Em 1989 Fernando Collor era um traço na pesquisa de intenção de voto para presidente e estranho nacionalmente. Além disso, não encontrava um vice para compor sua chapa. Seu grupo sugeriu um nome mato-grossense, pois à época Mato Grosso era o Eldorado brasileiro que se abria ao cultivo mecanizado e onde da noite para o dia brotavam novas cidades, o que poderia chamar a atenção para a dobradinha em busca do poder. Collor refletiu e aceitou, principalmente porque o sugerido era amigo e compadre de Paulo Maluf e isso poderia levá-lo a apoiá-lo em São Paulo, que concentra o maior eleitorado brasileiro.

Paulo Maluf é compadre de Júlio Campos. O casal Maluf batizou Sílvia, filha de Júlio Campos e da professora Isabel Campos. O nome da afilhada foi escolhido pelo padrinho para homenagear sua xará e madrinha.

Leia Também:
– Júlio Campos para a Assembleia sair da mesmice

– Sem alarde

– Pauta pra quem fica no jornalismo!

–  Bolsonaro e a partidarização do Grande Templo

– De cultura da bajulação ao poder

– O hoje, o amanhã e o ontem

– De povo silencioso

– A bancada dos Campos na terra da familiocracia

– Todos pelos 34 municípios ameaçados

– O silêncio de Rosa Neide

– De cassação administrativa

– Quase 40 mil cargos comissionados foram entregues para partidos

Collor procurou Júlio Campos, mas não o convenceu. Júlio Campos não aceitou o desafio de trocar uma candidatura praticamente vitoriosa ao Senado em 1990, num projeto com seu irmão Jayme Campos ao governo, para se aventurar com o jovem governador alagoano.

Mesmo dizendo “não” Júlio Campos achou simpático o projeto de Collor e sugeriu que ele escolhesse a deputada federal constituinte pelo Distrito Federal, Márcia Kubitschek, filha de Juscelino Kubitschek e mineira, o que poderia abrir as portas de Minas Gerais para Collor. Márcia era colega de Júlio Campos na bancada constituinte da Câmara dos Deputados, que juntamente com o Senado elaborou Constituição da República Federativa do Brasil em vigor.

Júlio Campos e Collor foram à casa de Márcia, que estava depressiva com problemas conjugais e descartou o convite. Dona Sara Kubitschek, mãe da deputada, estava presente, participou da conversa e pediu que em nome da presença mineira na chapa o escolhido fosse o senador Itamar Franco, que foi amigo e correligionário de seu marido. Dona Sara era política, muito politizada e tratou de aproximar Collor de Itamar.

A chapa Collor e Itamar foi eleita, batendo Lula da Silva com o vice José Paulo Bisol (PSB) no segundo turno, depois de atropelar no primeiro turno grandes nomes da política nacional.

Em Mato Grosso, Júlio Campos e Jayme Campos ganharam de barbada e pela primeira vez no Brasil um casal – Dona Amália e seo Fiote – viu dois de seus filhos serem eleitos no mesmo pleito, senador e governador pelo mesmo Estado.

Em 29 de dezembro de 1992 Collor sofreu impeachment e Itamar Franco assumiu a Presidência. Se ao invés do “não” Júlio Campos dissesse “sim”, ele seria presidente da República a exemplo do cuiabano marechal Eurico Gaspar Dutra, que assumiu o governo brasileiro em 1946, permanecendo no cargo até 1951.

 

*EDUARDO GOMES DE ANDRADE  é jornalista e escritor em Mato Grosso. É autor de vários livros, entre os quais “Nortão – BR 163: 46 anos depois” e “O lugar chamado Rondonópolis”; e editor do Blog do Eduardo Gomes.  

CONTATO:                                                                    www.facebook.com/eduardogomes.andrade

E-MAIL:                                                                      eduardogomes.ega@gmail.com

Sigam Eduardo Gomes Andrade no Instagram:       @andradeeduardogomes