Depois de quatro jogos sem vencer, a seleção brasileira espantou a maré negativa na estreia de Dorival Júnior. Na tarde deste sábado, o Brasil se impôs contra a Inglaterra em Londres, ganhou por 1 a 0 com gol de Endrick, e o técnico se tornou o terceiro treinador brasileiro a vencer em Wembley depois de Zagallo e Telê Santana. Na entrevista coletiva após a partida, ele comemorou sem tirar pés do chão:

– Realmente é um momento especial, sim. Acho que poucas foram as vezes que a Seleção, estando em campos ingleses, acabou vencendo. Isso tem que ter um significado pelo momento. Não podemos perder o principal, que é apenas início de trabalho. Não pode ser um balizador desse momento. Temos que ter consciência que muito temos que fazer, coisas importantes para corrigir e buscar um melhor equilíbrio – afirmou Dorival, antes de enaltecer o resultado:

– Eu fico muito feliz porque enfrentamos uma das melhores equipes, que tem uma consistência e padrão definidos, jogadores de alto nível no meio e no ataque. São incisivos em momentos oportunos, saem muito bem de marcações agressivas e tivemos uma série de coisas positivas. Não vamos abrir mão de atacarmos, é a essência do futebol brasileiro. Por isso que espero que continuemos assim, passo a passo, com calma, evoluindo e melhorando. Mas com noção que é apenas uma partida nesse processo até a Copa do Mundo.

Dorival também não poupou elogios ao ser perguntado sobre Endrick, autor do gol da vitória com apenas 17 anos e que já está vendido pelo Palmeiras ao Real Madrid:

– É um jogador que é protagonista na sua equipe, é diferenciado com a sua idade. Se ele está ali é para isso, para ser usado. (…) O tempo vai mostrar quem poderá vir a ser esse garoto. Eu acredito que se ele não mudar a postura que vem tendo, com certeza será um nome muito importante do futebol brasileiro e mundial. Temos que ter tranquilidade com o garoto, está praticamente iniciando e talvez acelerando um pouco a sua formação.

– Tem sido um jogador de destaque e foi no último Brasileiro, onde merecidamente foi campeão. Ele com a sua equipe. É um garoto que realmente mostra qualidade diferenciada para um jovem, para um atacante que apresenta algumas características interessantes e diferentes dos jovens. Torço para que ele não mude a forma de ser. Tem uma base familiar que nos passa a impressão de dar sustentação importante.

A seleção brasileira do técnico Dorival Júnior volta a campo na próxima terça-feira para o amistoso contra a Espanha, às 17h30 (de Brasília), no Estádio Santiago Bernabéu.

Veja outras respostas de Dorival:

Telê e Zagallo

– Treinadores que foram importantíssimos na história do futebol brasileiro. Tudo o que representou o Zagallo, todas as conquistas que teve, o número de Copas que disputou, acho que talvez tenha sido o único nesse planeta a ter disputado tantas Copas como atleta, treinador e auxiliar. Isso enaltece ainda mais. Telê foi meu treinador e com certeza deve estar muito feliz vendo a sua seleção novamente jogando um futebol e buscando resultados, é isso que queremos ver. Espero que seja um início que nos direcione em busca de algo maior.

Comprometimento do time

– Tivemos cinco períodos de treinamento, tem peso grande. Mas a dedicação, comprometimento da equipe, nos mostra um caminho importante. É isso que espero que a gente possa repetir. Os resultados às vezes fogem a um contexto, mas não podemos deixar de ter a entrega que tivemos hoje. Isso foi fundamental e talvez tenha sido o princiupal ganho em relação a uma Seleção completamente modificada, vários entrando e mesmo assim com uma resposta positiva.

Estreantes

– De um modo geral, se vocês observarem quando da convocação do Rafael, fui questionado, havia pontuado que ele tinha ficado 33 partidas sem sofrer gol, o que nos fez acreditar que aquele era o momento dele. É um fator importante, precisa se repetir. Muitas coisas precisam acontecer. É oportunidade de alguns outros aparecerem. Talvez tenha sido o maior ganho: mostrarmos que temos um contexto um pouco maior que possam estar vestindo a camisa da Seleção. Confio muito nos garotos, espero ainda muito mais da equipe, mas tenho certeza que nos dá uma mostra do que fazer para frente.

Peso do resultado

– Acho que o principal é que pudemos resgatar um pouco da confiança que vinha sendo abalada nos últimos tempos. Não por culpa de ninguém. Isso acontece em clubes, seleções, é um fato natural. O que precisamos é acreditar. Me surpreendeu como os jogadores chegaram para o primeiro treinamento. Impressionante o que aconteceu, o nível de aproveitamento em trabalhos fundamentais, isso talvez tenha acelerado um pouco.

– Temos que ter calma, é muito cedo. Teremos um jogo difícil e complicado daqui a três dias. A mesma equipe atuou ontem, com 24h a mais de descanso, por isso que precisamos repensar uma escalação para o jogo seguinte. Primeiro avaliarmos por completo nosso elenco e depois continuar a buscar com treinamentos novamente uma condição que nos dê e facilite quem for a campo tentar entrar e manter esse ritmo que apresentamos.

