O ex-presidente do Inter, Vitorifo Piffero, e o ex-vice de Finanças, Pedro Affatato, e mais três pessoas foram condenados a prisão por um esquema de desvio de recursos no clube na gestão 2015-2016. Eles foram julgados na última segunda-feira pela 2ª Vara Estadual de Processo e Julgamento dos Crimes de Organização Criminosa e Lavagem de Dinheiro, em Porto Alegre.
Piffero foi condenado a 10 anos e seis meses de prisão em regime fechado, além de pagamento de multa, pelos crimes de estelionato e organização criminosa. Já Affatato foi condenado a 19 anos e oito meses de prisão em regime fechado e multa pelos crimes de estelionato, organização criminosa e lavagem de dinheiro. Ambos podem recorrer das decisões em liberdade.
Outras três pessoas também foram condenadas na mesma sentença. O engenheiro Carlos Eduardo Marques, que era ligado ao Inter à época, foi condenado a seis anos e 10 meses de prisão. Já o empresário da construção civil Ricardo Bohrer Simões e o contador Adão Silmar de Fraga Feijó receberam pena de oito anos e oito meses cada.
Segundo a Justiça, todos estavam envolvidos em irregularidades na gestão do Inter e terão de ressarcir o clube com os valores obtidos indevidamente do clube. O esquema teria provocado um rombo de mais de R$ 13 milhões dos cofres colorados, com o desvio de recursos para obras que nunca foram realizadas, superfaturamento de gastos e outra irregularidades.
Centrada no núcleo de finanças e patrimônio do clube, essa é a primeira sentença proferida pela Justiça desde o início das investigações sobre irregularidades no Inter durante a gestão Piffero. Outros núcleos, como o do futebol, também são alvos de investigações em processos que ainda tramitam na Justiça gaúcha.
O que dizem as defesas
Procurado pelo ge, o advogado de Vitorio Piffero, Nei Breitman, disse que só vai se manifestar após ter acesso à sentença. Já o o advogado de Pedro Affatato, Andrei Zenkner Schmidt, disse que também não tomou conhecimento do teor da sentença, mas que vai recorrer da decisão e que só irá se manifestar nos autos do processo.
Em nota enviada à GZH, o advogado Rafael Ariza, que representa Ricardo Bohrer Simões e Adão Silmar de Fraga Feijó, ressalta que ambos foram absolvidos em relação às denúncias de falsidade ideológica e lavagem de dinheiro. A defesa acredita que a sentença sofrerá alterações nas condenações por estelionato e organização criminosa.
– A decisão acertou em absolver RICARDO e ADÃO em relação aos delitos de falsidade ideológica e lavagem de dinheiro, mas os acusados confiam que a sentença será modificada em relação aos delitos de estelionato (pois não obtiveram qualquer vantagem ilícita em razão dos fatos apurados) e organização criminosa (eis que jamais fizeram parte de qualquer associação de pessoas com o fim de cometer crimes contra o Sport Club Internacional – diz o texto.
A Defensoria Pública vai defender Carlos Eduardo e, por ora, não vai se manifestar para a imprensa.
O que diz o Inter
“O Sport Club Internacional informa que, na data de hoje, tomou conhecimento da publicação de sentença condenatória dos envolvidos, bem como da condenação ao ressarcimento dos danos causados. Por se tratar de processo que tramita em segredo de Justiça, aguardará os próximos desdobramentos da decisão, que comporta recurso das partes envolvidas. Os dois ex-dirigentes citados não fazem mais parte do quadro social e do Conselho Deliberativo, tendo sofrido todas as medidas administrativas do Clube”.
Entenda o caso
As investigações sobre as suspeitas de irregularidades no Inter começaram em 2017, no ano seguinte ao rebaixamento do clube para a Série B. Em abril daquele ano, o Conselho Fiscal do clube emitiu parecer recomendando ao Conselho Deliberativo a reprovação das contas da gestão Piffero.
Em decisão inédita, o Conselho do clube acolheu o parecer e reprovou as contas do clube, pela primeira vez na história. Na ocasião, o presidente do Conselho Fiscal Geraldo Costa da Camino pediu abertura de sindicância para apurar “graves falhas de controles internos” apontadas por uma auditoria externa contratada pelo clube.
Em setembro do mesmo ano, um relatório sobre as finanças do Inter detectou uma “inconsistência” de R$ 9 milhões em contratos não realizados com cinco empresas do ramo de construção civil. O documento apontava o pagamento suspeitos para obras que não haviam sido realizadas. Os conselheiros criaram uma comissão especial para investigar os gastos na gestão anterior.
Mais de um ano depois, em decisão considerada histórica, o Conselho Deliberativo do Inter votou pela inelegibilidade de Piffero e outros três ex-dirigentes por 10 anos. O ex-presidente, o ex-vice de Finanças, Pedro Affatato; o ex-vice de Patrimônio, Emídio Ferreira; e o ex-vice de Administração, Alexandre Limeira, foram considerados culpados por gestão irregular e temerária no biênio 2015/2016.
Em dezembro de 2018, o Ministério Público deflagrou a “Operação Rebote” e cumpriu mandados de busca e apreensão contra ex-dirigentes da gestão Piffero. Foram apreendidos documentos e outras informações que resultaram nas denúncias feitas pelo Ministério Público. Os acusados viraram réus em novembro de 2019. (GE)