Muitas pessoas consideram o oito de março apenas como uma data de homenagens às mulheres, de dar presentes, flores, bombons, cafés da manhã, viagens e outros mimos. Nada contra os mimos neste dia, mas essa data tem objetivos muito maiores e lembrando também que a realidade das mulheres pelo mundo continua desigual, portanto nem todas as mulheres, embora todas fossem merecedoras de mimos, carinhos e homenagens de afetos e gratidão, são poucas as que têm acesso a isso.

O 8 de março tem trajetória histórica e reflete a luta das mulheres por direitos.

Diferente das outras datas comemorativas, o dia oito de março não foi criado pelo Comércio e tem raízes históricas mais profundas e sérias. Uma campanha iniciada por mulheres dentro do movimento socialista e de trabalhadores para exigir seus direitos, pois suas condições de trabalho naquele tempo eram piores que as dos homens.

Para lembrarmos esta data é muito comum relacionarmos ao evento ocorrido em Nova York no dia 25 de março de 1911, onde um incêndio de grandes proporções atingiu a fabrica têxtil Triangle Shirtwaist Company e cerca de 146 trabalhadores morreram, dentre os quais 125 eram mulheres e na sua maioria de origem Judéia, após trazer a tona às más condições de trabalho enfrentadas pelas mulheres na revolução industrial.

Mas este não foi um dos únicos acontecimentos que motivou o dia Internacional da mulher, pois há registros anteriores a este de outros eventos ocorridos que trazem referência as reivindicações das mulheres para que houvesse um momento dedicado as suas causas dentro do movimento de trabalhadores.

Em 26 de fevereiro de 1909, registra-se uma grande passeata de mulheres em Nova York. Neste dia, umas 15 mil mulheres foram às ruas protestar por melhores condições de trabalho. Na época a jornada de trabalho das mulheres era muito extensa e intensa, inclusive com trabalhos aos domingos, os salários eram menores que os dos trabalhadores homens mesmo tendo carga horária e responsabilidades compatíveis, o ambiente de trabalho era totalmente inadequado para as mulheres e ficava a cargo delas a limpeza do local, e outras situações que infelizmente persistem até os dias de hoje como: o assédio moral, sexual, a discriminação de gênero, a violência e outros.

E assim, também crescia na Europa o movimento das fábricas. Em 1910, a alemã Clara Zetkin propôs, em reunião da Segunda Conferência Internacional das Mulheres Socialistas a criação de uma jornada de manifestações na agenda do movimento Sindical e Socialista dedicado as questões das mulheres.

Em 1913, nos EUA, mulheres foram às ruas protestar pelo direito de votar e em diversos países houve registros de eventos de diversos cunhos protagonizados pelas mulheres na reivindicação de seus direitos que obviamente são importantes no processo histórico da criação do dia Internacional das Mulheres oficializado pelo ONU em 8 de março de 1975 como um marco que reflete a luta de gênero.

Portanto este dia tem uma importância histórica porque levantou um problema que não foi resolvido até hoje. A desigualdade de gênero ainda existe, a violência doméstica e familiar, os estupros, inclusive estupros coletivos, os ataques e a negação dos direitos sexuais e reprodutivos, os assédios no ambiente de trabalho, a disparidade salarial entre homens e mulheres, a responsabilização dos papéis sociais, haja vista que atualmente a maioria dos lares é chefiada por mulheres. A desigualdade na ocupação dos espaços de poder, principalmente nos espaços de representação política e no serviço público como nos plenos de Tribunais, onde homens são a maioria e mulheres, especialmente as negras, quase inexistem. A perseguição política sofrida pelas mulheres, em especial as mulheres negras cuja luta por direitos tem ainda raízes mais profundas, pois elas sofrem além do preconceito de gênero, o racismo e a pobreza, então sua jornada de manifestação é muito mais extensa.

Vivenciamos hoje o avanço do feminicídio e a assustadora violência doméstica e familiar contra as mulheres mesmo em pleno exercício da Lei da Maria da Penha, outro marco histórico na luta das mulheres. A falta de políticas publicas de enfrentamento  à violência e a desigualdade de gênero tão importantes para a efetivação dos direitos. Por fim, é importante ressaltar que são grandes as barreiras que nós mulheres ainda enfrentamos nos dias atuais no acesso aos nossos direitos. Isso me faz na condição de mulher negra, mãe solo, trabalhadora, e ativista nesta luta feminista trazer essas reflexões como forma de contribuir para um pensar coletivo sobre o dia 8 de março e dizer que a luta das mulheres negras por direitos é também uma luta racial.

Flores sim, mas principalmente reconhecimento e respeito aos nossos direitos.

*VERA LÚCIA MORAES DE OLIVEIRA  é mulher negra, mãe, avó, Sul-mato-grossense, ex- líder comunitária é Servidora Publica da UNEMAT, Graduada em Serviço Social pela UNIVAG, membro do CEPIR-MT, membro-convidada da Comissão de Defesa da Igualdade Racial da OAB/Cáceres/MT, Colaboradora do Coletivo de Mulheres Negras de Cáceres/MT e membro do Projeto Observatório de Politicas Publicas sobre a Covid-19 para Povos e Comunidades Tradicionais da UNEMAT.

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