No final do século XIX, o explorador americano Robert Peary retornou de uma expedição ao Ártico com mais do que um meteorito de ferro; ele trouxe consigo a tragédia que se desenrolaria na vida de Minik, um jovem inuíte. Em uma história marcada pela exploração, choque cultural e manipulação museológica, vamos mergulhar nas práticas questionáveis da época que trouxe consequências sombrias da interação entre os exploradores ocidentais e os povos indígenas.

O impacto do meteorito na vida dos inuíte

Robert Peary e parte do meteorito de Cape York. (Fonte: Wikimedia Commons/Reprodução)

O meteorito de ferro, conhecido como meteorito de Cape York, atingiu a Groenlândia há cerca de 10 mil anos, fornecendo material vital aos inuits para tornar a região ártica mais habitável. Impulsionado pelo desejo de sucesso, Robert Peary liderou uma expedição em 1894 para recuperar o meteorito.

Consciente da tradição inuítes, Peary negociou a retirada de fragmentos até chegar ao meteorito completo, e orquestrou um convite aos inuítes para estudar no Museu Americano de História Natural em Nova York em troca de armas e ferramentas. Seis indivíduos aceitaram, confiantes de que retornariam em breve para a tribo. Após chegar aos EUA, Peary partiu em turnê promocional, deixando-os aos cuidados do museu.

A luta de Minik Wallace pela verdade

Minik, em 1897. (Fonte: Wikimedia Commons/Reprodução)

Desamparados e expostos a germes desconhecidos, quatro indivíduos — Qisuk, Nuktaq, Atangana e Aviaq — sucumbiram a doenças respiratórias; outro, Uisaakasak, pediu retorno à Groenlândia. O único sobrevivente que permaneceu em Nova York foi Minik, filho de Qisuk, que foi adotado após a morte do pai, assumindo o nome Minik Wallace.

Informado pelos funcionários do Museu Americano de História Natural de que seu pai havia sido enterrado respeitosamente seguindo os costumes tribais, Minik descobriu anos depois que Qisuk fora dissecado e mantido no museu para estudo científico.

Em 1907, ele iniciou uma luta pública para recuperar os restos mortais de seu pai e garantir um enterro digno, mas o museu nunca atendeu ao seu pedido. Minik faleceu em 1918, aos 19 anos, vítima da pandemia de gripe espanhola, sem conseguir justiça pelos atos cruéis e desumanos cometidos contra sua família e comunidade.

Até 1993, os restos mortais dos inuítes permaneceram no museu. Somente após pressão pública, a instituição finalmente devolveu os restos à Groenlândia. Em 2023, o museu reconheceu suas ações “eticamente indefensáveis” e comprometeu-se a remover todos os restos humanos de suas exposições. No entanto, o meteorito de Peary permanece como uma atração principal, sem menção às vítimas da exploração.

A trágica história do meteorito, dos inuítes explorados e do corajoso Minik Wallace destaca a importância de abordar o passado de maneira ética. É crucial lembrar que as ações do passado moldam nosso presente e exigem um compromisso contínuo com a verdade, o respeito e a justiça.

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