Para o imperador Marco Aurélio, a realidade é moldada pela percepção de cada um. Assim, a verdade subjacente a cada fato é, essencialmente, uma particular forma de o assimilar.

Entendo não haver dúvida quanto à assertiva lançado pelo pensador romano. Existem muitas variáveis a considerar no momento da apreensão do objeto cognoscível. Cultura, inteligência, ideologia, religião, experiência, oportunidade, ambiente, são apenas algumas.

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Dessas citadas variáveis, pode-se destacar duas que, penso, seriam mais influenciadoras nesse processo todo – a cultura e a ideologia. É fácil chegar a essa conclusão, basta observar as redes sociais e as ‘manifestações políticas’ ultimamente.

Sim, o que menos importa é a verdade que se extrai dos fatos. O que mais importa é o sentimento ideológico e a moldura que se coloca na verdade, com maior ou menor ênfase de acordo com o grau cultural de cada ‘opinante’.

As ‘fake news’ andam descarrilhadas, já não se tem como dimensionar o propósito até da mentira. São lançadas diariamente, replicadas a gosto partidário.

O clássico embate sociológico tendo Marx e Durkheim de um lado e Max Weber de outro, sobre a modernidade, pendeu, indubitavelmente, para este último nos dias atuais. Os primeiros viam na modernidade ‘o lado da oportunidade’. Apesar de considerarem a era moderna (a objeção serve para a pós modernidade, considerando os que acreditam na chegada dela) como turbulenta, acreditavam que também trazia possibilidades benéficas para o ser humano.

O pensamento de Weber foi em sentido contrário. Via o mundo moderno de forma pessimista e paradoxal, em que o progresso material era obtido apenas à custa de uma expansão da burocracia que esmagava a criatividade e a autonomia individual (por Giddens, As Consequências da Modernidade, UNESP).

Realmente, quão paradoxal tem sido ‘as opiniões’ de internautas da web. Parece até que os idiotas ganharam espaço e passaram a ter voz (Umberto Eco)! Não há autonomia individual, de reflexão e pensamento crítico. As frases são lançadas de qualquer jeito, é um ‘apedrejamento de palavras’, Maria Madalena não seria salva.

Para onde anda a criatividade, a conexão das ideias com a verdade? Para onde?

No Breve Tratado, Espinosa pergunta e esclarece: ‘qual a vantagem tem um com sua verdade e qual prejuízo tem o outro com sua falsidade? … a verdade se faz clara pela verdade, isto é, por si mesma, mas a falsidade nunca é revelada ou indicada por si mesma… quem sonha pode pensar que está desperto; porém quem está desperto jamais pode pensar que sonha’ (Cap. XV).

Se sonha acordado, sonha fundamentado na cultura e ideologia; se sonha dormindo, enxerga a consciência e a inconsciência, boa ou má. Mas se sonha desarmado e atento, sonha amparado em tudo que a verdade lhe possa ensinar e, principalmente, desmistificar.

É por aí…

*GONÇALO ANTUNES DE BARROS NETO (SAÍTO)  é formado em Filosofia e Direito pela Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT); é da Academia Mato-Grossense de Magistrados (AMA), da Academia de Direito Constitucional (MT), poeta, professor universitário e juiz de Direito na Comarca de Cuiabá.

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