O azeite era um produto fundamental na cultura romana para além do aspecto culinário. Usado para higiene pessoal, medicamento, combustível de iluminação e até demonstração de poder, o condimento era considerado um “superalimento” e sua produção distribuía-se em larga escala pelo Império.
Estruturas antigas ligadas à produção do óleo continuam a ser descobertas pela extensão do que antes foi um dos maiores impérios da história. É o caso da atual missão arqueológica internacional na região de Kasserine, na Tunísia. Próximo à fronteira com a Argélia, o local abriga o que parece ser o segundo maior complexo de produção de azeite de toda a Roma Antiga.
Segundo comunicado da Universidade Ca’ Foscari de Veneza, envolvida nas escavações, duas grandes torcularias – instalações de prensagem de azeitonas – foram identificadas na área da antiga cidade romana de Cillium, e estiveram em funcionamento entre o século 3 e 6 d. C.
Empreendimento para o Império
As condições climáticas do extremo norte da África tornavam a montanha Jebel Semmama, em Kasserine, o lugar ideal para a instalação de fazendas de oliveiras. Com o desenvolvimento da atividade agrícola extremamente lucrativa na região, a Tunísia passou a ser o principal fornecedor de azeite para Roma. A efervescência econômica lá fazia com que centros comerciais e encontros de autoridades locais fossem comuns.
O sítio Henchir el Begar, um dos principais nos trabalhos de escavações, reflete bem a extensão da escala de produção de azeite em suas ruínas. Antes uma grande propriedade rural pertencente ao senador romano do século 2 d. C., o local é dividido em dois setores: Hr Begar 1 e Hr Begar 2, ambos abastecidos com prensas e cisternas para coleta de água.
/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_fde5cd494fb04473a83fa5fd57ad4542/internal_photos/bs/2025/u/r/AJXtfATFeooV90BId4Zg/image3.png)
Enquanto Hr Begar 2 abriga uma torcularia com oito prensas de azeitonas, Hr Begar 1 tem um complexo com um total de 12 prensas, sendo essa a maior torcularia de óleo romano da Tunísia e segunda maior do Império Romano.
“Numerosas mós e pedras de moinho foram encontradas na superfície, evidenciando uma produção mista de cereais e óleo e demonstrando o duplo propósito agrícola do sítio”, complementa o comunicado.
/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_fde5cd494fb04473a83fa5fd57ad4542/internal_photos/bs/2025/W/r/0n1nZPRGm8FAaH2MjLww/image1.png)
Produção através dos séculos
Outras descobertas feitas nos sítios arqueológicos envolve a complexa infraestrutura que existia ao redor da atividade comercial do azeite na região. Residências, estradas e artefatos antigos foram encontrados em camadas de solo que datam de diferentes épocas, da antiguidade romana até o período bizantino.
“Esclarecer a produção, o comércio e o transporte desse produto em tão larga escala representa uma oportunidade excepcional de unir pesquisa, valorização e desenvolvimento econômico, confirmando a importância da arqueologia como área de excelência em nossa universidade”, diz Luigi Sperti, diretor do Centro de Estudo de Arqueologia de Veneza (CeSAV), na Universidade Ca’ Foscari de Veneza, e que participa das escavações.
(Por Fernanda Zibordi)

