Sem medo de julgamentos e ciente de seu papel na conscientização de outras pessoas, Richarlison abriu o coração em entrevista coletiva nesta terça-feira, em Londres, onde está reunido com a seleção brasileira para amistosos.

O atacante destacou a importância de cuidar da saúde mental e exaltou a importância da terapia em sua vida. Richarlison decidiu buscar ajuda em setembro do ano passado, quando teve de lidar com cobranças em campo e também problemas pessoais fora das quatro linhas.

– Minha fala foi muito importante até para o pessoal da Seleção. Quando cheguei aqui já vi a psicóloga, nunca teve isso antes aqui. Foi importante. E o carinho que recebi das pessoas, a gente sabe o preconceito que tem quando a pessoa fala que está procurando ajuda, eu mesmo tinha esse preconceito, graças a Deus não tenho mais – declarou.

– Como jogador da Seleção, que tem voz ativa, falo para as pessoas procurar mesmo porque ajuda. Posso falar porque salvou minha vida.

– Salvou minha vida de uma hora para a outra, estava no fundo do poço mesmo, sabe? É importante a seleção ter um psicólogo para ajudar os atletas. Só a gente sabe a pressão que sofre, não só dentro, mas também fora de campo. Eu mesmo sofri mais fora de campo. É importante ter um psicólogo perto da gente – completou o camisa 9 do Brasil na última Copa do Mundo.

No ano passado, o Pombo rompeu com o empresário Renato Velasco, que o acompanhava desde o início da carreira. O centroavante também viveu fase muito ruim em seu clube após retornar da Copa do Mundo.

“Meu maior problema naquele momento não era dentro de campo, era fora de campo, pessoas que estavam ao redor e acabaram me decepcionando”

– Mesmo morando na minha casa há sete anos, essa foi minha maior decepção. Graças a Deus, já passou. Estou vivendo um lindo momento e quero construir minha história de novo.

Richarlison em treinamento da Seleção em Londres — Foto: Rafael Ribeiro / CBF

Richarlison em treinamento da Seleção em Londres — Foto: Rafael Ribeiro / CBF

Richarlison esteve fora da última convocação do Brasil, para duelos contra Colômbia e Argentina, em novembro do ano passado. Agora, se diz mais forte não só mentalmente, mas também fisicamente.

– Eu passei meses de dificuldade por dores no meu púbis, muitos aqui na seleção viram, eu nem conseguia chutar a bola para o gol direito. Graças a Deus eu fiz essa operação, operei os dois lados do púbis, hoje me sinto 100%, voltei voando na Premier League, ajudando meu clube. Meses atrás, quando não fui convocado para a Seleção, falei numa entrevista que voltaria para a Seleção, trabalhei muito durante esses dias, hoje estou aqui feliz e consegui dar a volta por cima.

O Brasil realizará treinamentos no CT do Arsenal até quinta-feira. Na sexta, fará reconhecimento do estádio de Wembley e sábado, às 16h (de Brasília) enfrenta a Inglaterra. No domingo, a delegação segue para Madrid, onde enfrenta a Espanha, no Santiago Bernabéu.

Veja outros trechos da entrevista coletiva de Richarlison:

Cobranças

– Como todos podem ver na minha rede social, nas minhas fotos só pode comentar quem é próximo de mim. Depois da Copa a perseguição veio muito. Hoje quem pode comentar nas minhas fotos e me mandar mensagem é quem eu quero. A perseguição foi muita, isso acaba afetando. A gente é ser humano, vê as coisas, vê a maldade no olhar das pessoas. Chegou um ponto em que até o professor Tite veio me chamar no avião e veio falar comigo. Antes de ir para a Copa no Catar, ele me chamou no avião e falou: “não precisa se preocupar com as críticas, você é meu camisa 9 e eu confio em você.” Isso foi fundamental para eu chegar na Copa confiante, com liberdade, só tenho a agradecer ao Tite, foi o cara que confiou em mim, mesmo com as pessoas vindo criticar, rebatê-lo. Eu via em todas as coletivas e zonas mistas as pessoas procurando um camisa 9. O Tite me deu total confiança, acreditou em mim e eu acreditei nele, tanto que fui o camisa 9 dele na Copa

Prometeu – e cumpriu – voltar à Seleção

– Falei isso porque sei meu potencial, sei como é vestir a camisa da Seleção, nunca deixei de sonhar para conquistar meus objetivos. Foi um momento em que eu estava passando por dificuldades, mas nunca deixei me abalar. Sabia que meu momento era difícil no clube e na Seleção, mas decidi trabalhar calado, recebendo críticas, mas sempre trabalhando. A cirurgia deu certo, voltei antes do esperado, trabalhei firme e hoje estou colhendo os frutos. Sou um cara trabalhador, quando venho para a Seleção dou minha vida, sei como é vestir a camisa da Seleção, o peso que carrego.

“Dono” da camisa 9

– Muitas pessoas viram uma arrogância, mas não fui na maldade, eu falei porque naquele momento eu era um dos artilheiros do ciclo, eu e o Neymar, e estava confiante. É claro que não estava vivendo um grande momento, talvez minha fala foi pesada porque eu não estava vivendo um grande momento, pesou para mim e as pessoas acharam arrogante. Faz parte do futebol, hoje estou de volta, espero fazer o meu melhor possível, é muito bom estar nesse começo de ciclo do professor Dorival. Espero ajudá-lo e também toda a seleção

– Não me arrependo de nada, ao mesmo tempo quando fui para as Olimpíadas eu vesti a camisa 10, dei conta do recado e ninguém falou nada. Não me arrependo de nada. Aqui na Seleção eu jogo com qualquer camisa, já joguei com a 21, a 7… Para mim, não interessa a camisa, o que importa é estar em campo honrando a camisa, é o que vou buscar fazer sempre

Ser exemplo

– É uma responsabilidade muito grande. Eu mesmo carrego uma imagem muito forte, as crianças gostam muito de mim. Eu procuro sempre andar na linha, no caminho certo, para não decepcionar meus fãs, as crianças, sei a responsabilidade que carrego de estar vestindo essa camisa e estar em um grande clube na Inglaterra. Procuro sempre estar em alto nível, andando na linha.

50 jogos com a amarelinha

– Eu fico muito feliz de estar alcançando essa marca com a camisa da Seleção, poucos jogadores tem números tão expressivos. Eu acho que tenho 20 gols fora as Olimpíadas. É uma marca expressiva, mas não quero parar por aqui, quero mais. Próxima marca são os 100 jogos e por aí vai. Estou muito feliz, espero continuar assim, evoluindo com essa camisa e conquistando vários títulos, que é importante.

Início com Dorival

– Ele esteve no CT do Tottenham, viu como é a estrutura lá, conversou com nosso treinador. O estilo de jogo do Dorival e do nosso treinador é parecido, um estilo agressivo, ele gostou muito. Essa aproximação com jogadores daqui, da Europa, nos dá uma confiança também. Ele veio, conversou com a gente olho a olho, eu falei para ele que a seleção, para mim, vem em primeiro lugar. É Deus no céu e a seleção na terra. Essa confiança eu passei para ele. É início de ciclo, muito bom estar nesse começo, espero que a gente possa construir uma seleção vitoriosa

– A gente já pegou um pouco o esquema dele, é um pouco parecido com o do professor Tite, o perde pressiona, as movimentações… Ele me explicou também como quer que um camisa 9 jogue com ele. A gente está se aproximando. Como falei, estou aqui para ajudar a Seleção e a comissão no que for possível. (GE)