Na época em que Renato Gaúcho era protagonista das colunas sociais no Rio de Janeiro, o que aconteceu neste fim de semana seria definido como “revival”. O treinador colecionou amores ao longo da carreira, mas nunca escondeu que seu coração batia mais forte pelo Flamengo. O reencontro é cercado de expectativa, declarações e começa para valer nesta segunda-feira com expectativas elevadas.
O Renato que era Portaluppi em Porto Alegre volta a ser Gaúcho no Rio de Janeiro e foi apresentado oficialmente nesta segunda-feira como treinador do Flamengo. A programação prevê dois treinamentos no Ninho do Urubu antes de seguir viagem a Buenos Aires, onde estreia diante do Defensa y Justifica, quarta-feira, pelas oitavas de final da Libertadores.
– É um prazer estar aqui nessa oportunidade de treinar um grande. Falei que tinha esse sonho e hoje estou realizando. Todo técnico tem que pensar grande e alto. Na minha opinião, o Flamengo é a mesma coisa do que a seleção brasileira – afirmou Renato.
Vestindo vermelho e preto novamente depois de 23 anos, Renato exibiu sorriso largo e se declarou para o clube onde teve três passagens como jogador nas décadas de 80 e 90.
Campeão no Fluminense e no Grêmio na nova função, passou ainda por Madureira, Vasco, Bahia e Athletico-PR antes de voltar ao Flamengo. Estátua em Porto Alegre, Renato Gaúcho fez do Rio de Janeiro sua casa. Assinou contrato de bermuda e chinelo, depois de uma manhã de futevôlei em Ipanema. Era o início da nova velha história de amor.
Outros trechos da apresentação de Renato:
Emoção de voltar ao Flamengo
– É emocionante. Título é sempre título. Hoje à frente do Flamengo é um título que eu ainda não tenho como treinador. Lembro até hoje de ter dado volta olímpica em 87 no Maracanã. Espero que com esse grupo, agora como treinador, eu possa realizar esse sonho.
– Dois ou três anos atrás falei que era meu sonho treinar o Flamengo, pela grandeza. É uma satisfação. Todo treinador sonha um dia treinar o Flamengo, e estou realizando esse sonho. Estou bastante emocionado, falei isso com o (Marcos) Braz e com o Bruno (Spindel). Poder voltar ao Flamengo, ao Maracanã, e estar ao lado desse grupo vencedor, acima de tudo. Tenho certeza de que o torcedor entende que sou um profissional. Espero que a torcida possa voltar ao Maracanã, eu sei da força dela de todas as vezes em que nos enfrentamos.
Aproveitamento da base
– Por onde eu passo, gosto de trabalhar com os garotos. Ontem mesmo no Maracanã, após a partida, falei com as pessoas do Flamengo e pedi para marcar coletivo hoje dos que não jogaram contra os garotos para poder começar a observar. Não tenho de lançar garoto, mas tem que ser na hora certa, no momento certo, para não queimá-lo. No Grêmio, descobrimos vários garotos lá que tiveram sucesso no profissional. Sempre que eu achar que está na hora de ser aproveitado, vai acontecer.
Renato Gaúcho apresentado pela diretoria do Flamengo — Foto: Alexandre Vidal/Flamengo
Relação com a torcida do Flamengo
– Não lembro de atritos com o clube ou com a torcida. Maior prova é que, no jogo beneficente que o Zico faz todo o ano, o Zico brincava: “Está vendo, você é ídolo, a torcida gosta de você. Tem o gol de barriga… mas isso faz parte”.
– Nos últimos dias, eu estava na praia e tive que ir embora pelo excesso de carinho, de fotos. A torcida pode ficar tranquila que trabalho não vai faltar. Vamos trabalhar para que a gente possa continuar dando alegria ao torcedor.
Sensação de comandar o Flamengo
– Quando eu jogava pelo Grêmio, eu tinha um sonho de um dia jogar no Flamengo, no Maracanã, ao lado de um grande ídolo que era o Zico. Em 87 pude realizar esse sonho. Quando se fala de Flamengo, todo mundo sonha jogar ou treinar o Flamengo. Como jogador realizei esse sonho. E como treinador vou dar continuidade a esse trabalho.
Cobrança proporcional ao investimento
– Se você gastar R$ 100 por mês num clube, você vai ser cobrado. Se gastar R$ 100 milhões, vai ser cobrado. Acho que todo torcedor quer ver o time campeão. Claro que quando você gasta muito e qualifica seu grupo, você tem mais chances. O PSG, quanto ele gastou? E não foram campeões. No Flamengo, as chances de conquistar são maiores, sem dúvidas. Palmeiras, Atlético, Flamengo gastaram muito e, por isso, chegam toda hora.
Avaliação do elenco
– O elenco é maravilhoso, muito forte. Se vai ganhar tudo, vamos trabalhar para isso. Palmeiras, Atlético-MG também querem. Todo mundo quer. Qual clube entra na competição e não quer ganhar? Mas o elenco do Flamengo é forte, sim. Perdeu algumas peças? Perdeu. Mas ainda é muito forte.
Comparações com Jorge Jesus
– Na época do Jorge, ele fez um excelente trabalho, conquistou. Domènec e Ceni tentaram, e eu vou continuar tentando também. Mas cada um tem seu trabalho, suas ideias. Todos eles, antes do Jesus, o próprio Jesus, depois o Dome, Ceni, todo mundo tentou. Eu vou continuar tentando e trabalhando. Se todo clube que contratasse um treinador tivesse 100% de certeza de que seria campeão, ele assinava um contrato de 10 anos.
Maior desafio da carreira?
