O clássico nordestino da nona rodada do Campeonato Brasileiro coloca frente a frente dois treinadores jovens, estudiosos e em ascensão no mercado. Mas as semelhanças param por aí, já que Rogério Ceni e Jair Ventura atravessam momentos completamente distintos no processo de trabalho.
Enquanto Rogério Ceni está em sua terceira temporada comandando o Fortaleza (exceto por uma breve passagem pelo Cruzeiro em 2019), Jair Ventura chegou há menos de 15 dias e teve pouco tempo de trabalho entre os três primeiros jogos.
Fortaleza x Sport se enfrentam nesta quarta, às 18h, com transmissão do Premiere – o ge acompanha em Tempo Real
Rogério possui absoluto controle sobre seu elenco, é capaz de movimentar sua escalação de acordo com suas necessidades e transformar o modelo de jogo adotado pela equipe.
O Fortaleza pode priorizar a marcação, como fez contra o Flamengo e no primeiro tempo diante do Corinthians, mas é um time que se sente confortável tendo o controle da posse de bola.
É comum ver o Fortaleza com escalações diferentes, o difícil é a repetição das peças, Rogério interpreta o jogo, conduz seu trabalho de acordo com as exigências que o adversário apresenta e o time costuma responder; seja retraindo sua marcação ou pressionando a saída de bola, seja construindo seu jogo através de circulação e gerando volume ou apostando na velocidade do contra-golpe.
As ideias estão lá, mesmo quando necessita de adaptações, o Fortaleza conhece seu repertório.
Rogério explora as possibilidades individuais que são oferecidas, pode fazer Romarinho atuar pelo lado ou como segundo atacante por trás de Wellington Paulista; pode ter David como um extremo ou fechando espaço pelo meio; usa a velocidade de Osvaldo para atacar com dribles ou construir alternativas através de conexões; utiliza o goleiro Felipe Alves como primeiro distribuidor de jogo e ganha maior ocupação de espaço na frente com os volantes e amplitude com os dois laterais.
O tempo e competência deram a Rogério Ceni domínio absoluto sobre o seu trabalho.
Do lado do Sport
Já o Sport está engatinhando no processo de reconstrução, poucos dias de trabalho, apenas três jogos, mas em uma franca evolução.
O time de Jair Ventura mudou o esquema tático, saiu do 4-3-3 (ou 4-2-3-1) de Daniel Paulista e passou a atuar no 4-4-2, mas a maior mudança vem sendo detectada na proposta e no modelo de jogo.
Com maior ocupação de espaço no meio-campo, ora em formato de losango, com um primeiro volante, dois homens saindo pelos lados e um meia armador, ora formando um quadrado, o time rubro-negro ganhou segurança, protegeu a zaga, se tornou competitivo e entrou na disputa do Campeonato.
No novo modelo adotado por Jair, o Sport passou a valorizar o perde pressiona no campo ofensivo, ganhou circulação de bola e agora valoriza as viradas de jogo para sair da zona de pressão, passou a ser mais cuidadoso no contra-ataque, valorizando aproximações e diminuindo os erros de passe.
Nesse início de trabalho, o novo técnico rubro-negro conseguiu algo imprevisível.
Jair Ventura vem de duas vitórias à frente do Sport — Foto: Marlon Costa/Pernambuco Press
Não foi surpreendente ver um Sport mais forte na marcação, com respostas imediatas ao estímulo defensivo, o histórico de Jair indicava essa possibilidade, mas foi inesperado ver o Sport diante do Goiás, na última rodada.
Apesar de não ter tido maior posse de bola, o Leão trocou mais passes que o adversário, sem ser burocrática. A equipe buscou espaço, foi gerando desconforto na marcação do Goiás com boa mobilidade na frente e maior índice de acerto de passes. Venceu por 2×1 com um jogo de construção, mostrando que pode evoluir nas diversas fases do jogo e se adaptar ao que vier pela frente.
É claro que é preciso ressaltar o pouco tempo de trabalho e deixar aberta a possibilidade de oscilações naturais de um processo de reconstrução.
É possível (e por vezes até esperado) que hajam descompassos iniciais e rendimentos ruins pelo caminho, mas o começo desse trabalho apresenta potencialidades bem interessantes.
Esse clássico já nasce cercado de expectativas, pelo duelo em campo, mas sobretudo pelo confronto de dois treinadores que apontam para o futuro valorizando conceitos e contribuindo para um jogo moderno. (Globo Esporte)