipos de vacina contra o HPV são:

  • Vacina bivalente (Cervarix): protege apenas contra os vírus 16 e 18, que são os maiores causadores do câncer do colo do útero, sendo indicada a partir dos 9 anos e sem limite de idade. Essa vacina protege contra o câncer do colo do útero, mas não contra as verrugas genitais;
  • Vacina quadrivalente (Gardasil): protege contra 4 tipos de vírus do HPV, os vírus 6, 11, 16 e 18, que podem causar verrugas genitais, o câncer do colo do útero na mulher e o câncer do pênis ou do ânus no caso do homem.
  • Vacina nonavalente (Gardasil 9): protege contra 9 subtipos do vírus do HPV que são os vírus 6, 11, 16, 18, 31, 33, 45, 52 e 58, que podem causar câncer do colo do útero, vagina, vulva e ânus, assim como contra verrugas provocadas pelo HPV.

Essas vacinas têm como objetivo estimular o organismo a produzir anticorpos contra o vírus do HPV, ajudando a prevenir a doença. No entanto, é importante ressaltar que as vacinas não tratam a infecção pelo vírus HPV, sendo importante fazer o tratamento indicado pelo médico, caso já tenha a infecção.

Doses da vacina do HPV

As doses dependem da idade e do tipo de vacina, sendo normalmente indicado:

Tipo de vacinaIndicaçõesDoses
Vacina bivalente

(Cervarix)

Meninos e meninas de 9 a 14 anos (inclusive no caso de já ter 14 anos no momento da primeira dose)
  • Esquema de 2 doses:

1ª dose: na data escolhida pelo médico ou pais;

2ª dose: 5 a 13 meses após a primeira dose.

  • Esquema de 3 doses:

1ª dose: na data escolhida pelo médico ou pais;

2ª dose: 1 mês após a primeira dose;

3ª dose: 6 meses após a primeira dose.

Meninos e meninas a partir dos 15 anos de idade1ª dose: na data escolhida pelo médico ou pais;

2ª dose: 1 mês após a primeira dose;

3ª dose: 6 meses após a primeira dose.

Vacina quadrivalente

(Gardasil)

Crianças de 9 a 13 anosEsquema de 2 doses, se a primeira dose for feita até aos 13 anos:

1ª dose: na data escolhida pelo médico ou pais;

2ª dose: 6 meses ou 12 meses após a primeira dose.

Crianças a partir dos 14 anos e adultos até 45 anos1ª dose: na data escolhida pelo médico ou pais;

2ª dose: 2 meses após a primeira dose;

3ª dose: 6 meses após a primeira dose.

Vacina nonavalente

(Gardasil 9)

Crianças e adultos entre 9 e os 45 anos de idade1ª dose: na data escolhida pelo médico ou pais;

2ª dose: 2 meses após a primeira dose;

3ª dose: 6 meses após a primeira dose.

Meninos e meninas entre 9 e 14 anos de idadeEsquema vacinal alternativo em 2 doses, se a primeira dose for feita até aos 14 anos:

1º dose: na data escolhida pelo médico ou pais;

2ª dose: entre 5 e 13 meses após a primeira dose. No caso de tomar a 2ª dose antes de 5 meses após a 1ª dose, deve-se receber uma 3ª dose.

É importante ter orientação do médico, que deve indicar a vacina e o esquema de doses, de acordo com a idade e após fazer uma avaliação do estado de saúde da criança ou do adulto.

Recomendação da OMS

Em dezembro de 2022, a OMS passou a recomendar 1 ou 2 doses da vacina do HPV para meninos e meninas de 9 a 20 anos, e 2 doses, com intervalo de 6 meses, para mulheres com mais de 21 anos [1]. No entanto, a indicação da vacina pode variar de acordo com o seu fabricante e esta recomendação ainda não foi implementada no calendário de vacinação no Brasil, uma vez que necessita ainda ser avaliada pelas sociedades médicas responsáveis e Ministério da Saúde.

