Onze entre 10 mato-grossenses [cuiabanos] sabem, perfeitamente, que a ideia do VLT (o bondinho elétrico de pequena propulsão, inerente à circulação no centro plano de cidades europeias, portanto caro], foi concebida por aqui com único intuito de furtar. Sim, era até para furtar mesmo, mas era também para por o troço nos trilhos, funcionando.

Onze entre 11 mato-grossenses [cuiabanos] também sabem que oito entre dez dos que defendem com fervor o VLT está imerso numa rede estrondosa de corrupção, ou foi o alfa, ou foi cúmplice ou se beneficiou direta ou indiretamente da farra com o dinheiro público. Todos os oitos defensores renhidos gozam hoje de ‘gordura’ suficiente para uma vida de rei, sem problemas financeiros. E os trens parados.

Nas redes sociais que acompanho, gente condenada por corrupção e toda sorte de crimes financeiros,  ou que ainda respondem processo atulhado de provas postam, diariamente, defesas do VLT e justificativas para contrapor a ideia de troca de todo aquele monturo pelo BRT, mais barato, mais funcional e viável.

O VLT de nada valeu. Venderam à população a ideia de que pareceríamos com Toronto, Varsóvia, Berna, Coimbra  ou Zurique … O nosso VLT não andou e é ainda o retrato da profusão de gatunagem, acompanhada do canto da sereia que ainda entoa e continuamos a ouvir – e ler se não dermos um basta.

Construtores trapaceiros e defensores não insuspeitos se articulam para que as obras do VLT recomecem e a propina tenha continuidade, porque o mais importante é que recursos do contribuinte continuem sendo drenados, mesmo que indiretamente, agora com outro governo, para as suas contas. Trens encarrilados, rodando? Bem, isso é uma outra parte.

O VLT já tragou mais de R$ 1,3 bilhão nas obras carcomidas e no apetite voraz dos gatunos. O projeto não avançou nem 10% e o enxurro está ali à mercê das fraturas dos trilhos e base e das erosões naturais [sol, chuva e poeira]. Se por infelicidade a ideia do VLT vingar, meu bisneto vira tataravô e tudo continuará como está: com a mesma realidade e sentimento do nunca mais.

Mas, tudo bem: vamos pensar em continuar com a ideia do VLT.

Restaurando-se o pouco que está feito (da fachada do aeroporto até poucos metros do aeroporto), a tal obra seguiria toda a avenida da FEB até chegar à Prainha e toda sua extensão, retirando-se tudo que ali está. Ainda nesse trecho, será preciso escarificar tudo, desde o Ginásio do Colégio São Gonçalo, cruzando a Isaac Povoas, passando pela Avenida Mato Grosso, até pelo menos até a entrada da Clinica e Hospital Femina. Resta lembrar – e poucos falam isso – , que o asfalto em toda sua tangente  cobre o esgoto que corre no subterrâneo, pois nesses dois ou três quilômetros o rio foi canalizado.  Ainda que justifiquem que nesse trecho os trens subiriam um elevado, terão que construir bases e pilares de sustentação, onde o terreno ai não permite. Uma escavação se transformará em uma exibição desnecessária de fezes à céu aberto.

Além dos que ficaram mais ricos se apropriando do dinheiro público, quem ganhou até agora com essa ideia inviável e planejada do VLT? Ora, a primeira ação nociva foi acabar com a arborização de grande parte da cidade; a segunda, foi decretar a falência de dezenas de médias e pequenas empresas localizadas no traçado do projeto, incluindo a FEB; e, a terceira, foi criar um cenário de devastação na avenida da FEB e deixar os canteiros centrais como um píscinão abandonado por lomngos e longos metros, para citar apenas três malefícios. Lembremos de que todos falam apenas no tronco-norte do projeto. Nada falam do tronco sul, que ligaria o centro da cidade ao Coxipó.

Se o governo estadual tenciona mesmo criar o BRT, modelo rápido e organizado do transporte coletivo, como o que funciona em Bogotá (Colômbia), uma das cidades com melhores sistemas de transporte público do mundo, utilizando BRT, pode-se ter certeza de que o governo está na direção certa. O melhor é que o BRT, segundo projeto do governo, operaria com um sistema ecologicamente correto, com veículos elétricos, como trólebus.

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JORGE MACIEL é Jornalista em Cuiabá. Foi fundador e diretor da Revista do CarroMT.

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