O morador de Cuiabá já deve ter percebido a quantidade e a intensidade de obras para a criação de redes de esgoto pela cidade, a cargo da concessionária Águas Cuiabá. Entre abrir a vala, instalar a tubulação, tampar o buraco e pavimentar a rua escavada, o tempo resposta tem sido de no máximo 24 horas; ótimo; fazia uns 30 anos que a Capital não via tal agilidade em obras geralmente ‘esquecidas’ pelo poder público; porém houve uma falha na comunicação sobre a sequência desse tipo de obra: a ligação domiciliar, ou a conexão entre a rede instalada pela empresa e as casas e estabelecimentos comerciais.
O cidadão contribuinte talvez tenha passado despercebido, mas a partir de agora, com a rede instalada, caberá a ele (morador ou comerciante) fazer a ligação dos dejetos produzidos por ele à rede coletora. Isso mesmo. Será preciso contratar profissionais especialistas no assunto a fim de evitar transtornos, como uma ligação que venha afetar por exemplo, a rede de água. Em Várzea Grande, esta semana, uma moradora reclamou que a água potável chegou à casa dela, contaminada pelos dejetos de uma rede coletora; algo inadmissível nos dias de hoje.
Serão o proprietário da casa, do comércio ou os moradores do condomínio que arcarão com essa despesa, sim senhor; porém, já ouvi um comerciante dizer: “não vou mexer com isso agora”, afirmara, mesmo tendo a conexão na sua calçada, a dois metros da fachada do estabelecimento. Esse é o brasileiro…
A verdade é que o saneamento básico tardou em ser aplicado no Brasil, somente a partir dos anos 70 se investiu de forma mais acentuada. Em Mato Grosso, as últimas grandes obras do setor foram feitas na década de 1980, no governo de Júlio Campos, com o programa ‘As Águas Vão Rolar”; de lá pra cá, só arremedos de projetos que sequer foram concluídos, como a estação de tratamento de esgoto do Porto, que fica ao lado da área do Parque de Exposições. A construtora Mendes Júnior abandonou a obra e ninguém fez nada desde então.
O reconhecimento da importância de se cuidar do meio ambiente foi aumentando a cada década seguinte, influenciado em parte pelo aumento exponencial da vida urbana em detrimento da rural. O crescimento urbano da cidade ocorreu de modo desordenado, resultando na formação de bairros sem infra-estrutura e sem disponibilidade de serviços capazes de comportar a população. Com isso, os grandes centros urbanos concentram também os maiores problemas ambientais. O impacto dessa aceleração populacional acarretou em expor a precariedade das gestões urbanas.
Sistemas tornaram-se subdimensionados antes do previsto. Hoje os números do saneamento no Brasil ainda não são satisfatórios. Os recursos não são suficientes para cuidar da ampliação e manutenção. A cidade de Cuiabá não é diferente. Mas, o desafio de adensamento em números de ligações domiciliares de esgoto à rede é atual e desafiador. Qualquer residência habitada gera resíduo líquido que se não coletado e tratado pode ocasionar em impacto ambiental. Um meio ambiente equilibrado é ter acesso aos recursos disponíveis gerando satisfação sem comprometer a continuidade do ciclo. A coleta de esgoto domiciliar total ou muito próximo a isso aliada a utilização correta desta e alinhada com todo o sistema de saneamento básico (abastecimento de água potável, manejo de água pluvial, coleta e tratamento de esgoto, limpeza urbana e manejo de resíduos sólidos) poderá gerar um conforto à vida coletiva. A falta de colaboração da população tem ocasionado na transformação dos rios e córregos urbanos em valas de esgoto a céu aberto. O impacto disso pode ser camuflado com concreto, mas a consciência não.
*OLIVEIRA JÚNIOR é jornalista, repórter da TV Vila Real e editor de esporte do jornal A Gazeta
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