Quem não pode tomar

A vacina do HPV não deve ser administrada em caso de:

  • Gravidez, mas a vacina pode ser tomada logo após o nascimento do bebê, sob orientação do obstetra;
  • Alergia aos componentes da vacina;
  • Febre ou doença aguda;
  • Redução do número de plaquetas e problemas de coagulação sanguínea.

A vacinação pode ajudar a prevenir a infecção pelo HPV e o câncer de colo do útero, mas não é indicada para tratar a doença. Além disso, outra recomendação importante para a prevenção do HPV ou outras doenças sexualmente transmissíveis é sempre usar o preservativo em todos os contatos íntimos. Também é recomendado que a mulher consulte o ginecologista pelo menos 1 vez por ano e realize exames ginecológicos como o Papanicolau. Entenda o que é e como é feito o papanicolau.

Campanha de vacinação nas escolas

A vacina contra o HPV faz parte do calendário de vacinação, sendo oferecida gratuitamente pelo SUS para meninas e meninos entre os 11 e os 14 anos de idade.

Os meninos e as meninas nestas faixas etárias devem tomar 2 doses da vacina, sendo que a 1ª dose está disponível em escolas públicas e privadas ou em postos de saúde da rede pública. Já a 2ª dose deve ser tomada em um posto de saúde 6 meses após a primeira dose

Efeitos colaterais da vacina

A vacina contra o HPV pode ter alguns efeitos colaterais como dor, vermelhidão ou inchaço no local da picada, que podem ser diminuídos com a aplicação de uma pedrinha de gelo, protegido com um pano, no local.

Além disso, a vacina contra pode ainda provocar dor de cabeça, tonturas, náuseas, vômitos e febre superior a 38ºC, que pode ser controlada com um antitérmico como o paracetamol, por exemplo. No caso da febre não melhorar, deve-se entrar em contato com o médico.

Outros efeitos colaterais menos comuns relatados por meninas que tomaram a vacina do HPV foram alteração da sensibilidade das pernas ou dificuldade para caminhar, porém, os estudos com a vacina não confirmam que esta reação seja provocada pela sua administração, sendo mais provável que se trate de outros fatores como ansiedade ou medo de agulhas, por exemplo. Não foram confirmados por estudos científicos outras alterações relacionadas a esta vacina.

Dúvidas comuns sobre a vacina

As dúvidas mais comuns sobre a vacina do HPV são:

1. Por que é preferível vacinar até aos 15 anos?

Os estudos científicos mostram que a vacina contra o HPV é mais eficaz quando aplicada em quem ainda não iniciou a vida sexual, e, por isso, o SUS só aplica a vacina em crianças e adolescentes entre 9 e 14 anos, no entanto, pode-se tomar a vacina em clínicas particulares.

2. É necessário fazer exames antes de tomar a vacina?

Não é preciso realizar nenhum exame para verificar se há infecção pelo vírus HPV antes de tomar a vacina, mas é importante saber que a vacina pode não ter a mesma eficácia em pessoas que já tiveram relações sexuais.

No caso de pessoas que têm infecção pelo HIV, são portadoras de AIDS, ou que fizeram algum tipo de transplante de órgão ou que estejam em tratamento do câncer, devem fazer exames indicados pelo médico para avaliar o sistema imunológico e, desta forma, tomar a vacina somente se for receitada pelo médico.

3. Quem toma a vacina não precisa usar camisinha?

Mesmo quem tomou as duas doses da vacina deve usar sempre a camisinha em qualquer relação sexual, porque a vacina não protege de outras infecções sexualmente transmissíveis, como o HIV ou a sífilis, por exemplo.

4. A vacina contra o HPV é segura?

Esta vacina demonstrou ser segura durante ensaios clínicos e, além disso, após ter sido administrada em pessoas, em diversos países, não demonstrou provocar efeitos secundários graves relacionados ao seu uso.