O surgimento das doenças treponêmicas, especialmente a sífilis, tem intrigado pesquisadores por décadas. Recentemente, um estudo da Universidade de Zurique revelou descobertas fascinantes ao reconstruir os genomas mais antigos conhecidos da bactéria Treponema pallidum a partir de restos humanos pré-históricos encontrados no Brasil. Esses corpos datam de cerca de 2 mil anos e fornecem informações cruciais sobre a presença das doenças treponêmicas na América pré-colombiana.
Origens e características das doenças treponêmicas
O estudo conduzido pela Universidade de Zurique mergulhou nas sepulturas de Jabuticabeira II, na região de Laguna, Santa Catarina, onde foram encontrados restos humanos datados de cerca de 2 mil anos. Essa localidade ao longo da costa brasileira revelou-se uma rica fonte de informações, fornecendo aos cientistas acesso a cepas reconstruídas da bactéria Treponema pallidum.
Ao contrário das expectativas associadas à sífilis venérea, as análises genômicas apontaram para uma relação mais próxima com a subespécie que causa bejel, uma forma endêmica não venérea da sífilis. A diversidade dessas cepas, com características distintas das formas modernas da doença, destaca a complexidade evolutiva dessas bactérias ao longo do tempo.
A redefinição das subespécies não apenas lança luz sobre a diversidade dessas doenças treponêmicas, mas também levanta questões intrigantes sobre como diferentes formas de Treponema pallidum interagiam com as populações pré-colombianas. Essa perspectiva mais ampla, proveniente das análises genômicas específicas de Jabuticabeira II, sinaliza uma nova era de compreensão das origens e características dessas infecções antigas.
Avanços tecnológicos na pesquisa genômica
Datação com relógio molecular revoluciona a pesquisa genômica. (Fonte: Getty Images/Reprodução)
A pesquisa inovadora empregou técnicas genômicas avançadas, incluindo a sofisticada datação por relógio molecular. Essa abordagem permitiu calcular com precisão os tempos de divergência da família Treponema pallidum. Ao utilizar a datação por relógio molecular, os cientistas conseguiram estabelecer uma sequência temporal na evolução das estirpes causadoras de treponematoses.
Um achado surpreendente foi que as estirpes responsáveis pela sífilis venérea evoluíram mais tardiamente do que aquelas que causam formas não venéreas, como o bejel. Essa descoberta desafia as noções anteriores sobre a cronologia evolutiva dessas bactérias, sugerindo um desenvolvimento diferenciado entre as subespécies ao longo dos séculos.
A presença pré-colombiana das doenças treponêmicas nas Américas acrescenta uma camada fascinante à pesquisa. As questões agora levantadas sobre a origem global dessas bactérias indicam que a família Treponema pallidum pode ter tido uma distribuição global muito antes do que se acreditava anteriormente. Se as estirpes causadoras de sífilis não venérea estavam presentes nas Américas antes da colonização europeia, isso sugere diferentes rotas de disseminação e uma complexidade na história dessas infecções que ainda precisa ser totalmente compreendida.