Substituições

– Seria o momento adequado (a mudança). Tendo um atacante desse nível, por que não colocar? O Rodrygo foi fundamental, o Bruno (Guimarães) fez uma partida excelente, mas alteramos para ter mais força. Quando isso aconteceu, tivemos uma puxada forte, a Inglaterra tentou pelos flancos, onde talvez tenha conseguido algo, pela velocidade de movimento, coisas bem treinadas.

Richarlison

– Não entraria hoje com Richarlison, que fez esforço para estar em campo, mas ainda vem em recuperação. Temos todo cuidado possível para não ter uma situação agravada. Está trabalhando aos poucos para buscar a melhor condição. A partir da próxima partida vamos repensar, vai depender da evolução dele.

Produção ofensiva e defensiva

– Para mim o equilíbrio de uma equipe é o que faz que você conquiste resultado, sofra pouco. O Brasil teve isso, um equilíbrio grande. Teve destaques individuais, mas prefiro destacar todos. Se não acontecesse o resultado positivo estaria falando a mesma coisa. Defendo que tenhamos paciência, não nos iludamos. Vamos continuar trabalhando. É questão da realidade do futebol, ninguém queima etapas. Precisamos ver se repetiremos daqui três dias, aí talvez comecemos a ganhar mais corpo.

– O próprio treinador tem que conhecer tudo isso. Depois de terça-feira todo mundo vai para um canto e ficamos com os erros, acertos e estímulos futuros. Se a cada momento melhorarmos um pouco, encontraremos esse equilíbrio.

Fabrício Bruno titular

– Às vezes temos alguns melindres em momentos como esse em convocações. Não queremos desfalcar a maioria dos clubes e pensamos nisso. Com isso evitamos, de repente… Foi muito pela necessidade de tirarmos três elementos de uma equipe. Pensamos em dar oportunidades a alguns jogadores que eu não conhecia, sendo que esse eu já conhecia bem, ter ficado para uma segunda ou até talvez para uma terceira (lista), como foi o caso do Bremer. Não tem problema nenhum. Pode chegar e ser o titular. Isso temos que deixar claro, todos são jogadores convocáveis, acontecendo dessa maneira, perdendo um ou outro dentro de um período de treinamento, ou período inicial, você tem que ter uma substituição.

– Isso não quer dizer que tenhamos uma ordem e sejamos obrigados a cumprir a condição de cada um. Ao contrário. Cada um que for convocado vai chegar em condições de trabalhar. Poderíamos ter começado com o Murilo e percebemos alguma coisa que estamos tentando corrigir, e daqui a pouco o Murilo vai estar em campo. São coisas bem específicas que fazem com que um nome ou outro fique fora de uma lista inicial, mas não quer dizer que chegando não possa ser titular. Não temos definição de primeiro, segundo, terceiro ou quarto nome. Ainda que em cima de uma convocação, necessariamente, pensaremos que os melhores estarão ali, mas não quer dizer que o terceiro ou quarto não possam chegar e ultrapassar aqueles que foram convocados. É uma questão de adaptação o que já vinha sendo feito e a comissão conhecer um pouco mais cada atleta.

Reaproximação com torcida

– Não existe apenas movimento de um lado .Todos nós temos que participar. É um movimento de mão dupla, precisamos ter o povo mais perto, estar mais perto do povo. Isso é fundamental que aconteça. Para mim, foi um sentimento que sempre estive do lado de lá e verificando o que vinha acontecendo com a Seleção. É uma realidade, é um trabalho de formiguinha de todos nós. Acredito que dentro de uma cadeia, todos os segmentos que estão no futebol precisariam participar desse movimento. É isso que quero despertar, principalmente nos profissionais do futebol, que nos passem sugestões, nos passem caminhos, que acendam luzes…

– Apagar luz é muito fácil. Buscar alternativas, possibilidades, isso é muito difícil. Gostaria muito que o torcedor brasileiro estivesse mais perto da Seleção, assim como vimos no final da partida. Aquilo sempre foi a integração e interação que existiu entre torcedor e a camisa amarela, que temos que ter a honra de vesti-la a todo momento, independentemente das condições. Importa que quem esteja aqui possa valorizar ao máximo e sentir um pouco mais tudo aquilo que está dentro de um escudo como esse. Precisamos do torcedor ao nosso lado, não vai ser fácil, mas vamos chegar. Podem ter certeza.

Suporte ao trabalho

A presidente Leila Pereira (do Palmeiras) que aqui está veio como chefe de delegação participando ativamente, isso é importantíssimo. O presidente teve compromisso na Conmebol e no dia seguinte esteve aqui integrado ao nosso trabalho. A vinda do Rodrigo (Caetano) veio corrigir e completar um grupo de trabalho que vai fazer o máximo pela Seleção. (GE)