O delegado afirmou que solicitou à Corregedoria da Polícia Judiciária Civil o afastamento não remunerado pelo prazo de 30 dias, renováveis por mais 30, se entender necessário, ou até o final das apurações.
Em nota, o delegado afirmou que o adolescente tinha uma medida protetiva contra a mulher envolvida na ocorrência, a dona da casa invadida por ele, porque ele estava sendo “aterrorizado” já há alguns meses.
Na segunda-feira, quando invadiu a residência, a acusada teria ido até a quadra poliesportiva em que se encontrava o menor e iniciado ataques que, segundo a nota, eram recorrentes e injustificáveis.
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Ainda conforme o relato do delegado, o adolescente, na ocasião, escondeu-se na casa de um amigo e pediu socorro para ele. Bruno França reforçou ainda, na nota, que a decisão de efetuar a prisão foi de responsabilidade única e exclusiva dele e que os demais agentes, três policiais da Gerência de Operações Especiais (GOE) que o acompanhavam, tentaram acalmá-lo.
“Após o menor ser resgatado e me relatar os fatos, entendi que se tratava de situação flagrancial, motivo pelo qual solicitei apoio a diversos colegas da Polícia Civil para efetuar a prisão. Após sortidos pedidos, fui atendido pelos colegas da Gerência de Operações Especiais. Diferente da forma expositiva que a conduzida vem tratando o caso, expondo publicamente procedimentos em que estão envolvidos direitos de crianças e adolescentes, nunca divulguei de forma extraprocessual os vídeos das agressões cometidas pela conduzida, em especial os vídeos gravados pela vítima, o menor J. de treze anos, em estado de pânico, no início da noite de 28/11/2022”, traz trecho da nota do delegado.
França foi acusado de ameaçar os familiares que estavam na casa e apontar uma arma para uma criança de 4 anos, filha da acusada de agredir seu enteado. Entretanto, o delegado afirmou que, quando estava dentro da propriedade, o armamento estava sempre apontado para baixo, já que é o procedimento padrão.
Todavia, a autoridade policial reconheceu que excedeu na forma como falou com a família.
“As próprias imagens do momento da abordagem demonstram que a arma esteve o tempo todo, que inclusive foi curto, apontada para baixo como reza o procedimento. Todavia é necessário que eu reconheça, publicamente e de forma humilde, que me excedi na verbalização dirigida à conduzida no momento da abordagem. Isso foi um erro pelo qual peço, a todos, as mais sinceras desculpas. Tal excesso, em que pese ser injustificável, é alicerçado por certa compreensividade, considerando que me encontrava em situação em que meu enteado estava sendo vitimado e, minutos antes, havia se dirigido a mim em estado de terror”, pontuou, em nota.
ENTENDA O CASO
O delegado Bruno França Ferreira foi filmado por uma câmera de segurança invadindo uma casa no condomínio Florais dos Lagos, em Cuiabá, na noite da última segunda-feira, e ameaçando uma família.
Armado, ele supostamente estaria cumprindo uma prisão em flagrante por descumprimento de medida protetiva que seu enteado teria contra a dona da casa, hipótese que o advogado da família, Rodrigo Pouso, negou.
O caso em questão corre na Justiça, sob sigilo, envolvendo o enteado do delegado e o filho da moradora. Eles teriam se desentendido quando a família ainda morava no Condomínio Alphaville I e, para evitar novas rusgas, a mulher teria se mudado para o Florais dos Lagos.
Pelo vídeo, é possível ouvir o delegado esmurrando a porta, até arrombá-la. Em seguida, ele entra no imóvel com mais três policiais do GOE, saca a pistola do coldre e grita com os presentes.
“Deita no chão! Deita, filha da p*! Deita os dois no chão!”, grita ele. No imóvel, estavam a mulher, seu marido e a filha de 4 anos do casal.
Assustada com a situação, a criança começa a chorar, momento que o delegado se aproxima da família. “Manda ela sair daí, senão vou disparar na cabeça dela”, diz ele.
O delegado ainda ofendeu verbalmente o advogado Rodrigo Pouso na Central de Flagrantes da Polícia Civil, o que foi repudiado pela OAB. Posteriormente, o delegado pediu desculpas ao jurista em áudio que circula no Whatsapp.
CONFIRA A NOTA NA ÍNTEGRA:
Na noite do dia 28/11/2022 realizei a captura em flagrante de uma mulher sob a justificativa de estar ameaçando, injuriando e descumprindo medida protetiva existente em favor de J., meu enteado de treze anos.
Conforme registrado em procedimento sigiloso na Delegacia Especializada de Direitos da Criança e do Adolescente, há meses a
conduzida vem perseguindo, humilhando e aterrorizando o menor de maneira injustificada, motivo este que levou o Poder Judiciário a deferir pedido de medida protetiva em favor do infante.
Consta demonstrado em procedimento investigativo que a autuada se deslocou até a quadra poliesportiva em que se encontrava a vítima e iniciou os ataques, recorrentes e injustificáveis, contra o adolescente que, após se refugiar na casa de um amigo, pediu socorro.
