O relatório da Polícia Civil de Tapurah que investiga o envolvimento da advogada Hingritty Mingotti com líderes de uma facção criminosa diz que ela teria auxiliado o grupo a recuperar explosivos, armamentos e drogas.
Hingritty foi presa no dia 12 de fevereiro, na Operação Gravatas, junto dos advogados Roberto Luís de Oliveira, Tallis de Lara Evangelista, Jéssica Daiane Maróstica e do soldado da Polícia Militar Leonardo Qualio.
“Afilhada, você viu que a polícia foi no sítio do Loro? Eu descobri como que eles foram lá. A caminhonete que nós mandamos lá para carregar droga era rastreada”
Segundo a investigação, em posse de documentos sigilosos, um dos líderes da facção, identificado como Tiago Teles, descobriu que a apreensão de 175 kg de cloridrato de cocaína, em dezembro de 2022, na zona rural de Tapurah, ocorreu porque a caminhonete que alugaram para transportar a droga tinha rastreador.
Em uma propriedade ao lado da chácara onde houve a batida policial, estavam armazenadas 87 bombas de dinamite, centenas de munições .40, espingargas, um fuzil e espoletas, pertencentes a Tiago.
Temendo que a Polícia refizesse as rotas dos faccionados, que ficaram gravadas no dispositivo, e encontrasse o material, Tiago determinou que Hingritty entrasse em contato com a esposa do faccionado “Loro”, responsável pelo armazenamento dos itens.
“Afilhada, você viu que a polícia foi no sítio do Loro? Eu descobri como que eles foram lá. A caminhonete que nós mandamos lá para carregar droga era rastreada”, diz Tiago em uma conversa com uma faccionada, como mostra nos prints abaixo.
A mulher, que o chama de “padrinho”, pergunta o que ele precisa que ela faça, mas diz que está evitando se expor para não ser encontrada pela Polícia. Tiago, então, diz que a advogada, se referindo a Hingritty, conversaria com o homem.
“Ele parece que foi preso e saiu”, diz Tiago. “Vou pedir pra advogada ligar para ele”, continua. Porém, sem conseguir contato, eles então decidem falar com a esposa de “Loro”.
“‘Afilhada Meg’ informa que então o telefone enviado é da esposa de ‘Loro’ e ela ‘é de boa’ e sabe de todos os negócios ilícitos dele, inclusive, que guarda os armamentos e explosivos […]. Informa, ainda, que a mulher de ‘Loro’ irá ligar, porém Tiago informa que não, que para não arriscar irá adotar uma estratégia com sua advogada, que fará a intermediação”, consta no relatório.
No dia seguinte da conversa, Tiago recebeu em seu WhatsApp vários videos dos materiais sendo recuperados.
Outro caso
Em outra ocasião, Hingritty teria auxiliado Tiago a reaver 1 kg de maconha que não foi encontrado pela Polícia durante a apreensão de um menor de idade, identificado como “Chefinho”.
“Tiago Telles deixa claro que quem irá correr atrás da recuperação dessa droga será a Dra. Hingritty Mingotti”
“Tiago Telles deixa claro que quem irá correr atrás da recuperação dessa droga será a Dra. Hingritty Mingotti, vez que só é necessário que a advogada pergunte a ‘Chefinho’ da seguinte forma: ‘Aonde tá a responsa?’, que ‘não precisa falar droga, fala responsa'”, conta na investigação.
Compartilhamento de áudios de presos
Segundo a Polícia, Hingritty também era responsável por gravar áudios de faccionados durante as visitas como advogada, para repassá-las às lideranças da facção.
“[…] dentro da cela da Delegacia de Tapurah, ocasião em que a Dra. Hingritty Mingotti, ao entrevistar dois presos por tráfico ilícito de drogas, pede para os suspeitos gravarem áudios a respeito das circunstâncias da prisão de ambos”.
“Dra. Hingritty não se limita a ser uma mensageira ou ‘garota de recados’ para a organização, mas também ela busca informações sobre drogas eventualmente não encontradas pela Polícia, transmite informações de dentro da cela da delegacia ao gravar áudios de presos para às lideranças, envia fotografias de mandados de prisão e boletins de ocorrências e, por fim, ajuda na recuperação de armamentos, munições e dezenas de bananas de dinamite”, concluiu a Polícia.
Operação Gravatas
A operação foi deflagrada no dia 12 de fevereiro, resultando na prisão por mandado de quatro advogados, identificados como Roberto Luís de Oliveira, Hingritty Borges Mingotti, Tallis de Lara Evangelista e Jéssica Daiane Maróstica, além do soldado da Polícia Militar, Leonardo Qualio.
Os líderes da facção criminosa, que já estavam presos, também foram alvos da operação e tiveram suas prisões cumpridas dentro da Penitenciária Central do Estado, em Cuiabá.
A operação revelou que os criminosos, com ajuda do advogado Roberto Luís de Oliveira, que criou o “braço jurídico” para atender a facção, conseguiam acesso à documentos sigilosos da Polícia Civil e Militar, e dessa forma atrapalhavam diversas investigações, além da facilitação para cometerem crimes.