Esquizofrenia, transtorno bipolar, depressão grave, síndrome borderline e tentativa de suicídio são exemplos de doenças mentais graves atendidas no Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) 3. Várzea Grande é o único município de Mato Grosso que tem essa unidade do Sistema Único de Saúde (SUS) que atende prioritariamente pessoas em intenso sofrimento psíquico decorrente de problemas mentais graves e persistentes.
Depois que a unidade foi criada em 18 de maio de 2023, no mês da luta antimanicomial, pessoas com transtornos mentais graves passaram a ter um local específico para o atendimento. A ideia era reduzir os casos de internação e trabalhar com o conceito de hospitalidade e o tratamento adequado com terapias e medicação.
No mundo pós-pandemia, os problemas de saúde mental se agravaram, porém, apesar de avanços, a saúde mental não é tratada com a mesma seriedade do que outras doenças com sintomas físicos mais evidentes. Muitos pacientes com depressão são julgados por falta de Deus, de oração, de religiosidade. Contudo, se alguém tem pressão alta ou diabetes, ninguém atribui essas doenças à falta de fé.
“Isso ocorre por ser uma coisa palpável. A diabetes, que você diagnostica por meio de exame de sangue, que mostra a alteração da glicemia, está ali e as pessoas conseguem ver. Mas os problemas de saúde mental não são vistos, por isso as pessoas o tratam como se ele não existisse, mas ele é muito real e está cada vez mais presente na sociedade. Existe muito preconceito e pouca compreensão, às vezes, do próprio paciente e dos seus familiares”, comentou a clínica geral com pós-graduação em psiquiatria, Jéssica Gomes Duailibe Barros.
Ainda há estigmas muito fortes de que os problemas de saúde mental se resolvem por meio da força de vontade do paciente, com Deus e atividade física. A médica diz ainda que as pessoas têm medo de serem taxadas como loucas. Contudo, como toda doença, elas têm tratamento e o trabalho realizado pela Prefeitura de Várzea Grande está ajudando a combater esse mal da sociedade moderna: as doenças mentais.
“A população é muito carente desse atendimento psiquiátrico, desse atendimento na saúde mental. É muito interessante isso aqui em Várzea Grande, de ter o CAPS 3 para poder dar esse suporte para a população. Eu não sou aqui do estado, já trabalhei em outros lugares e eu vejo a grande diferença desse acolhimento, do atendimento, de ter médicos todos os dias, uma equipe completa de psicólogos, assistente social, enfermeiros, grupos terapêuticos. Percebo que a população de Várzea Grande tem um bom atendimento na parte de saúde mental”.
A unidade atende de segunda a sexta-feira das 7h às 19 horas para o público. O CAPS 3 é porta aberta, ou seja, o paciente não precisa estar regulado, contudo, ele é indicado para casos mais graves das doenças e apenas aos moradores de Várzea Grande. Em média, são atendidas 100 pessoas diariamente.
No período noturno e aos fins de semana, a unidade atende apenas os hospitalizados que ficam até 7 dias na unidade. São dois quartos separados para homens e mulheres. Um deles tem duas camas e outro tem três leitos. Geralmente, quem fica na unidade está em situação de surto. O que difere o Caps do Centro Integrado de Assistência Psicossocial (Ciaps) Adauto Botelho em Cuiabá, pois não tem internação por mais dias. Neste caso, ele é regulado para a unidade estadual.
A psicóloga e coordenadora de saúde mental em Várzea Grande, Marisa Rodrigues, explica que parte dos pacientes são direcionados para a unidade após uma crise atendida na UPA ou no Pronto-Socorro. Após estabilizados, são encaminhados para a unidade para tratamento via os grupos terapêuticos com psicoterapia, aulas de pintura, de crochê, oficinas de dança, consulta com psiquiatra e sessões de terapia.
“Qualquer paciente de saúde mental grave pode nos buscar diretamente também, ele terá acolhimento pela equipe de enfermagem ou psicólogo, assistente social que fará a escuta e verá qual a demanda dessa pessoa. Mesmo os casos que não são atendidos por aqui, as pessoas não saem sem encaminhamento ou medicação, se necessário”, informou Marisa.
Os casos mais leves de saúde mental, como transtorno de ansiedade, pânico, luto, sofrimento pelo fim de um relacionamento, são atendidos pelo Centro de Especialidades Médicas, com acompanhamento psicológico e psiquiátrico na rede.
A equipe do CAPS 3 tem realizado capacitações junto aos profissionais das unidades básicas de saúde (UBS) para que eles possam fazer o acolhimento de maior qualidade para identificar os casos que são do CAPS 3 e os que devem ser encaminhados ao Centro de Especialidades para que o paciente não perca muito tempo.
O prefeito Kalil Baracat (MDB) comentou que o CAPS 3 foi uma das ações tomadas pela gestão municipal que reafirmou seu compromisso em apoiar as famílias que necessitam de atendimento psicossocial. Ele destacou ainda que a saúde pública é uma prioridade, por isso o serviço ofertado na unidade tem oficinas terapêuticas e materiais especializados, além da presença constante de médicos e equipes prontas para ajudar a população.
“Isso significa muito para as famílias de Várzea Grande que dependem desse tipo de atendimento. A saúde pública deve ser um recurso a serviço da população. O CAPS 3 proporciona um atendimento de qualidade às pessoas e eu fico muito feliz em poder apoiar as famílias que necessitam desse cuidado”.
O CAPS 3 funciona na Rua 24 de Maio, nº. 291, bairro Centro Sul. O horário de atendimento é de segunda a sexta-feira, das 7h às 19 horas.