Após o menor ser resgatado e me relatar os fatos entendi que se tratava de situação flagrancial, motivo pelo qual solicitei apoio a diversos colegas da Polícia Civil para efetuar a prisão. Após sortidos pedidos, fui atendido pelos colegas da Gerência de Operações Especiais.
Diferente da forma expositiva que a conduzida vem tratando o caso, expondo publicamente procedimentos em que estão envolvidos direitos de crianças e adolescentes, nunca divulguei de forma extraprocessual os vídeos das agressões cometidas pela conduzida, em especial os vídeos gravados pela vítima, o menor J. de treze anos, em estado de pânico, no início da noite de 28/11/2022.
Desde já gostaria de deixar claro que a decisão de realizar a prisão é de responsabilidade única e exclusiva minha, tendo os colegas da GOE inclusive tentado me acalmar nos momentos de maior emoção. Não possuem qualquer responsabilidade, apenas parceria e lealdade para atender o chamado de um policial em necessidade.
Após bater a porta sem resposta e, considerando a situação flagrancial, decidi por adentrar a residência para efetuar a captura. Diferente do falsamente alegado de forma incessante pela conduzida, em nenhum momento apontei arma de fogo para nenhuma das pessoas na casa. As próprias imagens do momento da abordagem demonstram que a arma esteve o tempo todo, que inclusive foi curto, apontada para baixo como reza o procedimento.
Todavia é necessário que eu reconheça, publicamente e de forma humilde, que me excedi na verbalização dirigida à conduzida no momento da abordagem. Isso foi um erro pelo qual peço, a todos, as mais sinceras desculpas. Tal excesso, em que pese ser injustificável, é alicerçado por certa compreensividade, considerando que me encontrava em situação em que meu enteado estava sendo vitimado e, minutos antes, havia se dirigido a mim em estado de terror.
Peço ainda desculpas pelo susto causado à criança inocente que se encontrava dentro da residência. Não sabíamos da presença desta no interior do cômodo antes da entrada e, desde o ocorrido, a ideia do medo que causei a essa menina é, de longe, aquilo que mais tem me machucado.
A Polícia Civil existe para proteger as pessoas e não para assustá-las, motivo pelo qual espero que um dia essa criança possa me perdoar.
Gostaria de enfatizar que, em que pese a violenta emoção que me encontrava no momento, não houve contato físico com nenhuma das pessoas da residência.
Esclareço ainda que, ao contrário do que vem sendo noticiado, sequer acompanhei a conduzida na viatura durante o trajeto até a Central de Flagrantes. Pelo contrário, me desloquei em veículo distinto exatamente para que a conduzida pudesse ser transportada do lado de dentro da viatura e não no local destinado aos presos.
Aos membros da Ordem dos Advogados do Brasil que por tantos anos ombreei em busca de justiça, peço desculpas pelo ato injustificável que realizei em desfavor do Dr. Rodrigo Pouso. Esclareço que no momento das ofensas o procedimento de condução já havia terminado e me encontrava no saguão da delegacia dando apoio ao meu enteado que aguardava para ser ouvido.
Peço, sinceramente, que me desculpem. Enfatizo que até o presente momento jamais fui representado, sequer uma vez, pelo Ministério Público ou pela Ordem dos Advogados do Brasil por atos cometidos no exercício de minha profissão.
Chegou ao meu conhecimento que a Ordem dos Advogados do Brasil entendeu por bem que eu seja afastado das minhas funções durante o esclarecimento dos fatos, tendo realizado pedido à Corregedoria de Polícia Civil.
Se os nobres colegas entendem que é melhor para saúde do procedimento que eu momentaneamente me afaste de minhas funções,voluntariamente atendo o pleito. Ademais, não entendo como justo e razoável que eu seja ressarcido pelos cofres públicos durante a averiguação de excessos verbais que cometi em uma abordagem.
Logo, desde já, antecipo que solicitei à Corregedoria de Polícia Civil meu afastamento não remunerado pelo prazo de 30 dias, renováveis por mais 30 se entenderem necessário ou até o final das apurações.
Peço desculpas também aos membros da sociedade que, direta ou indiretamente, se sentiram ofendidos pelo ocorrido tendo em vista as imagens divulgadas fora do contexto dos fatos. Fatos estes que serão obviamente esclarecidos.
Agradeço o apoio a mim dispensado pelas famílias das outras crianças vitimadas pela conduzida.
Por fim, em resposta àqueles que questionam se me arrependo do ocorrido, informo que estou profundamente arrependido por ter me extrapolado na verbalização realizada dentro do domicílio da conduzida.
Quanto à decisão de enfrentar a agressora e realizar sua captura, tal conduta não possui qualquer ilicitude e não goza de arrependimento de
minha parte. Desde a noite de 28/11/2022 venho sendo atacado na imprensa de forma injusta e não verdadeira pela conduzida. Todavia, desde a noite de 28/11/2022 meu enteado está, finalmente, protegido e seguro.
A todos, de coração, minhas mais sinceras desculpas.