A Anvisa autorizou o uso de vacina anticovid em crianças. Note que o verbo é autorizar, isto é, fica a critério dos pais imunizar ou não suas crianças. Aí o Bolsonaro, fulo da vida, chamou o Ministro Queiroga: “a Anvisa autoriza, mas eu proíbo, nenhum pai ou mãe poderá vacinar seus filhos, porque eu não quero; se vira para impedir”.
Qual é o ditador? A Anvisa que aprova, autoriza e sugere, ou o Bolsonaro que proíbe, condena e boicota? Se nossas crianças pegarem o vírus, já sabemos, o Presidente “não está nem aí” pra elas.
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Feito o desabafo vamos em frente.
A despeito do Bolsonaro, cerca de 66% das pessoas receberam duas doses, mas aí a campanha perdeu o ritmo. Algumas pessoas relaxaram por comodismo. Outras, entretanto, por ignorância inata ou adquirida, imitando as autoridades que combatem a imunização, recusam-se a receber a vacina.
Estes recalcitrantes, proclamando uma liberdade individual egoísta que a vida social em grupo não permite, fingem não saber que a recusa lhes traz um perigo pessoal, além de sério dano para o grupo ao qual pertencem. O risco próprio é matéria do seu livre arbítrio e eles podem decidir da forma que melhor entender. Mas, o dano coletivo diz respeito a toda a comunidade e ninguém tem o direito de expor vidas alheias, invocando liberdade pessoal.
Não é possível a sociedade submeter-se à teimosia de alguns pré-iluministas que desacreditam da ciência e desprezam o direito coletivo de prevenir-se de doenças através da mais que provada ferramenta que é a vacinação.
Estes precisam, já que por vontade própria não o fazem, serem obrigados a receber a injeção. Não que se vá pegá-los à unha para aplicar a dose, mas sim, criando legalmente condições que lhes dificultem a vida enquanto não se vacinam.
Bastam algumas medidas: exigir que as empresas só recebam os funcionários vacinados; não permitir o acesso ao comércio em geral de pessoas sem a atestado vacinal; impedir a matrícula na rede pública e privada de crianças cujos pais recusam a vacina. Além, claro, das que já estão em vigor como comprovação para voos, eventos esportivos e shows.
Entretanto, se por pressão desses negacionistas, as autoridades se recusarem a promulgar leis e decretos limitando a circulação deste pessoal, sugiro uma medida extrema: convencer estes insanos a procurarem o convívio somente com seus iguais, ou seja: Lé com Lé, Cré com Cré, como diz o ditado antigo.
Eles criariam um nicho de convívio onde donos de bares ou restaurante, por exemplo, adeptos do negacionismo, ofereceriam seus serviços para os não vacinados. Poderiam, inclusive, divulgar em faixas “Aqui você é livre, não precisa comprovar vacinação”
Será que os grupos anti-vacina, em nome da liberdade alardeada, frequentariam ambientes onde o risco de contaminação por falta da prevenção fosse maior? Penso que eles, egoisticamente, aproveitam o fato de a maioria se vacinar – o que diminui a circulação do vírus – para correr menor risco com a recusa.
Mas, é pouco provável que queiram frequentar um bar cheio de pessoas não imunizadas e sem máscaras, tal qual eles. Coerentes seriam os que topassem interagir cara a cara com os que condenam a vacinação.
Agora, se os refratários porventura acham arriscado relacionarem-se com os seus iguais, por que os vacinados deveriam fazê-lo?
*RENATO DE PAIVA PEREIRA é empresário e escritor em Mato Grosso.
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