Uma pesquisa publicada na revista Current Biology nesta quinta-feira (7) detalha os resultados de um estudo que sequenciou o DNA dos restos mortais encontrados em Pompeia. As evidências genéticas encontradas desafiam interpretações tradicionais dos arqueólogos, oferecendo novas e valiosas informações sobre os sexos e as relações familiares dos habitantes da antiga cidade.

erupção do Monte Vesúvio, em 79 d.C., é lembrada como uma das mais destruidoras da história. Pompéia se tornou um símbolo dessa tragédia, já que a erupção sepultou a cidade sob uma densa camada de cinzas que dizimou sua população, mas conservou a forma dos corpos nas últimas cenas de vida. Durante as escavações em Pompéia, gesso foi derramado nos vazios deixados pelas pessoas, criando mais de 80 moldes com os restos dos esqueletos.

Esta é a primeira vez que cientistas conseguiram extrair material genético dos restos humanos preservados nos moldes de gesso. Utilizando imagens de raio-x e tomografia computadorizada, foi possível obter essas amostras sem prejudicar os moldes. A partir dessa coleta, os pesquisadores conseguiram sequenciar o DNA encontrado e determinar a genética e o sexo de 14 indivíduos.

“Um exemplo notável é a descoberta de que um adulto usando uma pulseira de ouro e segurando uma criança, tradicionalmente interpretado como mãe e filho, era um adulto homem e uma criança não relacionados”, disse David Reich, pesquisador da Universidade Harvard, em comunicado. “Da mesma forma, um par de indivíduos que se pensava serem irmãs, ou mãe e filha, incluía pelo menos um homem genético. Essas descobertas desafiam as suposições tradicionais de gênero e familiares.”

As análises sugerem que interpretações baseadas em normas sociais modernas podem não ser ideais para retratar a história dos habitantes de Pompeia. A ausência de relação genética entre o homem e a criança encontrada com ele pode indicar que ambos tenham buscado e oferecido conforto um ao outro no momento final de suas vidas.

“Pode ser natural tentar ajudar uma criança pequena que está chorando e aterrorizada, mesmo que você não a conheça”, disse Alissa Mittnik, também da Universidade Harvard, em entrevista a revista Science. “O DNA mostra que o cenário mais óbvio e intuitivo para nós nem sempre é o que vale para a experiência vivida dessas pessoas.”

Também foi possível analisar a ancestralidade até identificar alguns traços físicos das vítimas, como a cor dos olhos e dos cabelos. Descobriu-se que os moradores de Pompeia descendiam principalmente de imigrantes recentes do Mediterrâneo Oriental e da Anatólia (atual Turquia). Os genes encontrados nos restos mortais eram similares aos observados em esqueletos de pessoas sepultadas em Roma na mesma época.

De acordo com os especialistas, as descobertas reforçam a necessidade de uma abordagem multidisciplinar em Pompeia, misturando conhecimentos de geneticistas e arqueólogos.” Eles destacam a importância de integrar dados genéticos com informações arqueológicas e históricas para evitar interpretações errôneas baseadas em suposições modernas”, afirma Mittnik. “Este estudo também ressalta a natureza diversa e cosmopolita da população de Pompéia, refletindo padrões mais amplos de mobilidade e troca cultural no Império Romano.”

(Redação Galileu)