Os fósseis são recursos capazes de mudar o pensamento dos pesquisadores sobre como a vida em nosso planeta foi antigamente, ou como determinado animal se comportava e como ele deixou de existir. Eles são encontrados e estudados há tempos nos mais variados lugares. Pode-se considerar um fóssil partes do corpo, como ossos e dentes, e até pegadas que deixaram em diferentes lugares do mundo.
Isso mostrou que esse fóssil de lagarto tem partes falsificadas. Quem fez essa descoberta foi uma equipe de paleontólogos que estavam em busca de resolver alguns mistérios a respeito desse réptil de 280 milhões de anos que nunca tinha sido analisado de forma detalhada.
Forjado
Então, como a equipe constatou, o que parecia ser tecido mole era, na realidade, somente tinta preta feita com ossos de animais. Contudo, mesmo com o tecido artificial, o fóssil não é totalmente falso. Os paleontólogos acreditam que os ossos dos membros posteriores e as escamas ósseas sejam de verdade.
Como dito, mesmo que o tecido dele tenha sido criado artificialmente, o fóssil não é totalmente falso. “Os ossos dos membros posteriores, em especial os fêmures, parecem genuínos. Também encontramos algumas escamas ósseas minúsculas (chamadas osteodermas, como as escamas dos crocodilos) preservadas no que talvez fosse o dorso do animal”, disse Valentina Rossi, a autora principal do estudo.
Ainda conforme ela, as circunstâncias por trás da falsificação ainda são desconhecidas. Contudo, o que se sabe é que ela aconteceu em 1959, que é a data da descrição científica oficial desse fóssil.
Fóssil
Mesmo esse fóssil do lagarto sendo forjado em partes, ele ainda tem sua importância, assim como outros que podem até mudar a forma como a evolução é vista.
Esse é o caso do fóssil da Corumbella, que é um animal marinho do período Ediacarano, que aconteceu entre 635 milhões e 541 milhões de anos atrás, e foi ele quem levou a vida no oceano que existia onde atualmente está a cidade de Corumbá, no Mato Grosso do Sul.
Esse animal pode ter se protegido dos predadores com sua carapaça articulada e feita por placas sobrepostas, mas com espaço para que ele se movimentasse. Além da proteção, o animal também se alimentava de partículas suspensas na água, o que não era registrado na época em que ele viveu.
Para saber mais sobre esse animal, um dos fósseis mais antigos já estudados, e como ele pode ter influenciado na evolução, pesquisadores do Brasil, da Escócia e Alemanha fizeram um estudo do fóssil. Esse estudo foi apoiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).
“As características da Corumbella fazem dela um dos primeiros animais modernos, que muito provavelmente viveram na presença de predadores e de cadeias alimentares parecidas com as que conhecemos hoje”, explicou Gabriel Ladeira Osés, primeiro autor do artigo.
Durante o seu doutorado no Programa de Pós-Graduação em Ecologia e Recursos Naturais da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), Ladeira fez essas análises do fóssil para compreender melhor o comportamento do animal.
Tanto é que, até pouco tempo atrás os estudos diziam que os animais com essas características surgiram quase 30 milhões de anos depois, ou seja, na chamada “explosão do Cambriano”. Isso era pensado porque somente partes desarticuladas dos animais catafractários foram encontradas no fim do período Ediacarano.
Agora, esse novo estudo se junta a outras evidências de que no Ediacarano aconteceu o surgimento da predação de animais visíveis a olho nu que se locomoviam e também dos animais que tinham esqueletos com componentes biomineralizados e resistentes.
“Usando microscopia eletrônica, espectroscopia e outras técnicas geoquímicas, conseguimos determinar que o esqueleto era feito de aragonita e proveniente do próprio animal, ou seja, não se precipitou depois, no processo de fossilização. Além disso, mostramos que havia uma orientação preferencial da formação do esqueleto, uma evidência de que existia um controle biológico da mineralização”, explicou Mírian Liza Alves Forancelli Pacheco, professora do Departamento de Biologia da UFSCar e coordenadora da pesquisa.
Importância
A professora foi uma das primeiras a estudar a Corumbella quando ela ainda estava no seu doutorado no Instituto de Geociências da Universidade de São Paulo (USP). Nessa época, ainda não era nem certo se o registro fóssil era de fato um animal.
Mesmo assim, ela continuou seu estudo e, além de confirmar a publicação de estudiosos alemães e brasileiros, de que o fóssil era realmente de um animal, Mírian mostrou que o animal tinha um esqueleto resistente.
Contudo, na época em que ela fez sua descoberta, não era possível dizer se a origem era orgânica ou mineral. Essa dúvida foi respondida apenas agora. Também foi mostrado que a Corumbella não tinha o corpo todo tubular como se imaginava, e que o mais provável é que ela tivesse uma base nessa forma e o resto do corpo com quatro lados atravessados por uma linha.
Por conta do seu formato e a associação com uma estrutura catafractária, isso pode colocar em xeque as afinidades biológicas do fóssil com animais que existem hoje em dia. Tanto é que, agora, existe a possibilidade de que ele seja um dos primeiros animais bilaterais, que são os que possuem dois lados simétricos, incluindo os seres humanos.
Com tudo isso, o estudo pode colocar a Corumbella no meio do caminho evolutivo entre os bilaterais e os radiais. “Provavelmente ele vivia fixo no leito do mar, com uma parte soterrada e outra para fora. A armadura articulada permitia que se defendesse de predadores, provavelmente animais de corpo mole, ao mesmo tempo que podia se mexer ao sabor das correntes marítimas. Talvez ela filtrasse as partículas de alimento presentes na água. Novos estudos podem ajudar a solucionar o que ainda resta de mistério sobre esse animal”, concluiu Osés, que atualmente realiza estágio de pós-doutorado no Instituto de Física da USP.
(Fonte: Olhar digital)