Com a estimativa de uma quebra de safra de 8% na safra 2023/2024, alguns produtores rurais têm optado substituir o milho pelo algodão na segunda safra em Mato Grosso, para tentar “cobrir” o prejuízo deixado pela soja. A troca deve impactar na cultura do algodão, com uma estimativa de 10% de aumento na área plantada nessa safra, segundo a Associação Mato-grossense dos Produtores de Algodão (Ampa).

“Sabemos que houve um aumento na área de algodão e acredito que será em torno de 10%, mas só vamos ter a informação concreta depois do fim do ciclo. A produtividade não deve ser tão boa como no ano passado, por causa do clima, mas a área plantada vai aumentar, o que é um lado positivo. Com a seca, a soja foi muito prejudicada. E a rentabilidade do milho está muito ruim, sem previsão de melhora. O algodão acaba se destacando”, disse Orcival Guimarães, vice-presidente da Ampa.

Esse cenário é influenciado pela forte queda das cotações do milho, com preços despencando nos últimos meses em mais de 39% e uma rentabilidade comprimida, segundo dados da Agrinvest Commodities, que acompanha o cenário.

Por causa disso, áreas que no ano passado foram plantadas com milho na segunda safra começaram a ser plantadas com aldogão.

“É uma cultura cara, de risco maior, tem problemas na estrutura, nos portos, tem atrasos. Mas, sim, é mais rentável”

Orcival Guimarães, vce-presidente da Ampa

“Na safra 22/23 batemos um recorde de mais de 100 milhões de tonelada de soja, milho e algodão e a projeção é que a safra 23/24 tenha uma quebra e vá para 93 milhões de toneladas. Então alguns produtores estão fazendo essa escolha de trocar o milho para acabar cobrindo o prejuízo da soja, porque o algodão é mais vantajoso para a venda, tem maior rentabilidade”, afirmou o secretário adjunto de Agronegócios e Investimentos, Anderson Lombardi, em entrevista ao .

Esse movimento poderá inflar os números finais de colheita no Estado. A Ampa prevê uma plantação de 1,35 milhão de hectares em 2023/24. No ciclo 2022/23 foram plantados 1,2 milhão de hectares. No entanto, a produtividade média, que bateu recorde no ano passado, com 311,32 arrobas por hectates, deve ter uma queda para 284 arrobas, devido ao clima menos favorável.

Lombardi afirmou que é preciso analisar se a troca das culturas está valendo a pena, por causa do alto custo do algodão. “Há o risco do plantio. Se acontecer a mesma coisa e não chover no plantio do algodão, isso pode trazer um risco maior para os produtores, porque o investimento é bem maior. O tombo pode ser maior”, disse.

O vice-presidente da Ampa concorda, afirmando que o plantio do algodão tem vários desafios, entre eles o maior custo. “É uma cultura cara, de risco maior, tem problemas na estrutura, nos portos, tem atrasos. Mas, sim, é mais rentável”, afirmou.

Orcival afirmou que a safra do algodão também teve um pequeno atraso, com a falta de chuva, até o dia 20 de dezembro. “Do dia 25 de dezembro para cá, o clima melhorou muito e a plantação também. Agora vem o fenômeno La Niña, que deve trazer chuva em abril e maio, e esperamos que impacte em uma boa produção do algodão. Tudo depende do clima, a natureza que manda”, disse.

Apesar dessas dificuldades, a expectativa é de um cenário positivo para os preços, tendo em vista um possível aumento da demanda, principalmente no exterior.

(Rdnews)