*Por Keka Werneck
Um. A vida da mulher é utilitária. Crescer, casar, cuidar da casa e do marido, ter filhos e ser responsável por eles. Mas, nas últimas décadas, tem tido ainda uma outra utilidade: pagar boletos. Sim, a maioria das mulheres faz tudo isso e ainda sustenta a família. O nome disso é acúmulo de funções, dupla, tripla jornadas.
Dois. Secundarizada e sobrecarregada, a mulher, esposa, mãe, trabalhadora, não tem tempo para si, o ócio, o lazer, para viver plenamente.
Três. A mulher larga em desvantagem o tempo todo, a cada sol. E essa desvantagem só aumenta com o passar dos anos.
Quatro. A vida da mulher é uma “carreira” curta, começa a ser questionada já aos 25, 30 anos. Sob pressão de ser bonita, se sente velha e começa a ver, onde nem tem, pancinha, peito caído e fios brancos.
Cinco. Com 40 anos a mulher é mais jovem do que aos 30, porque ainda guarda sinais da desejada juventude, no entanto já entrou no túnel da maturidade, então não fica de besteira, vai atrás do que quer. Porém aos 40, ela dá os últimos passos como uma mulher socialmente aceitável.
Seis. A mulher 50+ percebe uma queda corporal concreta e real. Sente pânico não propriamente de envelhecer, mas de ser inaceitável, desrcartável e não mais utilitária. Sim, nos acostumados a ser objetificadas, nos sentimos confortáveis em “dar conta de tudo”. Há uma romantização conveniente da mulher guerreira, da mulher maravilha.
Sete. Todos perdem preconizando o jovem e o frívolo. Mas a mulher é totalmente massacrada se não representa essas ícones e envelhece. No entanto, a essência feminina na maturidade é brilhante, sua sabedoria, força, espiritualidade, sua mente perspicaz e inteligente, suas emoções genuínas. A mulher madura é uma profissional experiente, competente, toma um drink para celebrar acertos e aceita bem os erros. Sexualmente, é segura e assertiva e sabe dar uma negativa sem culpa. Digo isso, sem qualquer exibicionismo.
Oito. No mês da mulher, não queremos flores, mas é porque as flores não podem ofuscar todo esse contexto massacrante. As flores são bonitas, são lindas. Mas não se trata disso e sim de exigir mudanças sociais por igualdade de gêneros.
Nove. Objetificada do jeito que ainda está, a mulher, e até mesmo a menina, é alvo de assédio, estupro, feminicídio, de quem se sente dono dela. Ao ponto de uma criança engravidar e ser impedida de abortar, porque a vida do feto, sem que se saiba o gênero, já vale muito mais do que qualquer uma de nós.
Por fim, dez. É preciso dizer que somos muitas, diversas, cada uma a seu modo, inclusive as mulheres transgênero, e “a carne mais barata do mercado é a carne negra”, como cantou Elza Soares.
*Keka Werneck é jornalista, assessora de imprensa e parlamentar
Os artigos assinados são de responsabilidade dos autores e não refletem necessariamente a opinião do site de notícias Cuiabano News