Em 2015, uma escavação na caverna de Hohle Fels, na Alemanha, revelou várias relíquias de marfim, confeccionadas com presas de mamute e datadas de cerca de 37 mil anos atrás, provavelmente fabricadas por humanos modernos.
Anteriormente, os cientistas consideravam esses artefatos meramente decorativos.
No entanto, um novo estudo publicado na revista científica Science Advances sugere que esses objetos tinham uma função prática, ao invés de serem apenas peças artísticas.
Conforme divulgado pelo Phys.org, os autores do estudo recente produziram uma réplica de um bastão de marfim encontrado na caverna. Por meio de experimentos, descobriram que ele poderia ser usado para criar cordas, facilitando significativamente essa tarefa.
O objeto em questão possui 21 centímetros de comprimento e tem um formato cilíndrico, com quatro furos o atravessando. Nestes furos, os pesquisadores encontraram evidências de desgaste, sugerindo que algum material foi repetidamente passado por eles. Testes laboratoriais detectaram vestígios de material vegetal nessas áreas do artefato.
A conclusão é que essas fibras eram usadas na fabricação de cordas. Duas pessoas desempenhariam diferentes funções no processo: uma passaria as fibras pelos furos e as trançaria, enquanto a outra puxaria e torceria a corda, contribuindo para torná-la mais resistente.
Possível período das relíquias de marfim
Com base nas relíquias de marfim e no material usado para compô-las, acredita-se que se refira ao período Paleolítico Superior, que terminou cerca de 10 mil anos atrás. Isso porque foi quando os mamutes acabaram extintos, e as ferramentas encontradas vinham das suas presas.
Esses gigantes pré-históricos habitaram uma vasta área que se estendia desde a América do Norte até partes da África.
Existiram várias espécies de mamutes ao longo do tempo e do espaço, como o mamute-lanoso (Mammuthus primigenius), que se adaptava aos climas frios do Hemisfério Norte. Ou, ainda, o mamute-colombiano (Mammuthus columbi), que habitava a América do Norte.
Nesse caso, a descoberta das relíquias de marfim na Alemanha indica que o principal animal seria o mamute-lanoso.
Ainda, outra dedução que os arqueólogos podem fazer com base nessas ferramentas é que a extinção dessas espécies podem ter sofrido com o aumento do número de humanos.
Com as alterações no ambiente causadas pelo Homo sapiens, o processo de extermínio pode ter se acelerado.
Mesmo assim, essas relíquias sugerem a presença de habilidades avançadas de fabricação entre os humanos modernos daquela época, mostrando que eles não apenas criavam artefatos de decoração, mas também objetos funcionais de sobrevivência.
Uso na sobrevivência
Essa descoberta da verdadeira finalidade das relíquias de marfim mostra como os humanos modernos usaram as ferramentas para sobreviver, principalmente criando formas mais simples de usar cordas.
Algumas possíveis utilidades incluem busca por comida, transporte e até mesmo rituais, por exemplo.
Essas cordas ajudariam na confecção de armadilhas, redes e equipamentos de pesca, facilitando a obtenção de alimentos.
Além disso, seriam úteis na construção de abrigos, permitindo amarrar materiais de construção, como madeira, peles ou outros recursos disponíveis na região.
No dia a dia, seria possível simplificar o transporte de objetos pesados ou volumosos com o uso de cordas, ajudando os grupos humanos a mover e carregar diversos tipos de carga.
E como as relíquias de marfim são resistentes e bem conservadas, acredita-se que elas também tinham outras finalidades de trabalho pesado. Por exemplo, ajudando na agricultura, para amarrar feixes de plantas ou animais de carga, contribuindo para a eficiência das atividades agrícolas.
Ainda, os estudiosos avaliam a possibilidade de ter essas relíquias de marfim em rituais e cerimônias que celebravam a cultura daqueles povos. Uma vez que o material era comum nesse contexto, não seria surpresa se a ferramenta exercesse um papel menos prático no dia a dia desses povos.
(MAYARA MARQUES)