Entre centros de saúde, Upa’s e Unidades Básicas, Cuiabá possui cerca de 50 pontos de atendimento, todos descartados como locais da vacinação. Nacionalmente, a maioria dos 6.570 municípios brasileiros, que oferecem mais de 40 mil unidades referenciais para atender à população, também não utiliza esse agrupamento de unidades já instaladas, onde há espaço, refrigeradores, efetivo , proximidade e pouco mais de comodidade ao cidadão.

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Essa estrutura, aliás, é aquela mesma onde, se vacinavam [e se vacinam] em um único sábado ou em duas etapas de 16 a 95 milhões de crianças, jovens e adultos, no chamado “Dia D” da vacinação – dependendo do tipo de doença a ser combatida. O Brasil nunca foi referência mundial em sistema de saúde, como se supõe e se alardeia, mas em capacidade de cobertura vacinal, sempre foi destaque mundial.

Em se tratando de Cuiabá, estranhamente, a estrutura já existente para campanhas de vacinação efetivas não existe na cabeça da dona secretária Ozenira Felix, tampouco na do chefe Emanuel Pinheiro. Ambos, ou mais provavelmente o que termina mandando de fato, prefere[m] gastar com um aparato vacinal chic que requer tendas, estrutura elétrica e eletrônica, novos congeladores e refrigeradores, mesas, cadeiras – que são equipamentos e peças alugadas ou compradas de “amiguinhos e parceiros”, sim, aqueles  companheiros que em tempo de retração econômica merecem melhorar o saldo da conta às custas do sofrimento alheio.

Em falando de covid-19, até pouquíssimo tempo, a vacinação em Cuiabá acontecia em um único purgatório montado no longínquo Centro de Eventos do Pantanal, com invejável estrutura física, pouca funcionalidade e distante até 20 km de bairros mais extremos. Depois de pressão, imensas filas, revolta e insatisfação, ao  prefeito, na sua sabedoria, porém, clareou a  lâmpada do ‘Eureca!’ . Então, ele determinou a montagem de mais três ou quatro desses postos chic’s instalados para atender gente nos carros com condicionado. Agora a juíza Célia Vidotti, da Vara de Ações Civil e Popular, determinou nesta segunda-feira (19) que o município de Cuiabá providencie a abertura de, no mínimo, mais 10 locais. Ainda assim o cenário é e será o mesmo.

Além de desconhecer a capacidade instalada, na prática, ainda tem um portal criado pela prefeitura para cadastro de interessados na vacina que cria obstáculos desnecessários. Desenvolvido por designers certamente sem a noção que a urgência exige,  o cadastramento do paciente exige informar, além do nome, CPF, nome da mãe, cidade, estado, é preciso preencher campos de CEP, CNS, CNES (o que é isso?) da empresa em que trabalha,  o local da saúde (posto a que o bairro está incluso – etc etc etc). Se um desses campos não forem preenchidos,  o cadastramento não avança – trava.  O portal é bom, mas faltou abrir mais alguns campos para que o cidadão forneça se já fez o teste do pezinho, qual cor da casa da avó, se teve meningite A, B ou C, que tipo de esporte pratica ou praticou,  se tem unha encravada mau hálito, já xingou o vizinho ou em que ano perdeu a virgindade.

Ora, o IBGE mostra que 37% dos brasileiros não têm frequente acesso à internet, só 64% possuem smartphones e grande parte das pessoas humildes têm aparelhos celulares incompatíveis com versões e aplicativos modernos. Essas pessoas, porém, para quem usa o mote de administração “Cuidando da gente”, podem se dirigir, aí sim, para os centros de saúde onde um servidor faz esse trabalho – o cadastramento. Sem o celular e sem computador em casa, o pobre-coitado tem que ou ligar ou voltar ao posto quantas vezes for para checar se sua vacinação foi finalmente agendada. Confirmada a agenda, o desvalido seca, em pé, horas em filas intermináveis.

Como vale a sentença social em que pobre que se imploda, e pobreza nunca é quesito positivo, os bacanas, os que conseguiram comprar carro ou podem pagar taxis são contemplados pelas filas mais confortáveis dos ‘drive-thrus’ – e a pobretada nas filas.

No livro ‘Dois caminhos’, o escritor mineiro Fernando Sabino discorre sobre os caminhos mais fáceis e os mais difíceis da vida. O prefeito Emanuel e outros devem ter lido e escolhido a segunda opção.

Em vídeo corrente nas redes sociais, o jornalista Boris Casoy conta uma história muito antiga em que o rei consultou o assessor sobre a previsão do tempo. O assessor respondeu que não choveria, mas choveu. Molhada, sua graça questionou o erro e o assessor l respondeu que havia consultado seu burro na estribaria. Como o asno não murchou as orelhas, mantendo-as em pé, não choveria.  Ensopado, o rei mandou decapitar  o tal incompetente e pôs o animal no seu lugar. De lá para cá, são os burros que estão no comando.

Jorge Maciel é jornalista em Mato Grosso

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*JORGE CLÁUDIO MACIEL   é Jornalista em Cuiabá.  Foi fundador do e diretor da Revista do CarroMT.

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