Marcado com uma tag em pesquisa realizada em novembro de 2000, um ornitorrinco surpreendeu o mesmo biólogo que tinha o identificado, Geoff Williams, ao ser reencontrado recentemente no mesmo sistema de riachos nos subúrbios de Melbourne, na Austrália. A improvável descoberta faz do mamífero monotremado o mais antigo de sua espécie no mundo.

Quando Williams encontrou o animal selvagem em sua pesquisa original, estimou sua idade em um ano, mas jamais imaginou que poderia revê-lo um dia, muito menos que isso ocorreria 24 anos depois.

Dificilmente um ornitorrinco consegue sobreviver na natureza além dos 12 anos, mas “este está um pouco além de todas as nossas expectativas em termos de idade”, explicou Williams, hoje diretor da organização Australian Platypus Conservancy, ao The Guardian.

Por que os ornitorrincos vivem pouco?

(Fonte: Getty Images)

(Fonte: Getty Images)

Como acontece com muitas espécies selvagens, ornitorrincos em seu estado natural também têm uma expectativa de vida relativamente curta. Isso se dá por uma série de ameaças e desafios naturais, desde mudanças climáticas até inundações, doenças, perda de habitat e poluição.

Além disso, em um ambiente tão diverso, esses mamíferos ovíparos têm que lidar com predadores como falcões, águias, diabos da Tasmânia, cobras e dingos. Eles também se atacam entre si, durante a temporada de acasalamento, usando esporas venenosas (aparentemente não letais) para eliminar competidores por fêmeas.

Por isso, a inesperada longevidade desse animal “idoso” (Ornithorhynchus anatinus), que estabeleceu um novo recorde na natureza, foi objeto de um estudo publicado recentemente na revista Australian Mammalogy, onde o veterano Williams e alguns colegas comparam o animal selvagem de 24 anos com outros ornitorrincos longevos, porém criados em cativeiro.

Entendendo a longevidade dos ornitorrincos(Fonte: Geoff Williams/Reprodução)

(Fonte: Geoff Williams/Reprodução)

O ornitorrinco recordista de longevidade, referido no estudo como Macho 01F6-03FF, vive em um habitat chamado Monbulk Creek, um pequeno riacho isolado que hospedou entre 2 e 29 indivíduos entre 1997 e 2007. Como a proporção de machos e fêmeas da população é quase de um para um, foi pequeno o estressor durante as temporadas de acasalamento.

Apesar dessas condições “utópicas” desse estreito canal, que dificulta a ação dos predadores, esse ornitorrinco, que só foi identificado pela sua etiqueta original, passou por diversos perrengues. Um deles foi a chamada Seca do Milênio, que secou os riachos da Austrália de 2001 a 2009, e as graves inundações que ocorreram posteriormente.

Quanto aos nove membros da espécie criados em cativeiro desde a juventude nos últimos 20 anos, um macho atingiu a idade de 25 anos em novembro de 2023, e uma fêmea completou 30 anos. Ela “continua se alimentando normalmente e é saudável, apesar de a artrite se desenvolver em um pulso e catarata ocorrendo em ambos os olhos”, escrevem os autores.

A famosa Lista Vermelha da União Internacional para a Conservação da Natureza e dos Recursos Naturais (IUCN) considera os ornitorrincos como uma espécie “quase ameaçada”, com menos de 300 mil representantes no planeta.

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