O debate sobre os impactos que a queda da produção agropecuária de Mato Grosso pode causar à economia ao longo do ano de 2024 tem tomado grande espaço nas conversas, encontros, reuniões institucionais, empresariais e políticas.

Alguns agentes econômicos mais ligados à agropecuária tendem a pintar um cenário mais hostil, quase catastrófico. Outros, mais analíticos e mais familiarizados com o mercado financeiro, fazem ponderações mitigadoras dos efeitos. Levam em consideração que os elevados lucros obtidos pelo agribusiness nos últimos cinco anos criaram um conforto de caixa que suportaria um ano de lucros baixos, fato recorrente em qualquer ramo da atividade empresarial.

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Segundo relatório do Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (IMEA), publicado na última segunda feira (18), com 96% da colheita da soja já realizada, a estimativa é de uma produção de 39 milhões de toneladas na safra 2024. Comparada com a colheita de 2023, 45 milhões de toneladas, a quebra será de aproximadamente 13%. O mesmo relatório técnico estima que a produção de milho em 2024 será de 43 milhões de toneladas, representando perdas de 18% em relação às 52,5 milhões de toneladas colhidas em 2023.

Além do drama dos efeitos climáticos que derrubam a produção agrícola em Mato Grosso, Brasil e no mundo inteiro, ao tornar irregulares os períodos de chuvas e secas e elevando ou reduzindo fortemente as temperaturas, o setor agropecuário enfrenta ainda o aumento dos custos de insumos básicos, fretamentos domésticos e internacionais. Esses aumentos tiveram início em 2020 com a pandemia da covid-19 e continuaram após a insana invasão da Rússia sobre a Ucrânia.

A retração das principais economias mundiais (China inclusa) cuidou de reduzir os preços dos produtos agropecuários que estavam turbinados nos últimos anos. O encarecimento dos insumos fosfatados e nitrogenados fez cair o rendimento físico das lavouras, derrubando o faturamento dos fazendeiros. A soma desses fatores virou quase numa tempestade perfeita: custos elevados, preços baixos, demanda reprimida e fatores climáticos derrubando o volume produzido.

A retração das principais economias mundiais (China inclusa) cuidou de reduzir os preços dos produtos agropecuários que estavam turbinados nos últimos anos. O encarecimento dos insumos fosfatados e nitrogenados fez cair o rendimento físico das lavouras, derrubando o faturamento dos fazendeiros. A soma desses fatores virou quase numa tempestade perfeita: custos elevados, preços baixos, demanda reprimida e fatores climáticos derrubando o volume produzido.

Os últimos dados do PIB de Mato Grosso, divulgados pelo IBGE (2021) e pela Secretaria Estadual de Planejamento e Gestão indicam que, sob a ótica da produção, a agropecuária representa expressivos 38% do PIB estadual, enquanto o setor de serviços tem participação de 46,7% e a indústria 15,3%.   Por conseguinte, quando a agropecuária tem algum revés, impacta todos os demais setores da economia.

A relação de dependência da economia estadual com o setor agropecuário é muito relevante. A forte dinâmica do setor impulsiona os setores de serviços e indústria. Especialmente a agroindústria, que, por sua vez é o principal segmento da indústria estadual. Quando a agropecuária tem lucratividade alta, incrementa o mercado de trabalho, aumentando o consumo das famílias e aquecendo as vendas do comércio.  Compra mais equipamentos, terras, veículos e maquinários agrícolas e consome mais serviços de transportes, viagens, serviços financeiros (seguros, financiamentos, securitizações). Quando há queda de faturamento e lucros, os efeitos negativos são sentidos na mesma proporção, reduzindo a circulação de dinheiro, afetando os demais setores e, por consequência, promovendo retração econômica.

O setor agropecuário estadual acostumou-se a operar muito alavancado em financiamentos para custear a safra anual e para investimentos na modernização e expansão da produção. Mesmo contando com os juros subsidiados do Plano Safra, do governo federal, levantam muitos recursos no mercado de capitais, em bancos privados e com as grandes tradings agrícolas nacionais e mundiais que atuam como verdadeiros bancos. Antecipam crédito e insumos tendo como garantia a safra a ser colhida. Essa elevada alavancagem é uma das variáveis que explicam boa parte da forte dinâmica de crescimento da agropecuária de Mato Grosso.

Todavia, em anos de frustação de safras, aumento de custos de produção e preços atuais e futuros declinantes, transformam-se em verdadeiro veneno financeiro. Aumenta, perigosamente, o endividamento, a inadimplência, ocasionando quebra de negócios, aumenta os pedidos de recuperação judicial que já são excepcionalmente altos no setor. Ao final da linha, causa retração do ritmo da economia estadual, irradiando seus efeitos para os setores financeiro, comércio, indústria, fazendo cair a arrecadação de tributos.

Minha avaliação é que a situação da agropecuária mato-grossense é conjuntural e não um problema estrutural que possa alterar a rota de crescimento da economia do estado. Acredito que a solução virá por meio de instrumentos mercadológicos, mas as negociações necessariamente precisam envolver todos os agentes econômicos (bancos, tradings agrícolas, produtores rurais) instituições que representam a agropecuária, o comércio/serviços, indústria. governos estadual e federal.

Vejo o quadro de queda da produção agropecuária como um evento circunstancial, fora da curva e que deve ser tratado de forma integrada e sensata para que a economia de Mato Grosso retome o ritmo chinês de crescimento em 2025.

 

*VIVALDO LOPES DIAS   é professor e economista formado pela UFMT, onde lecionou na Faculdade de Economia. É pós-graduado em  MBA Gestão Financeira Empresarial-FIA/USP. Autor do livro “Mato Grosso, Território de Oportunidades”.  

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