– Desafio do treinador é grande, como em qualquer clube. Mas treinar o Flamengo é diferente. Eu gosto de desafios. Eu estou aqui para trabalhar. Junto com esse elenco a gente vai fazer de tudo para dar continuidade às conquistas.
Opinião sobre a volta parcial do público
– Com segurança e seguindo os protocolos, eu sou a favor. Joguei com a camisa do Flamengo como jogador, eu sei a força da torcida. Enfrentei o Flamengo no Maracanã, com essa torcida maravilhosa. É o nosso 12º jogador. Muita gente já foi vacinada, já teve (Covid). Então, com segurança, eu sou a favor da volta do público aos estádios.
Modelo de jogo que pretende adotar
– O Flamengo sempre joga para vencer. Eu sempre tive essa opinião. Coloquei os clubes que trabalhei sempre para frente, em busca da vitória. O clube que busca a vitória está mais perto da vitória do que da derrota. O Flamengo, sem dúvida, vai jogar pra frente. Cada treinador tem uma maneira de trabalhar, vou trocar umas ideias com os jogadores. Vou procurar botar em prática aquilo que acho que é melhor para o clube.
– O maior problema que eu tenho no momento é o tempo. Por isso vai ser muito importante o vídeo, a troca de ideias com os jogadores. Infelizmente ou felizmente o Flamengo disputa três competições, mas infelizmente não temos muito tempo disponível para os treinamentos.
Ficou emocionado ao assinar o contrato?
– Pela manhã no sábado, falei com o Braz e com o Bruno. No fim da tarde, estávamos reunidos. Com o contrato assinado, falei pros dois: “Estou muito emocionado”. Era um sonho treinar o Flamengo. Treinar o Flamengo é treinar a seleção brasileira.
Estratégia de poupar atletas em determinadas competições
– O poupar em algumas competições as pessoas às vezes entendem mal. A gente sempre quer a força total. Mas no momento em que o jogador está desgastado, e o exame de “CK” mostra que ele pode ter uma lesão, esse jogador vai ser poupado. A explicação é essa. O fisiologista e o preparador físico ajudam o treinador. No momento em que ele (jogador) se sentir bem, ele vai jogar.
Impressões sobre a vitória sobre a Chape
– Isso é muito particular. Por isso eu gosto de trocar ideias, conversar. Ontem eu assisti ao jogo do lado do Bruno, do presidente, do Braz. Nós trocamos algumas ideia, observei algumas coisas. Mas isso é muito particular. Vou procurar trocar ideias, fazer alguns ajustes. O mais importante de tudo foi que o Flamengo conquistou os três pontos, isso que é importante. No dia a dia a gente vai ajustando as coisas.
Pretende dar chances ao atacante Lázaro?
– Eu conto com todo mundo. Eu vou repetir: gosto de trabalhar com garoto da base, gosto de dar oportunidades, de observá-los no dia a dia. Sem dúvida tenho boas informações dele, até porque foi campeão na sub-17. Você tem que saber lançá-los no momento certo para não queimá-los. Essa fase pode ter certeza de que eu sei muito bem fazer. Nesses quatro anos e meio de Grêmio, dei muitas oportunidades aos garotos, trabalhei muito com a base.
Dificuldade para encontrar uma dupla para Rodrigo Caio
– Quando cheguei ao Grêmio, por exemplo, o Arthur, que depois foi vendido ao Barcelona, estava para ser emprestado ao Ceará. Eu segurei e deu no que deu. No momento em que você tem um grupo da forma que o Flamengo tem, e acima de tudo trocar ideia com o jogador… Eu gosto de passar muita confiança aos jogadores. Fundamental é o chefe passar confiança para você e vou passar confiança aos zagueiros. Tenho visto os jogos do Flamengo e vi coisas de bom e vi coisas que podemos ajustar.
Rejeição e a derrota por 5 a 0 em 2019
– O homem lá de cima não agradou a todo mundo. E o Renato não vai agradar. Aquele jogo foi um jogo que o Flamengo mereceu ganhar do Grêmio. O Grêmio não estava na noite dele. Não tirando os méritos do Flamengo, mas são coisas que acontecem. O Flamengo estava numa fase excepcional, ganhando tudo, grande elenco. São coisas que acontecem. Agora estou desse lado aqui, vou trabalhar bastante para dar continuidade a essas conquistas.
O que pretender repetir do Flamengo de 2019?
– Vou tentar fazer o futebol ofensivo, até pelas características dos jogadores. O torcedor do Flamengo não consegue ver o time defensivamente. No momento em que tem jogadores desse nível, tem que jogar para vencer. Sem dúvidas não vou mudar isso.
Pedido de reforços
– Reforços, todo treinador gosta de ter. Às vezes nem sempre é possível. Até porque hoje temos que entender o motivo financeiro que todos os clubes passam pela pandemia. Lógico que o clube vai sentir. Não só o Flamengo, mas no mundo todo. Eu vou trocar muitas ideias com esse grupo aqui. Lá na frente a gente vê tem essa necessidade, dentro da possibilidade que a diretoria vai dar.
Punição do Flamengo a Gabigol
– Eu não estava aqui, não posso me meter. Prefiro não comentar. Até porque foi um acontecido que eu estava longe das possibilidades de eu me meter, nem procurei direito saber o que aconteceu.
Recusa a outros clubes
– Quando saí do Grêmio, a primeira coisa que fiz foi entrar de férias. Foram cinco anos, precisava curtir um pouco minha família. Precisava respirar novos ares. Mas não saí do Grêmio pensando no Flamengo. Recusei convites de Santos e Corinthians porque eu precisava de férias. No momento em que descansei, apareceu o convite do Flamengo. Essa oportunidade eu peguei. Já descansei e estou realizando meu grande sonho. (Globo Esporte)